Produção industrial cai pela quarta vez seguida

Dias parados durante a Copa do Mundo, falta de confiança do investidor e juros altos são os motivos apontados

Escrito por Redação ,
Legenda: Fortemente sensível aos juros e ao crédito, a fabricação de bens duráveis, como a de automóveis, sofreu um tombo de 24,9% em junho último
Foto: Foto: Reuters

São Paulo/Rio. A parada forçada pela Copa do Mundo, os estoques em alta e a desconfiança do empresário levaram a indústria a acentuar sua crise em junho. No mês, a produção industrial recuou 1,4%, a quarta queda seguida no ano, segundo dados livres de afeitos sazonais divulgados pelo IBGE ontem. O resultado ainda veio um pouco melhor do que as previsões do mercado, que esperava queda entre 2% e 3%.

Na comparação com junho de 2013, indústria registrou recuo de 6,9%, no segundo pior resultado nessa comparação desde 2003, abaixo apenas de junho de 2009, quando houve queda de 10,7% durante a crise econômica mundial.

Na comparação com o mês imediatamente anterior, o setor já vinha de três quedas, nos meses de março, abril, maio, de, respectivamente, 0,7%, 0,5% e 0,8%, segundo dados revisados (para baixo).

Assim, o índice acumulado neste ano já soma uma queda de 2,6%, e em 12 meses, de 0,6%.

Cenário

O setor também é afetado por juros maiores, crédito restrito, inflação elevada e especialmente empresários com menos disposição de investir nesse ano.

O mercado de trabalho também tem mostrado sinais de arrefecimento, sem a entrada de mais mão de obra no mercado, tirando da população a disposição para consumir.

Julho promete baixa

O efeito da Copa do Mundo sobre a produção industrial deve persistir no mês de julho. Após a queda de 1,4% percebida, o resultado do mês passado também deve trazer uma desaceleração adicional provocada pelo evento esportivo. Os dados serão conhecidos no dia 02 de setembro.

"É claro que se tem um prolongamento do evento em si (a Copa terminou em 13 de julho). O que se tem de relatos é que algumas empresas ainda tiveram algum tipo de paralisação para esse mês. Mas para saber a influência disso no resultado, temos de esperar todas as informações", afirmou o gerente da Coordenação da Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), André Macedo.

"É claro que se tem ali ainda alguns dias de redução de trabalho para alguns setores", acrescentou o gerente.

Queda em 18 segmentos

Dos 24 ramos acompanhados pelo IBGE mensalmente, a indústria perdeu produção em 18 no mês de junho. Fortemente sensível à taxa de juros e ao crédito, o setor da indústria que produz bens duráveis (como automóveis) levou um forte tombo e recuou 24,9% em sua produção frente ao mês anterior. Na comparação com junho do ano passado, a queda é de 34,3%.

Segmento mais sensível ao humor do empresário para investir, o setor de bens de capital, que produz máquinas e equipamentos, caiu 9,7%, na comparação com maio e 21,1% na comparação com junho de 2013.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Medidas no 2º semestre devem compensar

A situação da indústria nacional e do Estado do Ceará é muito semelhante. Temos um quadro de preocupação do empresariado com os rumos da economia brasileira por conta da inflação não dominada e juros mais altos.

O governo também reduziu e não estava dando velocidade aos investimentos, tanto que as obras da Copa do Mundo foram adiadas. Tivemos algumas paradas em obras como o VLT (Veículo Leve Sobre os Trilhos), que afeta a construção civil e outros segmentos da indústria. Diante disso, devemos ter no Ceará um crescimento baixo para junho ou até queda.

Esperamos que a partir de agosto, com as novas medidas do governo federal - como a de liberar os compulsórios dos bancos, ou seja, permitir mais investimento -, o segundo semestre deste ano seja melhor e compense a queda do primeiro.

Lima Matos
Economista da Federação das Indústrias do CE

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