Preservação no Nordeste ganha apoio

Ações de proteção incluem identificação das áreas de ocorrência e criação de unidades de conservação

Escrito por Redação ,
Legenda: Apesar dos olhos voltados ao "Fuleco", nome atribuído ao tatu-bola, a avaliação da Instituição é que foi pouca a atenção dada à situação de vulnerabilidade a que o animal está exposto
Foto: Foto: FABIO COLOMBINI / Fundação O Boticário

Com estimativa de cerca de 50% de seu habitat natural perdido pela degradação ambiental, o tatu-bola-do-Nordeste (Tolypeutes tricinctus), espécie de mamífero encontrada nas regiões da Caatinga e parte do Cerrado brasileiro, segue em sério risco de extinção, já tendo alcançado o status de "em perigo" na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da Fauna, elaborada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Na tentativa de conter esta ameaça, a Associação Caatinga, que já vem trabalhando em prol da preservação do animal, passou a contar com apoio da Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza.

A Associação, com sede em Fortaleza, foi selecionada, em junho desde ano, e contará com patrocínio durante quatro anos para o Programa de Conservação do Tatu-bola. Por meio deste, a Instituição tem como objetivo reduzir o sério risco de extinção da espécie por meio de ações prioritárias do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Tatu-Bola (PAN Tatu-Bola), conforme a Portaria Federal Nº 56/2014. As ações incluem a identificação de áreas de ocorrência, criação de novas Unidades de Conservação (UCs) e atividades de Educação Ambiental.

Para chamar atenção para o problema, a Associação Caatinga promoveu campanhas em 2012 e entrou em contato com a Federação Internacional de Futebol (Fifa), conseguindo lançar o mamífero como mascote da Copa do Mundo de Futebol, realizada no Brasil, no ano passado. Apesar dos olhos voltados ao "Fuleco", nome atribuído ao tatu-bola, a avaliação da Instituição é que foi pouca a atenção dada à situação de vulnerabilidade a que o animal está exposto.

Rodrigo Castro, biólogo e coordenador geral da Associação Caatinga, afirma que a intenção com a visibilidade trazida à espécie visa, também, chamar atenção da sociedade para a degradação da Caatinga, principal fator contribuinte para seu fim.

Reprodução

"Estamos muito preocupados com as áreas de ocorrência e a distribuição dele, que têm sido reduzidas por causa do desmatamento e vamos identificando o nível de ameaça nessas áreas. Em tese, a espécie é encontrada na Bahia passando por todos os Estados do Nordeste, mas a Caatinga já tem mais de 60% de sua superfície desmatada. Então a maior concentração está, hoje, no Piauí", diz. O biólogo explica, também, que a degradação ambiental é prejudicial à reprodução da espécie, já que reduz a conexão entre as áreas e isola as populações: "A redução do espaço de vida e o estresse, atrelados a condições inadequadas de alimentação e reprodução levam à baixa da taxa de natalidade".

Além das ações de combate ao desmatamento, Rodrigo destaca trabalhar, também, na vertente da sensibilização e Educação Ambiental com as comunidades residentes nas áreas de ocorrência do tatu-bola. "Temos esse viés educativo explicando a essas pessoas que não se deve caçar animais silvestres e vamos, ainda, promover a criação de novas áreas protegidas nesses locais", destaca.

Para ele, a não preservação de áreas ambientais pode acarretar problemas ainda mais graves, como a escassez de recursos naturais, a exemplo da água, já que, segundo ressalta, a produção nas nascentes depende de um meio ambiente preservado. "O desmatamento está diretamente ligado à segurança hídrica nos grandes centros urbanos. Proteger as espécies em seu habitat é preservar todos os benefícios atrelados a essa proteção".

Apoio

Além do Ceará, outras seis pesquisas, em Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte receberão, juntas, o total de R$ 908 mil da Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza para iniciativas de conservação da natureza. A Fundação investirá, no total, 2,3 milhões em 17 novas iniciativas no Brasil. As pesquisas foram selecionadas por meio de duas chamadas públicas e contarão com o apoio a partir do segundo semestre deste ano. Entre os projetos apoiados, 14 terão duração de até 24 meses e outras três, com status de programas, se estenderão por 48 meses, como no caso do Programa de Conservação do Tatu-Bola.

Desde a sua criação, há 25 anos, a Fundação apoiou 1.439 iniciativas de conservação da biodiversidade, pertencentes a 482 instituições em todo o Brasil. Por meio disso, cerca de 500 Unidades de Conservação já foram beneficiadas, assim como 240 espécies em risco de extinção.

Fique por dentro

Espécie distinta é encontrada no Centro-Oeste

Além do tatu-bola-do-Nordeste, existe outra espécie no Brasil, do gênero Tolypeutes, encontrada na região do Centro-Oeste. Trata-se do Talypeutes matacus, presente em áreas do Cerrado, no Pantanal, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Além de reduzir o risco de extinção do tipo tricinctus, o PAN Tatu-Bola quer ampliar o conhecimento sobre a espécie matacus para avaliar de forma adequada seu atual estado de conservação.

Os tatus-bola, com peso variando entre 1kg e 1,8kg, são os menores e menos conhecidos tatus do País. A espécie, que habita o Nordeste e parte do Cerrado, no entanto, é encontrada somente no Brasil. As duas espécies possuem três cintas móveis na região média do dorso, permitindo curvar sua carapaça para ficar no formato de uma bola e, assim, se proteger contra predadores naturais.

Mais Informações:

Associação Caatinga
Rua Cláudio Manuel Dias Leite, 50
Guararapes, Fortaleza - CE
Fone: (85) 3241-0759

Renato Bezerra
Repórter

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