Preocupado com o PIB, BC libera R$ 45 bi para crédito

Instituição financeira anunciou ontem uma série de medidas para tentar dar um novo ritmo à economia

Escrito por Redação ,
Legenda: A decisão do BC afeta, principalmente, o crédito ao consumo. Há medidas para incentivar o financiamento de veículos e motos
Foto: Foto: Waleska Santiago

Brasília. O Banco Central (BC) anunciou ontem uma série de medidas para estimular o crédito. No total, R$ 45 bilhões devem ser injetados na economia. A liberação dos recursos, porém, dependerá da vontade dos bancos de emprestar. Nesta sexta-feira, o total de crédito na economia era de quase R$ 3 trilhões.

A decisão do BC afeta, principalmente, o crédito ao consumo. Há medidas adicionais, por exemplo, para incentivar o financiamento de veículos e motos, mas que também dependem do apetite do sistema financeiro por esses tipos de negócios.

O BC disse que as mudanças, anunciadas um dia após a instituição afirmar que não vai cortar os juros por causa da desaceleração econômica, não alteram suas projeções para a inflação.

Depósitos compulsórios

Do valor a ser liberado, R$ 30 bilhões se referem aos depósitos compulsórios sobre recursos a prazo. O BC decidiu permitir que até 50% do recolhimento compulsório relativo a depósito a prazo sejam cumpridos com operações de crédito, na contratação de novas operações e na compra de carteiras diversificadas. O dinheiro poderá ser utilizado por grandes bancos para comprar operações de crédito de instituições menores. Se preferirem, as instituições de maior porte também podem usar os recursos diretamente para empréstimos ao consumidor em negócios com veículos e motos. O número de bancos de menor porte que podem vender carteiras foi ampliado pelo BC de 58 para 134.

O depósito compulsório é um dos instrumentos que o BC usa para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. O mecanismo influencia o crédito disponível e as taxas de juros cobradas. Por meio desse mecanismo, os bancos são obrigados a depositar em uma conta no BC parte dos recursos captados dos seus clientes nos depósitos à vista, a prazo ou poupança.

Quando reduz o compulsório, o BC dá aos bancos mais dinheiro para emprestar aos seus clientes. Isso pode ajudar a reduzir os juros bancários ou, em momentos escassez, impedir que sequem as fontes de crédito para consumidor e empresas.

Para investimentos

O BC também vai permitir que um número maior de bancos utilize 20% do compulsório sobre depósitos a vista para fazer empréstimos dentro do PSI (Programa de Sustentação do Investimento), linha de crédito criada na crise 2008 para financiar a produção com juros mais baixos. Essa medida tem impacto de mais R$ 200 milhões.

Consumo

O governo também mudou regras para estimular empréstimos acima de cinco anos (60 meses) ao consumo. Para isso, decidiu que o capital que os bancos precisam ter para cobrir essas operações mais longas pode cair de acordo com o pagamento de prestações.

A medida libera outros R$ 10 bilhões. Atualmente, um empréstimo acima desse período exige do banco o dobro de capital até a quitação da operação. Agora, com as mudanças, a exigência cai quando o número de prestações a vencer for menor que 60 meses.

Essa medida pode ter impacto, principalmente, no crédito automotivo e consignado, embora, se direcionada, pode atingir todo o crédito de consumo.

MPEs

Por fim, o BC vai estimular empréstimos a pequenas empresas (até R$ 3,6 milhões de faturamento bruto anual), com impacto estimado de R$ 5 bilhões. Hoje, a exigência de capital praticamente inviabiliza que o banco empreste mais de R$ 600 mil para uma mesma empresa. O estímulo visa esticar esse limite para R$ 1,5 milhão.

O chefe do Departamento de Normas do Banco Central, Sérgio Odilon dos Anjos, afirmou que a instituição está revisando medidas adotadas no fim de 2010, quando os riscos no mercado crédito eram maiores.

Na última quinta-feira, o BC afirmou na ata do Copom que, após anos em forte expansão, arrefecida com a introdução das medidas macroprudenciais de 2010, o mercado de crédito voltado ao consumo passou por uma moderação.

"Nos últimos trimestres observaram-se, de um lado, redução de exposição por parte de bancos, de outro, desalavancagem das famílias", afirmou. "Portanto, infere-se que os riscos no segmento de crédito ao consumo vêm sendo mitigados", disse.

Inflação não deve ser impactada

Brasília. As medidas anunciadas ontem, liberando recursos para os bancos emprestarem a empresas e famílias, não alteram as projeções de inflação do BC. Esse posicionamento foi divulgado pela autarquia como resposta a jornalistas que questionaram se as medidas iriam em sentido contrário à estratégia de controle da inflação.

"O banco acabou de divulgar a ata (da última reunião do Comitê de Política Monetária - Copom do BC), da qual consta a descrição do cenário para a inflação. Além disso, cabe destacar que, como está claro na ata, neste cenário, leva-se em conta a evolução esperada para o mercado de crédito. Em suma, essas medidas em nada alteram as projeções de inflação do Banco Central do Brasil", diz a nota divulgada pela instituição.

Selic

No último dia 16, o Copom optou por manter a Selic (taxa básica de juros da economia) em 11% ao ano, pela segunda vez seguida, após a taxa ter passado por um ciclo de nove altas consecutivas para conter a inflação. Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso gera reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao manter a Selic, o comitê indica que elevações anteriores foram suficientes para controlar a inflação.

A ata da última reunião do Copom foi divulgada na última quinta-feira pelo BC. No documento, a instituição diz que espera por expansão moderada do crédito no País. Para o comitê, o crédito voltado para o consumo passou por uma moderação, de modo que, nos últimos trimestres, houve redução de risco para os bancos e de endividamento das famílias. O Copom também avaliou que a inflação ainda deve manter-se resistente nos próximos trimestres, mas tende a convergir para a meta no futuro, se a Selic, não for reduzida.

Distribuição de recursos

As medidas anunciadas pelo BC também têm o objetivo de aperfeiçoar ações prudenciais relacionadas ao crédito e melhorar a distribuição de recursos (liquidez) na economia, segundo o chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro da autarquia, Sérgio Odilon.

Segundo ele, o impacto potencial de liberação de recursos com essa medida é R$ 10 bilhões, mas cada banco vai decidir se usa esses recursos liberados para oferecer novos empréstimos aos clientes, por exemplo. "É preciso aguardar o comportamento da demanda e dos bancos", diz.

Agora, na medida em que o cliente for fazendo os pagamentos, essa reserva obrigatória vai diminuindo. A nova regra vale para operações de até 60 meses.

O QUE ELES PENSAM

País sempre correndo atrás do prejuízo

Trata-se de uma medida necessária, que colabora para o sistema bancário e deve ajudar bastante na retomada do consumo, mas que também tem caráter limitado. Além disso, os benefícios, na minha opinião, ficam restritos ao capital de giro, não chegando aos investimentos. Vamos aguardar para ver como isso vai repercutir entres os empresários nos próximos meses, tendo em vista que o otimismo tem caído no País.
Alex Araújo
Economista

É uma pena o Brasil continuar apostando no consumo para crescer, enquanto poderia tomar medidas de longo prazo para fortalecer a economia. Sempre estamos correndo atrás do prejuízo, procurando medidas que possibilitem um avanço rápido, como a redução do IPI. O que acho é o seguinte: possibilitar que alguém troque de carro todo ano não vai fazer o País crescer.
Ênio Arêa Leão
Economista

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