Praças geram renda a 860 negócios e diversidade de opções aos clientes

Em tempos de dificuldades econômicas, empreendedores encontram nesses espaços oportunidades para crescer, fornecendo cada vez mais opções de consumo

Escrito por Murilo Viana - Repórter ,

Palcos de lazer e prática de exercícios físicos, as praças também são terreno fértil para negócios. Foi-se o tempo em que as vendas nesses logradouros se resumiam a itens como churrasco e pastel. Com barracas, trailers, cadeiras, bancos e mesas, vendedores servem produtos cada vez mais diversificados, que, além de comidas, incluem cosméticos, artesanatos e outros produtos. Apesar de a informalidade persistir, muitos dessas iniciativas já têm Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). 

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Hoje, as praças possuem cerca de 860 permissionários, isto é, empreendedores que têm permissão da Prefeitura para atuar nos espaços públicos com atividades formalizadas, de acordo com dados da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico (SDE). 

Um dos polos de maior efervescência desse cenário, a Praça do Lago Jacarey contém 55 permissionários, que vendem comidas, bijuterias, artesanato e outros tipos de produtos.

Fama 

Em meio ao movimento, chama a atenção um banner, com os dizeres “Cleo Perfumes”. Na tenda da aposentada Cleomar Muniz, 66, na verdade, são vendidas maquiagens nacionais e importadas, mas ela preferiu deixar o nome da época em que vendia o outro produto.

Dona Cleo já chegou a vender cosméticos debaixo de uma árvore, em frente à sede dos Correios, no Centro, mas hoje ostenta uma das mais conhecidas barracas do espaço. E não é só no Lago Jacarey que ela tem fama. 

feira

Ao lado da tenda de dona Cleo, Luizianne Miranda, 53, vende bonecos de gesso para pintura. A atividade custa pouco para o bolso dos clientes e atrai não apenas crianças, mas também os adultos

No Instagram – utilizado por ela para postar fotos e vídeos pessoais, ao lado de celebridades, e os produtos que ela vende – possui mais de 18 mil seguidores. Da estratégia de divulgação veio o retorno financeiro. Vendendo itens com preços que variam de R$ 5 a R$ 250, a empreendedora fatura cerca de R$ 8 mil por mês. Às 18h de uma quinta-feira, o movimento na tenda de dona Cleo é modesto, mas a empreendedora garante que há dias em que as clientes chegam a “fazer fila” para comprar as suas maquiagens.

História 

Cleomar Muniz foi funcionária dos Correios por 30 anos e se aposentou em 2001, mas não parou de trabalhar. “Passei dez anos na calçada dos Correios, no Centro, debaixo de uma árvore, vendendo cosméticos lá, de 2001 a 2011”, lembra. 

Com o marido desempregado, dois filhos para sustentar e a aposentadoria pouca (cerca de um salário mínimo), ela partiu para ampliar o negócio e conseguir montar uma tenda na praça, onde atua há cerca de seis anos, junto ao marido, a filha e a nora. Mas, no meio do caminho, dona Cleo teve de recomeçar praticamente do zero.

Dificuldades 

Em 2015, quando terminava as atividades no Lago, dois homens lhe levaram toda a mercadoria, avaliada, segundo ela, no valor entre R$ 80 mil e R$ 100 mil. “Eu fiquei só com três caixas de sabonetes”, recorda. Com a ajuda de empréstimos, conseguiu se restabelecer. Deixou de vender perfumes na barraca e passou a investir nas maquiagens. 

“Mulher não se conforma com batom, se conforma com cinco batons. E essa onda hoje da beleza está muito aflorada nas mulheres. Eu vendia mais, mas não vou dizer que a crise me abateu. Diminuiram as vendas, mas também diminuiram as minhas compras e ficou uma coisa pela outra. Antes eu vendia demais, então a rotatividade era grande”, diz. De quinta a domingo, começa a montar a tenda com a ajuda dos parentes por volta das 16h. O negócio funciona até as 22h. 

A mesma rotina de Cleomar Muniz tem Luizianne Miranda, 53, só que há mais tempo: oito anos. Luizianne começou a vender bonecos brancos de gesso no local pela necessidade de melhorar sua saúde.

“Eu comecei a trabalhar foi mais para que eu tivesse uma distração. Eu tive um problema muito grande de depressão e essa atividade aqui me ajudou muito. Antes eu era só dona de casa”, lembra ela. 

O negócio acabou se tornando o sustento dela. O sucesso se deve, principalmente, ao preço. Pintar um boneco de gesso é a diversão mais barata para quem vai ao Lago Jacarey.

“Eu senti uma diferença com a crise, mas não foi muito grande. Diminuiram um pouco as vendas, mas essa atividade minha aqui é o que tem de mais em conta. As peças variam de R$ 2 a R$ 5. As telas (para pintura) de arte são de R$ 10. Eu dou a tinta, o pincel, o aventalzinho. A criança pinta e leva a peça da casa”, explica Luizianne. 

Avanço 

As atividades da barraca, realizadas por ela e pela filha, levam a um faturamento de até R$ 4 mil por mês, diz a empreendedora, que vem ganhando um novo público. “De início, era só criança. Agora é criança e adulto”, comemora. Há boneco para todo gosto, incluindo princesas da Disney, personagens da Liga da Justiça e pokémons.

As esculturas de gesso de Luizianne já estão além de Fortaleza. Em sua pequena oficina, com três fabricantes de bonecos, são produzidas até mil peças por dia. “A gente já está mandando até para os interiores, como Itapipoca e Morada Nova. No interior, essa é uma atividade muito boa, muito lucrativa”. 

Como proceder

Capacitação e formalização

O empreendedor deve buscar a Sala do Empreendedor, na Secretaria Regional mais próxima, ou a unidade do Vapt Vupt em Messejana ou Antônio Bezerra. É preciso estar com documentos como CPF, RG e comprovante de endereço.

Atuação nas praças

O interessado deve buscar a Central de Acolhimento da Secretaria Regional da área onde pretende atuar. Os documentos exigidos são os seguintes: CNPJ, CPF, RG e certidão de casamento (casados) ou nascimento (solteiros).

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