Política do Mínimo é questionada

Escrito por Redação ,
Legenda: O ajuste de salário mínimo com base na inflação não parece sustentável a médio e longo prazo, na avaliação de Carl Dahlman, da OCDE
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São Paulo. Os ganhos reais dos salários vistos nos últimos anos e a fórmula de reajuste do salário mínimo terão de ser revistos para melhorar o potencial de crescimento do Brasil. A avaliação é do diretor de pesquisa global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Carl Dahlman.

"Não analisei o assunto com detalhes, mas é possível dizer que reajustar o salário mínimo pela inflação e o PIB de dois anos antes não parece ser sustentável no médio e longo prazos porque elevará o custo real da mão de obra muito rápido. Além disso, os aumentos salariais anuais, em geral, não deveriam ser maiores do que o crescimento médio anual na produtividade da mão de obra porque reduziriam a competitividade do Brasil", diz.

Na visão do pesquisador, que é também um dos principais autores do estudo Perspectivas do Desenvolvimento Global, além de investir mais e melhor em educação, o País deveria aproveitar os recursos obtidos com as exportações de commodities para diversificar e agregar valor à sua produção.

Também será preciso, segundo Dahlman, promover uma grande reforma no sistema previdenciário, que custa demais aos cofres públicos e acaba desviando investimentos que poderiam ser mais bem empregados. "Ou se encontra um jeito de a arrecadação ser capaz de pagar os benefícios, ou é preciso mudar para um sistema de previdência privada", acrescenta.

O aumento da expectativa de vida após a criação dos planos previdenciários, segundo o pesquisador, é um problema percebido também nos Estados Unidos e na Europa. "Elas (as pessoas) se aposentam após 25 anos de trabalho e ficam recebendo o benefício por 30, 40 anos. Assim, ou se eleva a idade de aposentadoria ou se reduz o valor das aposentadorias e outros benefícios, como plano de saúde. Mas isso é uma coisa socialmente muito difícil de fazer", afirma.

Protecionismo revisto

O especialista também aponta que medidas protecionistas podem ter gerado dependência em alguns setores e deveriam ser revistas. "Obviamente, quando se quer desenvolver um setor, pode-se dar algumas vantagens, como, por exemplo, a exigência de conteúdo local. A questão é se esse setor conseguirá produzir de maneira eficiente para que esse benefício temporário tenha resultados", pondera.

Se os produtores esperam que essa vantagem seja mantida, afirma o pesquisador, eles não vão melhorar a produtividade, terão custos maiores do que no exterior e isso afetará negativamente a competitividade do País e as projeções de crescimento. "Eu não estou dizendo que países como o Brasil não deveriam tentar desenvolver mecanismos para encorajar a produção doméstica, mas precisam ser cuidadosos para que essas medidas não criem um incentivo perverso de não melhorar a produtividade", atesta.

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