Piora cenário externo e dólar vai a R$ 3,90

A Turquia impôs sanções a produtos dos EUA e voltou a azedar mercado financeiro, gerando nervosismo

Escrito por Redação ,
Legenda: A retaliação turca sobretaxando produtos dos EUA voltou a azedar o humor dos investidores

São Paulo. Um novo episódio da disputa política e comercial entre Turquia e Estados Unidos mergulhou os principais mercados em novo dia de perdas e aumentou os temores de investidores com um eventual efeito da crise turca na desaceleração do crescimento econômico global. No Brasil, o dólar fechou em alta de 0,87%, para R$ 3,901.

Nessa quarta-feira (15), o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou a imposição de tarifas sobre carros, cigarros, álcool e outros produtos americanos, em retaliação a sanções recentes adotadas pelo governo do presidente americano Donald Trump. Na sexta, o republicano havia dobrado as tarifas sobre aço e alumínio importado da Turquia - as alíquotas subiram, respectivamente, para 50% e 20%. A retaliação turca é enxergada como simbólica, porque os valores são muito baixos comparados à guerra comercial que opõe Estados Unidos e China. Ainda assim, o governo turco tenta dar à disputa um tom de luta pela soberania do país contra um inimigo externo.

Bolsas globais reagem

As principais Bolsas globais reagiram ao aumento da aversão a risco e fecharam em baixa. O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, recuou 1,94%, para 77.077,99 pontos, puxado também por balanços fracos na área de educação, aponta Marco Tulli, da Coinvalores . Os indicadores americanos Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram, respectivamente, 0,54%, 0,76% e 1,23%. "É um processo econômico. A imposição de tarifas comerciais não traz vantagem a ninguém, não é positivo para o sentimento ou a tomada de risco em emergentes", diz Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs.

Das 24 moedas emergentes, 18 perderam força em relação à divisa americana. A lira turca, no entanto, liderou as valorizações, avançando 6%, no segundo dia consecutivo de alta, após chegar a cair mais de 8% no início da semana. No ano, a moeda ainda perde 36%.

O movimento de recuperação isolado da lira reflete em parte as medidas de liquidez que o banco central turco anunciou para sustentar a moeda.

"A Turquia está nessa situação porque, além das tarifas americanas, tem baixas reservas internacionais, inflação alta, déficit em conta corrente de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Já estava vulnerável, e as sanções do Trump foram o gatilho para agravar a crise", afirma Ramos

O economista avalia que o Brasil não está imune, mas tem uma resiliência em suas contas externas que outros emergentes não têm, como a Argentina e a África do Sul, por exemplo, cujas moedas têm sido duramente impactadas pelas turbulências turcas. O peso argentino recuou 2,21%, e o rand sul-africano, 1,81%.

William Jackson, economista para mercados emergentes da casa de análise Capital Economics, vê a piora do sentimento dos investidores como o pior impacto para o Brasil. Para a Turquia, as perspectivas não são nada boas. "Os custos de empréstimos subiram bastante, vamos ver por lá uma inflação de 20% e provavelmente a economia em recessão nos próximos trimestres", afirma. Cada vez que a lira turca se desvaloriza, empresas do país ficam um passo mais perto de enfrentar uma falência por não conseguirem pagar a dívida denominada em moeda estrangeira.

As turbulências também não perdoaram a moeda virtual bitcoin, que caiu abaixo dos US$ 6.000. Na sessão de ontem, porém, a criptomoeda recuperou parte do fôlego e fechou em alta de 5%, a US$ 6.374,87.

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