PIB brasileiro encolhe 0,6% no 2º trimestre e indica recessão técnica

Em relação ao segundo trimestre de 2013, a economia do País registrou uma retração de 0,9%

Escrito por Redação ,
Legenda: Do primeiro para o segundo trimestre, ditaram o tombo do Produto Interno Bruto (PIB) a indústria e os serviços, com quedas de 1,5% e 0,5%, respectivamente. Já a agropecuária teve leve alta de 0,2%

São Paulo/Fortaleza. Sob impacto negativo da Copa do Mundo, de redução do consumo das famílias e forte retração dos investimentos, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano. Em valor, o PIB do País somou R$ 1,271 trilhão. Em relação ao segundo trimestre de 2013, a economia do País encolheu em 0,9%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Como o resultado do primeiro trimestre foi revisado para queda de 0,2% (contra alta de 0,2% informado anteriormente), segundo parte dos economistas, o País entrou em recessão técnica. O termo, entretanto, é controverso. Alguns especialistas questionam a abordagem tradicional de considerar que a queda do PIB por dois trimestres seguidos configura recessão técnica. Eles argumentam que os dois recuos são pequenos e o desemprego no País é baixo.

É a primeira recessão técnica desde o fim de 2008, quando houve recuo de 3,9% no último trimestre daquele ano e de 1,6% no trimestre seguinte.

Contração x recessão

Para Silvia Matos, da FGV (Fundação Getulio Vargas), o fato de a economia contrair por dois trimestres não é necessariamente uma recessão, pois as taxas de queda são moderadas e o mercado de trabalho, já em desaceleração, não se mostra ainda em crise. Ela reconhece, porém, que muitos economistas avaliam o cenário como recessivo.

Segundo Rebecca Palis, gerente do IBGE responsável pelo PIB, as revisões são necessárias para aplicar o ajuste sazonal no PIB, o que permite a comparação com o trimestre anterior, excluindo efeitos típicos de cada período (como feriados fixos e maior volume de safra concentrada em um trimestre). Palis disse que é "preciso tomar cuidado" com taxas muito próximas a zero, como a do primeiro trimestre (revista de 0,2% para -0,2%), que pode voltar a ser positiva após nova revisão, nos cálculos do terceiro trimestre.

Pior que a previsão

Os resultados apresentados pelo IBGE foram piores que as previsões de mercado. A média das projeções de bancos e consultorias apontava para queda de 0,4% frente ao primeiro trimestre e de 0,5% na comparação com igual período de 2013, segundo pesquisa da Bloomberg.

Com o resultado do segundo trimestre, a economia brasileira acumula alta de 0,5% nos seis primeiros meses deste ano e caminha, segundo analistas, para fechar o ano com um crescimento de só 0,7% - se confirmada a projeção, será o pior desempenho desde 2009, quando a queda foi de 0,3%, verificada no auge da crise global. Nos últimos quatro trimestres encerrados em junho, o PIB soma uma alta de 1,4%. Do primeiro para o segundo trimestre, ditaram o tombo do PIB a indústria e os serviços, com quedas de 1,5% e 0,5%, respectivamente. A agropecuária teve leve alta de 0,2%.

Setores

O consumo das famílias, item de maior peso na composição do PIB, cresceu apenas 0,3%. Já os investimentos em máquinas para a produção, transporte, agropecuária, energia, entre outros, e em construção civil tiveram forte retração de 5,3%. Esse componente é tido como dos mais importantes do PIB, pois sinaliza o quanto a economia terá capacidade de crescer no futuro por meio do aumento da sua capacidade produtiva e da infraestrutura. Até mesmo o consumo do governo recuou 0,7%. Sob o prisma da produção, a indústria sente os reflexos do menor consumo (especialmente de bens de maior valor, como veículos) e a competição cada vez maior com produtos vindos do exterior. Serviços, que sustentavam o PIB, já mostraram contração na esteira da crise da indústria e do consumo dos lares do País.

Mantega culpa cenário internacional, seca e Copa

São Paulo/Rio. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, culpou o cenário internacional fraco, a seca e a Copa pelo resultado negativo da economia brasileira no segundo trimestre. O PIB do País caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano. Em valor, o PIB do país somou R$ 1,271 trilhão.

Em relação ao segundo trimestre de 2013, a economia do país encolheu em 0,9%. Os dados foram divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (29).

Um dia depois do governo divulgar previsão de alta de 3% para 2015, o ministro afirmou que o resultado do segundo trimestre "ficou aquém das nossas expectativas" e que a previsão de crescimento de 1,8% para este ano terá de ser revista.

Segundo ele, a revisão do número será apresentada em setembro ao Congresso. Economistas esperam crescimento fraco para este ano. O último boletim Focus, do Banco Central, mostra previsão de alta de apenas 0,7%.

Perspectiva

O ministro afirmou que vai ser preciso analisar não apenas o passado, mas também a perspectiva para o segundo semestre. Ele lembrou que, em doze meses, o crescimento anualizado do PIB é de 1,4%. A Argentina também foi citada como uma das causas do fraco desempenho no trimestre. "Exportamos menos carros para a Argentina e essa é uma das causas de estarmos crescendo menos", disse.

Apesar disso, ele disse que uma eventual ajuda do governo brasileiro para o país vizinho "não está na pauta". "A Argentina é nosso parceiro e nos reunimos com frequência", disse Mantega sobre o encontro com seu par argentino Axel Kicillof.

Retração

Para Silvia Matos, economista da FGV, a retração do PIB no segundo trimestre já era esperada. O efeito da Copa do Mundo, segundo ela, foi mais sentido em junho, no início da competição. Isso porque houve um acumulo maior de feriados excepcionais nas cidades-sede e dias de dispensa antecipada de trabalhadores. Com menos pessoas a produzir, a economia encolheu. "Uma estagnação ou uma pequena queda já era esperada, mas a Copa ajudou o resultado a ser um pouco pior".

Comércio

Conforme Mantega, há três frentes favoráveis de recuperação da economia no curto prazo: o avanço das vendas do comércio, aumento da produção da indústria e os investimentos de concessões públicas. "Com mais crédito, as perspectivas é de que teremos recuperação do comercio", comentou. "A indústria, por outro lado, está investindo. A indústria brasileira não vai desaparecer. Quando a economia voltar a crescer, a expansão industrial será maior", disse.

"O BNDES sinaliza que subiram as vendas de máquinas e equipamentos", acrescentou o ministro. "Tenho segurança que o investimento crescerá fortemente no Brasil", disse.

O QUE ELES PENSAM

Esgotado modelo do consumo

"Esse é um momento de extrema cautela, que o empresariado precisa estar atento e cobrar, do governo, atitudes importantes que possam reverter o quadro. A infraestrutura, por exemplo, precisa ser vista novamente, para voltarmos a ter produtividade. Isso e mais uma série de outras dificuldades que o Brasil enfrenta, está aliado ao problema da corrupção, que está se tornando sistemática. O governo é o responsável direto por essa situação que estamos vivendo porque, no passado, não aplicou as políticas macro e microeconômicas necessárias, e agora estamos sofrendo as consequências. E se não tivéssemos em um período eleitoral, o problema seria muito maior, porque, por exemplo, todos os preços administrados teriam sido liberados, e hoje a nossa defasagem de preço administrado é de 15%. Ao empresariado, digo que continuem com força para encarar essa verdade, precisamos dar nossa contribuição trabalhando. O momento é de observação, acredito que 2015 será um ano de muitos ajustes, e em 2016 teremos um retorno para o caminho da prosperidade"

Beto Studart
Presidente eleito da Fiec

"Isso é um sinal emblemático de que chegamos a um ponto chamado esgotamento, de um modelo muito baseado em consumo, em fazer as pessoas consumirem para a máquina girar. Mas esse é um modelo de curto prazo, todo mundo sabia que não duraria para sempre. A gente só deve ganhar mais e consumir quando tivermos mérito para isso, e esse modelo não tem estimulado as famílias e as empresas a produzirem mais ou se tornarem mais escolarizadas. Outro problema desse modelo esgotado é não olhar para a inflação como deveria, e isso vai corroendo aos poucos. Um caminho possível para resolver seria parar tudo e fazer uma grande reforma trabalhista, tributária e política, isso pode estimular as empresas a produzirem mais. Além disso, é preciso priorizar a educação, mas não da forma que os governos têm feito, apenas injetando dinheiro. É preciso mudar a mentalidade de como a educação é conduzida no País, isso tem que estar na raiz do ensino básico, com professores bons desde o berçário. Nenhuma economia conseguiu se reerguer sem pensar em cenários a longo prazo"

Paulo Matos
Professor de finanças do Caen/UFC

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