'País vive uma crise de confiança na economia'

A agência de classificação de riscos diz que a confiança dos empresários está abaixo da registrada em 2009

Escrito por Redação ,
Legenda: Entre os pontos baixos da economia brasileira que justificam a perspectiva negativa, a Moody's apontou que talvez o elo mais fraco seja a política fiscal

São Paulo. O vice-presidente da Moody's, Mauro Leos, disse ontem, durante a 16ª Conferência Anual da agência de classificação de risco, que existe, atualmente, uma crise de confiança no Brasil, já que o sentimento dos empresários está no nível mais baixo desde 2009, durante a crise financeira mundial. Isso é prejudicial para a economia, porque afeta diretamente o nível de investimentos, que vem caindo junto com a confiança.

Entre os pontos baixos da economia brasileira que justificam a perspectiva negativa da nota soberana, Leos disse que talvez o elo mais fraco seja a política fiscal. Ele explicou que a relação dívida bruta/PIB do País sempre foi elevada, mais alta do que os vizinhos da América Latina e de outros emergentes, incluindo com rating mais baixo do que o brasileiro. A relação entre encargo de juros/receita também é alta, perto de 15%. "Isso sempre foi assim, mas agora existe um fator novo", comentou, referindo-se à queda do superávit primário e ao crescimento do déficit em conta corrente nos últimos quatro anos.

Dívida pública

Leos apontou que a relação dívida bruta/PIB está subindo e deve ficar em 60,1% este ano, segundo as projeções da Moody's, atingindo patamares semelhantes aos de 2009 e 2003, após o nervosismo do mercado com a eleição de Lula, em 2002. "Há uma clara deterioração da dívida pública", comentou. O déficit nominal deve atingir 4,5% do PIB este ano.

O analista explicou que o crescimento médio do PIB brasileiro deve atingir 1,7% ao ano no mandato de Dilma Rousseff, bem abaixo da média de 4,6% no segundo mandato de Lula.

Crescimento e inflação

Leos considerou que o ano de 2015 não será tão diferente de 2014 em termos de crescimento e inflação no Brasil, independentemente de quem vencer as eleições presidenciais. No médio prazo, diz, as perspectivas para a economia brasileira dependem das condições iniciais do próximo governo, que são negativas, haja vista o atual cenário; a percepção do mercado em relação à nova administração; e as políticas econômicas adotadas pelo recém-empossado presidente.

Segundo Ele, destes três fatores talvez o mais importante sejam as políticas econômicas, já que elas poderiam superar as condições iniciais negativas e convencer o mercado. "As políticas são muito importantes em determinar a direção da economia e do rating", afirmou.

Ele comentou que, após rebaixar a perspectiva do rating brasileiro este mês, a Moody's deve tomar uma decisão sobre a nota em si, em um período de 12 a 18 meses, mas que o mais provável é que isso aconteça no primeiro trimestre de 2016. "Nós temos de ver quem vai ganhar a eleição e como de fato será o governo, então devemos esperar cerca de um ano", explicou.

"Se algo muito ruim acontecer" para a economia do Brasil, pode ocorrer uma revisão do rating do País, antes do primeiro trimestre de 2016. "Pode ser suficiente esperar 12 meses para reavaliar a perspectiva", destacou. "Se dados econômicos e fiscais estiverem em nível definido, podemos reavaliar", pondera Leos.

Avaliação não deve ser rebaixada, diz agência

São Paulo A agência de classificação de risco Moody's considera difícil rebaixar a avaliação de risco de crédito do Brasil em 2015, primeiro ano do novo governo. Isso considerando que não ocorra uma piora significativa dos indicadores. "Se for mais ou menos o cenário atual, independentemente de quem seja o próximo presidente, o mais provável é uma revisão até o primeiro trimestre de 2016. E não acreditamos que 2015 será muito diferente de 2014", afirmou ontem Mauro Leos, responsável pela análise de ratings de países da América Latina.

O rating do Brasil, hoje no nível Baa2 (considerado mediano), foi colocado em perspectiva negativa no início do mês para possível rebaixamento. Mesmo que seja rebaixado, o país ainda continua com grau de investimento, espécie de selo de bom pagador de sua dívida.

Normalmente, depois de ser colocado em perspectiva negativa, o rating - ou nota - é alterado em um prazo de 12 a 18 meses. Apenas em situações extremas a agência convoca um comitê com urgência para tomar uma decisão antecipada.

Caminhos parecidos

Para Leos, apesar de o mercado (clientes da Moody's) ter uma preferência pela candidata Marina Silva em relação à presidente Dilma Rousseff, as duas não representam caminhos tão diferentes para o País. Ele afirmou que independentemente de quem vencer tanto o mercado quando as agências de rating precisarão de algum tempo até entender o que é expectativa do que é realidade do novo governo.

"Claro que as expectativas são importantes, mas precisamos esperar os resultados das políticas. Dificilmente teremos mudanças significativas no primeiro ano de governo", disse. As agências de classificação de risco foram bastante criticadas durante a crise econômica global por não conseguirem prever o colapso das instituições envolvidas.

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