País precisa reinventar indústria da construção

Construtores cearenses surpreendem-se com casas pré-fabricadas no Japão e querem adaptar ao Brasil

Escrito por Redação ,
Legenda: Tempo de montagem de uma casa pré-fabricada pelo método japonês ZEMCH, que é de apenas oito horas, chamou a atenção dos empresários
Foto: FOTO: EGÍDIO SERPA

Toyohashi (Japão). Diante do que viram aqui ontem - várias carretas transportando módulos de casas prontas para os locais onde seriam instaladas em apenas oito horas - os construtores cearenses que integram a Missão Empresarial da Coopercon ao Japão concluíram: "O Brasil precisa cuidar de reinventar sua indústria da construção civil, e deve começar a fazê-lo agora", como fez questão de afirmar o presidente da entidade, engenheiro e empresário Marcos Novaes. "Temos de mudar, mas essa mudança será paulatina, de acordo com as oportunidades e as características do mercado brasileiro", opinaram Emanuel Capistrano, diretor de produção da Construtora Mota Machado, e José Gama, dono da Placic, que integram a missão.

O grupo cearense, que na véspera visitara a fábrica de casas da Sekisul House em Kakegawa, passou a quarta-feira na cidade de Toyohashi, 100 Km adiante. Pela manhã, noutra unidade da Sekisul, viu a operação de uma linha de montagem de casas igual à de uma indústria automobilística, com robôs e homens. À tarde, em Konam, mais 100 Km à frente, testemunhou a mesma coisa na Misawa Homes, com uma diferença: assistiu à fabricação de cada componente das casas, incluindo suas paredes de cimento e gesso com proteção acústica e térmica, a instalação elétrica, a pintura e o revestimento externo, feito com um tipo especial de cerâmica e cujo acabamento é sugerido pelo comprador do imóvel.

Em comum, as empresas japonesas que utilizam o método ZEMCH de customização em massa com zero de energia - a grande novidade da engenharia de construção civil que trouxe até aqui o grupo da Coopercon e outro de empresários, engenheiros e professores da Austrália e da Coreia do Sul - têm o desejo de oferecer um produto de alta qualidade, resistente a terremotos, durável (a garantia oferecida pela Sekisui vai até 60 anos) e de baixo custo.

O ZEMCH pode ser adaptado às condições brasileiras, mas para isso será necessário mudar paradigmas. Entusiasmado com a perspectiva que esse método abre para a construção civil do Brasil - o Ceará no meio -, o presidente da Coopercon, Marcos Novaes, anuncia que provocará "a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a Fiec, as universidades, os institutos de pesquisas, os grandes pensadores nacionais para que repliquem a iniciativa de sua Cooperativa e venham ao Japão para, in loco, conhecer o que ele considera "uma grande revolução no nosso setor".

Gargalos

Novaes, porém, aponta os gargalos que terão de ser superados no Brasil: "Os governos federal, estaduais e municipais - que têm a responsabilidade de fomentar a inovação tecnológica - precisam espancar a burocracia, eliminando-a ou reduzindo-a ao razoável, reduzir a carga tributária e as alíquotas do Imposto de Importação. Mas isso só será possível se quem cuida dessas áreas governamentais conhecerem, pessoalmente, as outras formas de engenharia, como a que estamos vendo aqui no Japão", fala.

Para os empresários da Missão Coopercon o conceito de pré-fabricação de casas, como o do ZEMCH, pode ser aplicado no Brasil em qualquer escala ou padrão. Criado para atender a uma faixa de renda alta da população japonesa, o que vem fazendo com sucesso, o ZEMCH - com as necessárias adaptações - pode ser a alternativa para o Minha Casa Minha Vida, programa do Governo brasileiro para zerar, em médio prazo, o déficit habitacional do País, estimado em sete milhões de residências.

Egídio Serpa*
Colunista

O jornalista viajou a convite da Coopercon-CE

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