País está em recessão; economia se retrai 1,9%

A retração foi não só mais intensa, como também disseminada. No acumulado do ano, a queda é de 2,1%

Escrito por Redação ,
Legenda: PIB brasileiro teve o pior 2º trimestre do PIB desde 1996, quando começou a série histórica do IBGE

Rio. O PIB (Produto Interno Bruto), medida da produção de bens e serviços do País, confirmou ontem o que famílias e empreendedores já perceberam em seu dia a dia: a economia brasileira está em recessão. O PIB teve queda de 1,9% no segundo trimestre, frente aos três primeiros meses do ano, para R$ 1,428 trilhão. Trata-se da segunda queda consecutiva do indicador, que recuou 0,7% no primeiro trimestre frente aos três meses anteriores - inicialmente, havia sido apontada uma queda bem menor, de 0,2%, mas o dado foi revisado. No acumulado do ano, a queda é de 2,1% frente ao mesmo período do ano passado.

> Famílias 'apertam o cinto' no consumo; serviços sentem

> Investimentos encolhem 8,1%

> Impostos caem 5,7% no 2º tri

> Desempenho é o pior entre emergentes

Intensidade

A retração foi não apenas mais intensa, como também disseminada. Do lado da demanda, os investimentos encolheram 8,1%, assim como o consumo das famílias (-2,1%) frente ao trimestre anterior. Já o consumo do governo surpreendeu com alta de 0,7%.

Do lado da oferta, indústria teve queda de 4,3% e serviços, de 0,7%. A economia teve assim o pior segundo trimestre do PIB desde 1996, quando teve início a série histórica do IBGE. E, considerando todos os trimestres, foi o pior resultado da economia brasileira desde o primeiro trimestre de 2009, quando o PIB brasileiro recuou 2,2%.

O cenário hostil é fruto dos desequilíbrios do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, como expansão de gastos públicos que, além de pressionar a inflação, exigiu uma mudança brusca de rota na política econômica, minando a confiança de empresários e consumidores.

Duas quedas seguidas

Com o resultado divulgado pelo IBGE, a economia do País se enquadra na chamada "recessão técnica", uma definição usada há década para definir duas quedas consecutivas do PIB. Economistas dizem, no entanto, que o Brasil vive uma recessão de fato.

Empobrecimento

Em outras palavras, houve empobrecimento geral no País: os empresários cortaram investimentos e as famílias estão consumindo ainda menos, efeito da piora do mercado de trabalho e redução da renda real. De quebra, o desgaste política do governo aumenta.

Um dado eloquente é que, na comparação com o mesmo período de 2014, a queda do PIB foi de 2,6% -a quinta taxa negativa consecutiva nesta comparação, a mais longa sequência da série histórica e bem abaixo da previsão de economistas consultados pela Bloomberg, de -2,1.%. No acumulado de quatro trimestres, o PIB cai 1,2%.

Ciclo longo

Para o Comitê de Ciclos Econômicos da FGV (Fundação Getulio Vargas), a recessão da economia brasileira se estende desde o segundo trimestre do ano passado, um dos ciclos mais longos da história recente. "Recessão é, pela teoria econômica, período de retração generalizada da atividade econômica. E isso está acontecendo na economia brasileira desde o segundo trimestre de 2014", disse o Paulo Picchetti, pesquisador do Ibre/FGV.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

É necessária a retomada do controle político
Alex Araújo
Economista

Esta queda já era prevista pelo mercado, não necessariamente nessa magnitude. Você tem uma baixa confiança de consumidores e empresários. A gente vem passando por um momento que combina inflação elevada, endividamento alto das famílias, e um cenário externo bastante adverso, com o agravamento da crise na China.

O próprio governo vem reduzindo o seu poder de consumo com o ajuste fiscal.

O momento necessita de uma retomada do controle político pelo governo. No curtíssimo prazo, a gente ainda não tenha essa sinalização mais clara de retomada do crescimento. Talvez no próximo ano, nós tenhamos aos poucos essa volta.

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