Setor agropecuário propõe 'seguro-seca'

Representantes da atividade dizem que iniciativa ajudaria a proteger o trabalho do campo no Nordeste

Escrito por Redação ,
Legenda: A escassez de água tem afetado as empresas no Ceará e em outros estados nordestinos. Conforme o presidente da Faec, Flávio Saboya, no ano passado, a fruticultura sofreu com a falta de água e demitiu trabalhadores
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

As dificuldades pelas quais passam as empresas do setor agropecuário no semiárido têm de ser encaradas com firmeza pelo próximo a assumir a Presidência da República, na avaliação de lideranças do setor. Os períodos de estiagem recorrentes e suas consequências sobre a oferta de água e sobre a alimentação dos rebanhos têm sido críticos para essas atividades, principalmente na região Nordeste.

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Na avaliação de Flávio Saboya, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), uma das principais demandas do setor a quem assumir o posto mais alto do País é a elaboração de um programa de desenvolvimento do semiárido nordestino. "São várias ações, entre as quais a criação de um seguro específico para proteger nossas atividades nos tempos de seca", explica o presidente Saboya.

Despesas

O chamado "seguro-seca", defendido há anos pela entidade, cobriria as despesas dos produtores com salários, parcelas do financiamento agrário e alimentação para os rebanhos, entre outros custos, quando não fosse possível produzir por conta da estiagem. "No ano passado, o governo suspendeu uma outorga de água que atingiu a irrigação da fruticultura no vale do rio Jaguaribe e no Apodi. As empresas tiveram que demitir mais de 1.500 famílias".

Oferta de água

Sem questionar a importância das medidas para garantir a oferta de água para o consumo humano, Saboya defende que o seguro daria sustentabilidade às atividades na região. "No caso de uma suspensão dessas, evitaria a demissão de milhares de funcionários e garantiria a disponibilidade de alimentos para o rebanho, além do pagamento da parcela do financiamento rural. Como pagar, se não teve produção?", argumenta o presidente.

Esse modelo, segundo Saboya, já é implementado no México e na Índia, com a garantia de recursos aos produtores para que possam enfrentar a estiagem. Para ser viabilizada, a medida precisaria de contribuições dos próprios produtores, do poder público e de uma empresa de seguros. "Já estive reunido a grandes seguradoras e chegamos a um dominador comum de que o governo precisa entrar também. Mas ele foge a essa responsabilidade", conta.

Ele ressalta que áreas consideradas inóspitas, como no deserto da Arábia Saudita, há grande produção de leite, maior até que no Canadá. "É possível termos uma agricultura sustentável no semiárido. Para se ter uma ideia, a produção de leite no Estado cresceu no período seco, o que é uma demonstração de que o Ceará tem potencial. Mas precisamos de políticas públicas que incentive a atividade pecuária na região", cobra.

Além do seguro, Saboya destaca mudanças na política de crédito entre as demandas do setor aos presidenciáveis. "No Ceará, temos em torno de 400 mil propriedades rurais, das quais somente 600 têm acima de mil hectares. Isso quer dizer que nós somos um Estado de pequenos. Temos que ter uma política direcionada para a pequena e a média produção no semiárido", diz.

Apresentação

Estas e outras propostas serão apresentadas oficialmente pelas lideranças do setor agropecuário aos candidatos à presidência no próximo dia 29. O presidente ressalta ainda que essas medidas são necessárias para garantir mais independência à região. "A coisa mais absurda é ficarmos dependentes de benesses políticas para resolver problemas que mundo afora já foram resolvidos", lamenta Saboya.

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