Desemprego ainda trava retomada da economia no País

Além desse desafio, Brasil também precisa superar a falta de investimentos para voltar a crescer

Escrito por Yohanna Pinheiro - Repórter ,
Legenda: Com o tempo que o mercado de trabalho leva para reagir a sinais de recuperação, o nível de desemprego deve continuar aumentando
Foto: Foto: Thiago Gaspar

Ao mesmo tempo em que alguns indicadores apontam para uma melhora do cenário econômico, muitos ainda são os que continuam a mostrar sinais de deterioração. O maior destaque é a taxa de desemprego, que atingiu no ano passado o maior patamar desde 2012, de 12%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e deve aumentar ainda mais.

LEIA MAIS:

.O pior já passou?

.Humor do empresariado e consumidor precisa mudar

De acordo com o pesquisador Leonardo de Carvalho, do Grupo de Estudos de Conjuntura (Gecon) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa elevada do desemprego aliada e rendimento médio contraído do trabalhador influenciam negativamente o poder de compra da população e, consequentemente, o consumo. "Com a demanda interna reprimida, não se pode falar em recuperação de investimentos, do comércio", aponta Carvalho.

Ele explica que o mercado de trabalho demora para reagir, seja em um processo de recuperação ou de deterioração da economia. "No início da crise, demorou um pouco para começar a demitir e, da mesma forma, deve demorar a começar a reagir a sinais de melhora. Essa variável ainda vai causar problemas em termos de consumo", pondera o pesquisador, destacando que a taxa deve seguir aumentando pelo menos no primeiro semestre.

Investimentos

A falta de investimentos é também um dos mais claros sinais negativos. Carvalho aponta que essa variável depende muito das expectativas dos empresários de uma melhora da atividade econômica, de forma que deve continuar em baixa enquanto não houverem sinais concretos de retorno do crescimento. "Essa decisão de investir vai continuar sendo postergada por algum tempo pelos empresários", diz. "Não temos ainda dados do PIB (Produto Interno Bruto) do 4º trimestre, mas é esperada uma nova contração. Com a confiança baixa, é de se esperar que esses investimentos continuem caindo. Somente no terceiro trimestre deste ano, caso hajam sinais mais concretos de melhora, eles comecem a operar em um território mais positivo", acrescenta a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.

Ociosidade

Outro problema, ainda no âmbito dos investimentos, é que a alta ociosidade dos parques industriais brasileiros deve provocar uma demora ainda maior para que a indústria volte a investir. Carvalho explica que, por mais que haja uma melhora na demanda, o empresário não precisará alocar muitos recursos em um primeiro momento. "Ele vai religar uma das máquinas que tinha sido desligada, por exemplo, sem precisar comprar outra", pontua.

Cenário internacional

Além do conturbado cenário nacional, as perspectivas da economia externa também não são as melhores. Segundo Carvalho, há algum tempo o comércio mundial apresenta um desempenho pior em relação à média histórica, assim como em termos de commodities que são importantes para a economia brasileira. "O mercado internacional, que muitas vezes fez com que o País saísse mais rápido de crises, não permite que isso aconteça novamente", avalia.

Isso acontece mesmo com os resultados positivos da exportação do País. Segundo dados do Ministério a Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), as exportações somaram US$ 14,9 bilhões, uma alta de 20,6% em relação a janeiro do ano passado. As importações também subiram, mas em um patamar menor, de 14,7%. Segundo o pesquisador, os resultados representam um ajuste que geralmente acontece quando a economia global passa por crises.

"O peso do setor externo não é grande o suficiente para que esse lado da economia consiga puxar todo o resto. A economia mundial não cresce mais na mesma taxa de anos atrás, então esse efeito fica um pouco minimizado", pondera Carvalho. Entretanto, Alessandra avalia o aumento das exportações como um sinal positivo para a recuperação econômica, inclusive com a expectativa de que sigam crescendo a um ritmo acelerado.

Câmbio

Na avaliação de Juliana Inhasz, professora de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), acrescenta-se a esse cenário a instabilidade da taxa de câmbio. "Como economia exportadora, queremos que a moeda nacional seja mais desvalorizada, mas, por outro lado, dependemos da importação, de forma que o dólar alto impacta na inflação. Ganha-se, por um lado, mas perde-se por outro", pontua.

Alessandra avalia que, sem uma melhora desses indicadores, o risco é de que a retomada do crescimento aconteça de forma ainda mais devagar.

"A gente espera que o consumo caia menos, mas se não for nessa linha, deve afetar bastante o PIB, dificultando uma ampliação dos investimentos e, assim, colocando em xeque o crescimento do País", finaliza. (YP)

Demanda reprimida

"Com a demanda interna reprimida, não se pode falar em recuperação de investimentos, do comércio"

de

Leonardo de Carvalho - Pesquisador do Ipea

"A gente espera que o consumo caia menos, mas se não for nessa linha, deve afetar bastante o PIB"

d

Alessandra Ribeiro - Economista da Tendências Consultoria

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.