Número de postos com GNV cai no Estado

Hoje, existem apenas 41 estabelecimentos vendendo GNV na Região Metropolitana de Fortaleza

Escrito por Redação ,
Foto: FOTO: MIGUEL PORTELA

O Gás Natural Veicular (GNV) está deixando de ser visto como a opção mais econômica para condutores que trafegam no Ceará, principalmente, por conta do preço. A baixa demanda pelo combustível nos últimos anos reflete inclusive no comportamento do mercado, pois reduz a quantidade de postos que ofertam o produto e contribui com o fechamento de empresas especializadas em converter os motores dos automóveis.

De acordo com dados do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos-CE), quase 80 estabelecimentos vendiam GNV, mas houve uma redução considerável.

A Companhia de Gás do Ceará (Cegás) afirma que o Estado conta atualmente com 56 postos ofertando GNV, dos quais 53 na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e três no Interior. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), restam apenas 41 estabelecimentos vendendo GNV em Fortaleza.

Até mesmo os taxistas, categoria que costumava investir em kits GNV, estão desistindo do combustível por não conseguirem a mesma economia de antes. Em Fortaleza, de cada 200 táxis novos que passam a integrar a frota, menos de 40 utilizam gás natural.

"É um número que representa menos de 10% e está cada vez menor. Não vale mais tanto a pena fazer a conversão", afirma o presidente do Sindicato dos Taxistas do Ceará (Sinditáxi-CE), Vicente de Paula Oliveira.

Embora o carro abastecido com GNV percorra uma distância cerca de 20% maior que a de um automóvel movido a gasolina, Oliveira cita desvantagens relacionadas ao gás natural. Os atuais valores do combustível, o gasto para adaptar o veículo e os custos com manutenção são algumas delas.

"O metro cúbico do gás natural está quase R$ 2. Só para converter o carro, o consumidor gasta atualmente de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil. Isso sem falar no peso e no espaço ocupado no automóvel pelo cilindro e da taxa de inspeção anual cobrada pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito). Também estamos vendo a oferta de gás natural acabar e ficando com medo de investir", afirma o presidente do Sinditáxi. 

Vantagem

Para o assessor econômico do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos-CE), Antônio José Gomes Costa, mesmo que o preço do gás natural seja mais caro no mercado cearense em relação a estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, o problema não é o valor do combustível.

"No Ceará, o metro cúbico do gás natural custa entre R$ 1,85 e R$ 1,99. Os preços ainda são convidativos ao consumidor e estão congelados há quase três anos. Por outro lado, a gasolina ficou cerca de 30% mais cara e o etanol 50%. O que pesa no bolso das pessoas é a conversão do veículo", analisa.

Na opinião dele, o governo federal está descompromissado com o mercado de GNV, que sofre desde 2007, pois não incentiva o consumo do combustível. "O problema não é econômico, e sim político. Na Argentina e na Itália, o incentivo para o consumo de gás natural é grande. Enquanto o governo estiver vendendo gasolina subsidiada, esse entrave vai permanecer. Não adianta os postos do Ceará ofertarem um combustível se não houver demanda", alerta.

Cegás avalia

Para a Cegás, “o programa do GNV no Brasil, não especificamente em Fortaleza, vem sofrendo, a exemplo do programa do álcool, com os preços artificiais da gasolina fornecida pela Petrobras para o consumidor, ocasionando uma diferença menos atrativa para o consumidor final. Embora o consumidor ainda possa desfrutar de uma economia formidável de quase 50%, aqui incluído também o alto rendimento do GNV quando comparado aos demais combustíveis (álcool e gasolina)”, reforça.

Empresas fecham com baixa demanda

Desde que demanda por Gás Natural Veicular (GNV) começou a cair nos postos de combustíveis do Ceará, ainda no ano de 2007, as empresas especializadas em converter os motores dos automóveis começaram a passar por dificuldades financeiras, chegando a fechar as portas.

O sócio-proprietário da Econogás, Fernando Fernandes, informa que o número de empresas que convertiam automóveis para gás natural caiu drasticamente desde que a crise no setor teve início. De acordo com ele, dos 22 estabelecimentos legalizados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para prestar o serviço no Ceará, restam apenas cinco, uma redução de 75%.

Fernandes informa que, em comparação a 2007, a atual demanda pelo serviço de conversão apresentou queda de 35%. Na opinião dele, o decréscimo não está relacionado ao preço médio do serviço, que gira em torno de R$ 2,5 mil. O empresário ainda chama a atenção para a necessidade de uma política do governo estadual para incentivar o consumo de GNV.

Incentivo

"No Rio de Janeiro, é um mercado bastante aquecido. Lá, o governo oferece um desconto de 75% no IPVA (Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para os contribuintes com veículos a gás natural. Ou seja, as pessoas pagam apenas 25% do tributo", reclama.

Diante dessa situação, adianta Fernandes, as empresas do segmento aproveitarão o período das eleições para cobrar dos candidatos ao governo cearense propostas para ajudar a incrementar o consumo de GNV. "Já batemos nessa tecla e vamos bater novamente", destaca.

Fernandes reforça que, apesar do preço mais elevado nos postos, o gás natural ainda é a opção mais econômica, sobretudo para os condutores que percorrem mais de 40 quilômetros diariamente. A economia em relação à gasolina, porém, caiu aproximadamente de 70% para 50% nos último anos. (RS)

FIQUE POR DENTRO

O que muda no rendimento do carro com GNV

Ao optar pela utilização do GNV, o motorista precisa ficar ciente que seu veículo perderá 20% de sua potência quando for exigido, já que o poder de combustão do gás é bem menor do que o da gasolina. Em contrapartida, o combustível gasoso pode ser até 40% mais eficiente que o líquido, ou seja, faz com que o carro possa rodar mais com menos. Segundo o diretor da Iguauto, Marcelo Freire, levando em conta o fato de que o metro cúbico do GNV custa em média R$ 2 em Fortaleza, e o da gasolina R$ 3, ainda vale a pena optar pelo gás. "A economia é de mais de 50%. Além disso, a gasolina deve subir muito no próximo ano", diz. "Trata-se também de um combustível mais limpo", afirma.

Raone Saraiva
Repórter

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