Mulheres unidas ganham uma melhor perspectiva

Escrito por Redação ,
Legenda: Projeto Budegama promove a produção de bonecas de pano com cunho social
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Por meio de parcerias como governo e ONGs, elas contribuem para o desenvolvimento das com unidades

Muitas mulheres cearenses encontraram uma oportunidade de mudar suas vidas e ganhar fontes de sustento a partir de trabalhos realizados em associações que desenvolvem atividades econômicas em comunidades. Algumas delas não possuíam renda própria quando se filiaram a uma dessas entidades, mas hoje chegam a faturar cerca de um salário mínimo (R$ 724) com a comercialização de itens produzidos dentro dos grupos.

A Rede de Comercialização Solidária Estrela de Iracema, por exemplo, é uma iniciativa existente há cinco anos e dá suporte a aproximadamente 30 grupos desse tipo em diferentes bairros da Capital, cada um com média de 15 mulheres associadas.

Segundo a coordenadora Ana Célia Batista, a rede busca fortalecer e integrar as associações, por meio de reuniões mensais e planejamento no início de cada ano. Juntas, buscam conquistar parcerias do governo e ONGs na viabilização de feiras, além de promover oficinas e cursos de capacitação.

Do artesanato à culinária

Cada grupo de mulheres tem seu foco de atividade. Artesanato, culinária, trabalhos com renda, couro, bijuteria, reciclagem e confecção de roupas são apenas algumas delas.

A Associação de Mulheres Dendêsol participa da Rede Estrela de Iracema e da Rede Cearense de Economia Solidária. Lá as mulheres da Comunidade do Dendê "fazem de tudo, até arranjos de flores e remédios de plantas medicinais", diz Rosângela Sousa de Oliveira, tesoureira do grupo. Todos os sábados elas participam da Feira de Economia Solidária na Praça da Justiça no Bairro Edson Queiroz.

Para as feiras, os itens são produzidos individualmente, mas há também trabalho de artesanato e confecção em grupo. Dentro da estrutura da associação, as mulheres se unem no projeto chamado Cozinha Saborosa, por meio do qual oferecem serviços de coffee break, encomenda de refeições, principalmente durante os cursos.

"Em tudo que a Rede Estrela pode, ela encaixa os grupos que preparam a alimentação", comenta Rosângela.

Primeiro passo

Outro projeto é o da Associação das Mulheres em Ação (AMA), que também é um grupo produtivo de economia solidária. As associadas trabalham com artesanato e tem um espaço de comercialização no Conjunto Esperança, chamado Budegama, que é referência em bonecas de pano. "Nos utilizamos da nossa habilidade para abordar temas sociais, por isso fazemos bonecas negras e grávidas", diz Luciana Eugênio, secretária da AMA.

Para Luciana, o engajamento em uma Associação de Mulheres é importante e só traz benefícios, pois estimula a organização, a melhora da autoestima e apresenta novas oportunidades. "Qualquer associação contempla o crescimento social primeiro e depois vê o retorno financeiro das participantes. Isso vem de forma mais lenta, mas só se chega na etapa do crescimento econômico se o social for trabalhado", afirma.

Apesar de o lucro obtido por alguns grupos funcionar como complemento de renda, muitas mulheres voltaram a estudar, cozinhar e a ter uma participação mais efetiva nas comunidades. "A questão do financeiro ainda não é ideal, mas como primeiro passo escolhemos o trabalho coletivo, a valorização da mulher e do artesanato que dialoga com a vida da gente, o que é difícil fazer no universo capitalista", declara Luciana.

Dona Rosângela, da Dendêsol, também fala da sua vida antes da Associação. "Eu já tinha algumas habilidades, mas vivia apenas como dona de casa, assistindo à novela. Hoje não tenho tanto tempo para isso. Ter uma fonte de renda foi essencial, não só por ter o meu próprio dinheiro como por poder administrá-lo, entrar no mercantil e comprar o que gosto, fazer as unhas se quiser. Ainda mais importante que isso foi a vontade de querer viver e mostrar o que sei". A associada disse que já chegou a receber R$ 75 pelo Bolsa Família, mas já fatura cerca de um salário mínimo (quase dez vezes mais) nas feiras, então se cadastra como baixa renda e diz ficar muito feliz de dar oportunidade para outra pessoa receber o benefício.

No Conjunto Palmeiras, a Associação Mulheres em Movimento tem trabalhos voluntários de alfabetização de adultos e reforço escolar para crianças, mas também busca apoio da Igreja local, da Arquidiocese e de ONGs para promover cursos. Já tiveram um de corte e costura, e assim montaram um grupo de costureiras. Cerca de 50% delas fazem parte hoje do mercado formal. Também já receberam curso de massoterapia, por meio do qual 14 associadas despertaram interesse e iniciaram trabalhos.

Elas representam 52% dos novos empreendedores

Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) revelam que o público feminino está comandando a abertura de novos negócios no País. De acordo com o levantamento, realizado pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM), 52% dos novos empreendedores (aqueles com menos de três anos e meio de atividade) são mulheres.

A força empreendedora feminina é maioria em quatro das cinco regiões brasileiras. Apenas no Nordeste as mulheres ainda não ultrapassaram os homens, mas estão perto, com quase 49% de participação entre os novos empresários.

Para a sócia-diretora do Instituto Mandara, Vera Lima, apesar de o Nordeste estar um pouco abaixo da média nacional, o índice é bastante positivo e denota que as mulheres da região estão mais confiantes em relação a carreira profissional.

Por isso, no Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, as nordestinas têm o que celebrar no quesito empreendedorismo. "Há alguns anos, as mulheres trabalhavam apenas para complementar a renda familiar, para ajudar o marido com as despesas domésticas. Agora, a presença feminina no mercado de trabalho não é mais uma circunstância", destaca.

A afirmação de Vera Lima está ligada a um outro dado da pesquisa: 66% das mulheres iniciam uma empresa após identificar uma oportunidade de mercado. Logo, as mulheres que conduzem suas próprias empresas são movidas pela oportunidade, e não pela falta de alternativas.

Mais escolaridade

A pesquisa também mostra que o perfil do empreendedor brasileiro se torna mais feminino e mais escolarizado a cada ano. Prova disso é o índice de escolaridade: 49% dos donos de novos negócios - em que o público feminino é maioria - têm, no mínimo, o segundo grau completo. Já entre os donos de negócios estabelecidos (com mais de três anos e meio de atividade), - em que os homens são maioria - esse índice é de 41%. "As mulheres empreendedoras costumam ser mais jovens e com grau de escolaridade superior ao dos homens", diz Vera Lima.

Na indústria
Mais espaço

Em um mercado dominado por homens, a eletricista Vânia Leite, 27, funcionária da Aço Cearense, se diz otimista quanto à participação das mulheres nesse segmento. "Acho que aos poucos isso vai mudar", afirma.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Informalidade dá lugar ao profissionalismo

Nos últimos anos, as mulheres brasileiras passaram a ter essa condição de empresárias. Hoje, elas já tratam seus negócios, que eram tidos como informais, de forma profissional. Suas atividades não são mais um hobby ou um "bico" para complementar a renda familiar.

Elas têm consciência de que são empresárias que produzem e vendem, seja oferecendo os serviços em seus salões de beleza ou fabricando doces e salgados, por exemplo. Prova disso é que estão, cada vez mais, em busca da formalização.

No Ceará, o público feminino é o que mais vai ao Sebrae a procura de informações, de conhecimento. Embora o número de mulheres na informalidade ainda seja maior que o de homens, esse quadro vem sendo reduzido. E elas querem ser empreendedoras que acertam, visando sempre a prosperidade dos negócios.

Alice Mesquita
Articuladora da Unidade de Atend. Do Sebrae

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