Mudança é tardia e não resolve problemas

Para especialistas, a Petrobras ganha com a saída dela, assim como o País e os acionistas também

Escrito por Redação ,
Legenda: Embora indicada por apresentar um perfil técnico, Graça Foster não teve apoio, segundo aponta consultor da área de petróleo e gás

Especialistas são unânimes em afirmar que, apesar de tardia, é positiva a saída de Graça Foster e de sua diretoria da Petrobras. Para eles, a mudança terá impacto direto na credibilidade da empresa perante os mercados nacional e internacional.

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É essa a aposta de Bruno Iughetti, consultor na área de petróleo e gás, para quem o desligamento deveria ter acontecido logo que foram descobertas os primeiros desvios de recursos. "A saída era mais do que necessária. E o principal é que foi dado um passo importante para reconquistar a credibilidade da empresa", afirma.

Para Iughetti, a nova diretoria enfrentará momentos difíceis. "Primeiro porque terá de 'tomar pé' da situação da empresa. Depois, terá de recompor todas as perdas financeiras", explica. Conforme o consultor, a mudança na direção da estatal servirá para moralizar a gestão pública no Brasil. "Precisamos sair do viés político na indicação dos gestores, para priorizar a competência, o tecnicismo", defende.

Embora a Graça Foster tenha sido indicada ao cargo por seu perfil técnico, ele diz que lhe faltou apoio. "Ela sempre foi reconhecida como boa gestora, que nunca deixou se influenciar em cargos anteriores por erros políticos. Porém, não mexeram no primeiro escalão, que era a origem dos problemas", diz.

"Faltou coragem para mudar toda a diretoria. Graça Foster foi a pessoa certa no momento errado. E estamos pagando por esse erro crasso e estratégico hoje. É impossível para uma empresa desse porte ter apenas o presidente independente, sem comprometimento político. O perfil técnico tem que descer até o segundo escalão", frisa.

Na opinião de Iughetti, "é o momento de resgatar a motivação dos funcionários de carreira porque por muitos anos a técnica foi substituída por interesses meramente políticos. Esse é o momento da limpeza geral, da faxina", resume.

Reação

O economista e consultor de empresas, Alcântara Macedo, comemora a reação do mercado à mudança na estatal. "A saída de toda a diretoria fez com que as ações tivessem um surto de crescimento significativo. O mercado deixa transparecer a realidade. E esse sentimento é levado à bolsa. A conjuntura não permitia mais que não houvesse uma mudança. Logicamente teriam de mudar os atores. A Petrobras ganha com a saída dela, o país e os acionistas também. Eu sou acionista e ganhei o que a muito tempo não ganhava", festeja.

Para Alcântara Macedo, com a alteração, a Premium II pode voltar a pauta econômica do Estado e do País. "Agora o Ceará pode rever a decisão intempestiva de cancelar a Refinaria em nosso Estado. Até porque, ela é estratégia não só para o Ceará, mas para o Brasil. E o Estado já investiu em torno de R$ 1 bi, se forem atualizados os valores que já foram aplicados", estima.

Macedo acredita que Foster estava inserida num contexto, que aprisionava suas decisões. "Melhor um presidente de fora, que seja referencia internacional do mercado de petróleo ou na gestão de grandes empresas".

Repercussão na mídia do exterior

Brasília. A renúncia da presidenta da Petrobras, Graça Foster, e de cinco diretores da petrolífera brasileira, foi publicada ontem na capa das edições online dos principais jornais internacionais. A renúncia foi anunciada pela empresa estatal brasileira em comunicado aos investidores na manhã desta quarta-feira.

O New York Times (NYT) informou que a renúncia aconteceu após meses de especulações nos meios político e empresarial sobre a saída de Graça, geradas depois da divulgação do esquema de corrupção dentro da Petrobras. "A petrolífera perdeu bilhões em valor de mercado no ano passado com notícias sobre a extensão do esquema de corrupção. Promotores dizem que pelo menos US$ 800 milhões em propinas foram pagos por empresas de construção e engenharia, em troca de contratos superfaturados em bilhões".

O principal jornal norte-americano diz ainda que o rebaixamento da nota de investimento da Petrobras por algumas agências de análise de risco sufocou ainda mais sua capacidade de contrair empréstimos nos mercados internacionais. O NYT lembra que a Petrobras é a maior empresa brasileira, controla vários campos de petróleo e cria riqueza que alguns líderes esperam que impulsionem o Brasil ao status de país desenvolvido.

O jornal inglês Financial Times, considerado um dos mais influentes na área econômica, ressalta que a renúncia acontece um dia depois de Graça Foster se reunir com a presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, e cita que o Conselho de Administração da empresa se reunirá na amanhã para anunciar os substitutos para os cargos vagos.

O jornal espanhol El Pais publicou uma matéria sobre a trajetória profissional de Graça Foster, intitulada "De catadora de papelão a presidenta", e outra sobre sua renúncia, com o título "Escândalos derrubam Graça Foster e mais cinco diretores da Petrobras". A reportagem informa que a executiva já tinha colocado o cargo à disposição de Dilma Rousseff há meses, mas era respaldada pelo governo.

A agência pública argentina Telam destacou que "a presidenta brasileira aceitou o pedido de renúncia de Maria das Graças Foster em meio aos escândalos de corrupção que salpicam a companhia e altos membros do governo e da oposição".

Euforia sobre a estatal pede cuidado de acionistas

São Paulo. O pequeno investidor deve tomar cuidado para não embarcar em momentos de euforia com a mudança na direção da Petrobras, como ocorreu na última terça (3), quando as ações subiram 15%. Os papeis da empresa deverão ter forte oscilação ao sabor de boatos, sendo que alguns são plantados para mexer com o mercado.

Roberto Altenhofen, consultor da Empiricus, não recomenda a compra de ações da empresa, apesar de elas estarem em baixa. Para quem já comprou, sua recomendação é vender nos momentos favoráveis e recuperar parte do prejuízo em outra aplicação. Erasmo Vieira, consultor financeiro, no entanto, sugere que quem já tem os papéis aguarde antes de vendê-los. A compra de ações da empresa deve ser encarada, afirmou, como aplicação de alto risco, a ser feito por quem tem dinheiro sobrando. "É difícil saber o que está ocorrendo. O balanço não contou as perdas com corrupção. "Sem a definição, as ações continuarão com volatilidade. Uma decisão rápida e um nome forte são importantes para a Petrobras começar uma nova fase", disse Adriano Moreno, da AZ Futurainvest.

Ângela Cavalcante
Repórter

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