Moody's põe nota do País em perspectiva negativa

Motivo apontado pela agência para a mudança é a delação de Joesley Batista, que compromete Temer

Escrito por Redação ,
Legenda: Segundo a Moody's, a confiança do mercado está em jogo no País devido ao momento político

São Paulo. A agência de classificação de risco Moody's voltou a alterar a perspectiva da nota do Brasil de estável para negativa, conforme anunciou na última sexta-feira (26), deixando o País mais perto de um novo rebaixamento. A razão para a mudança foi o aumento da incerteza em relação à aprovação das reformas após a crise política deflagrada na semana passada, o que ameaçaria a recuperação econômica e a solidez da economia do Brasil no médio prazo.

Em 15 de março, a agência havia alterado a nota de negativa para estável, apoiando a decisão na perspectiva de que a melhora observada nas condições macroeconômicas persistiriam.

A nota do Brasil permanece dois níveis abaixo do grau de investimento, o chamado "selo de bom pagador". Segundo a Moody's, uma intensificação da crise política que leve a um período prolongado de incerteza pode exercer pressão negativa adicional sobre os ratings. A reversão das reformas fiscais já aprovadas, o cumprimento do teto de gastos, seria particularmente negativa para o rating.

A Moody's diz que, independentemente de seu desfecho, a crise política que emergiu no Brasil na última semana provavelmente debilitará a agenda de reformas do governo e comprometerá a aprovação de reformas futuras, incluindo a da Previdência. Isto provavelmente impactará negativamente a confiança do investidor e levará ao aumento da volatilidade nos mercados, ameaçando o momento macroeconômico positivo observado desde o início da agenda de reformas promovida pelo presidente Michel Temer.

A agência de classificação de risco espera crescimento modesto da economia de 0,5% em 2017, e a inflação recuando para 4%, o que permite que o Banco Central continue com o processo de afrouxamento dos juros.

Para a Moody's, a capacidade do Banco Central de promover novos cortes da taxa básica de juros, a Selic, pode ser comprometida caso um choque de confiança provocado por uma depreciação cambial alimente uma inflação mais alta, enfraquecendo o potencial impacto positivo no crescimento em 2018 e minando a economia fiscal com pagamento de juros menores sobre a dívida do governo. Como consequência destes eventos, os riscos negativos para as perspectivas de crescimento em 2017 e 2018 aumentaram.

Em busca da estabilidade

Em nota emitida após o anúncio da Moody's na mudança da perspectiva do rating do Brasil, o Ministério da Fazenda apontou a "manutenção de intenso diálogo e coordenação com o Congresso Nacional, sinalizando o empenho para alcance da estabilidade da política econômica".

A classificação de risco por agências estrangeiras representa uma medida de confiança dos investidores internacionais na economia de cada país. As notas servem como referência para os juros dos títulos públicos, que representam o custo para o governo pegar dinheiro emprestado dos investidores. As agências também atribuem notas aos títulos que empresas emitem no mercado, avaliando a capacidade delas honrarem os compromissos.

Opinião do especialista

Reflexo de um momento de incertezas

Ênio Arêa Leão - Economista

A decisão da Moody's é um reflexo desse momento de dificuldade e de incerteza, pois vemos aumentar as dúvidas sobre as reformas e até mesmo sobre a permanência do presidente Michel Temer no poder. O lado bom disso é que a gente continua em um momento de investigação séria e profunda na corrupção do Brasil.

Mas isso é realmente um custo muito alto para a retomada da economia. Agora, realmente, precisamos promover essa investigação e, não sei como, em paralelo com essas mudanças na economia. O que pode ser mais positivo é o mundo enxergar que o Brasil fez uma limpeza e vai ter um nível de corrupção menor e, se isso acontecer, vai ter uma melhoria na percepção do País no futuro. É preciso ajustar e criar uma base para crescer em longo prazo.

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