Moedas sociais giram milhões no Ceará e aderem à versão digital

Modelo amadureceu e se modernizou ao longo dos anos, fortalecendo a economia de diferentes locais e beneficiando milhares de pessoas

Escrito por Lígia Costa - Repórter ,

Após 20 anos de existência, as chamadas "moedas sociais", ou moedas alternativas, experimentaram, nos últimos três anos, um forte crescimento principalmente devido à digitalização dessas moedas. Foi o que aconteceu no bairro Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, local onde surgiu a primeira moeda social do Brasil (a palma), criada pelo Banco Palmas, primeiro banco comunitário de desenvolvimento do País, em funcionamento desde janeiro de 1998.

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Há cerca de dois anos, moradores e comerciantes do bairro e adjacências trocaram as cédulas de papel pela versão eletrônica da moeda: o E-dinheiro Palmas. Se até o ano de 2015 a moeda era feita de papel, utilizada apenas na própria região e servindo basicamente para a realização de compras no comércio local, a nova moeda digital, operada por uma plataforma unificada de Banco Comunitário Digital (BCD), tornou possível a realização de diversas operações, como transferências eletrônicas, compras locais, consulta de saldos e extratos, pagamento de boletos, de recarga para celular, e de contratação de microsseguros.

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Todas as operações são feitas via aplicativo (app) E-dinheiro, no qual há 7.500 usuários cadastrados no Estado do Ceará. O usuário baixa gratuitamente o app, se cadastra na plataforma e deposita no banco comunitário de sua preferência um valor específico em reais, que é convertido em seguida em um saldo eletrônico na plataforma.

Quem não tiver celular ou acesso à internet pode digitar o número de celular no aplicativo do comerciante e o valor da compra é debitado automaticamente de sua conta.

Mesmo sem internet, o usuário pode pagar estabelecimentos conveniados, usando o telefone ou código de barras (QR Code) do comércio, escaneado de aparelho celular.

Movimentação

Utilizadas principalmente por pessoas de baixa renda que têm dificuldade de acesso à rede bancária convencional, as moedas sociais estão espalhadas em todo o Brasil, gerenciadas por 113 bancos comunitários, distribuídos em 20 estados e 90 municípios de todas as regiões.

De modo geral, seus usuários estão espalhados pelas periferias das grandes cidades, comunidades indígenas, vilas de pescadores ou na zona rural. Apenas no Ceará, estado brasileiro com o maior número de bancos comunitários, há unidades operando 12 moedas.

O número já foi maior, mas o volume movimentado cresce a cada mês. Segundo o coordenador do Banco Palmas e diretor-presidente da Rede Brasileira de Bancos Comunitários (RBBC), Joaquim de Melo, o E-dinheiro movimenta cerca de R$ 2,5 milhões por mês no País, por meio de serviços como empréstimos, pagamento de boletos, recarga de celular ou compras.

Adoção

Somente o Banco Palmas faz circular, em média, cerca de R$ 1,5 milhão por mês - ou R$ 18 milhões até dezembro - na plataforma hoje adotada por 80 comerciantes da região. "Durante os primeiros 17 anos, a gente operou R$ 8 milhões, e só nos últimos três anos passaram pelas moedas comunitárias mais de R$ 40 milhões em todo Brasil", contabiliza Melo. "Hoje, a gente tem um aumento na movimentação entre 8% e 10% por mês. E a expectativa para este ano é de um crescimento geral de 30% em comparação a 2017, considerando o volume movimentado e o número de usuários".

Atendimento

A meta da RBBC é fechar 2018 com 100% das operações sendo realizadas pelo celular, mantendo, porém, as agências físicas nas comunidades. "Mesmo com esse avanço, vamos continuar com o atendimento presencial, para receber as pessoas ou instruí-las", diz o diretor do Banco Palmas, reforçando que a tecnologia veio trazer economia e praticidade ao dia a dia dos moradores do Conjunto Palmeiras e bairros próximos como o Conjunto São Cristóvão.

"Além do papel ter um custo alto, essa evolução deu um aumento de escala muito grande. Hoje temos uma gama de serviços muito maior, oferecemos conta-salário, conta-benefício, e os pagamentos podem ser feitos por meio de cartão magnético ou por aplicativo de celular".

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