Mercados globais sacodem com saída do Reino Unido da UE

No Brasil, o Ibovespa caiu 2,82% na sessão dessa sexta-feira, enquanto o dólar comercial subiu 1%

Escrito por Redação ,
Legenda: Ainda não se sabe quais são as reais consequências da saída do Reino Unido da União Europeia, mas a avaliação inicial é que o impacto mais negativo ficará sobre a Europa

São Paulo. A inesperada saída do Reino Unido da União Europeia, chamada de "Brexit", assustou os investidores e fez os mercados despencarem na última sexta-feira (24). No Brasil não foi diferente: o Ibovespa caiu 2,82% e o dólar subiu 1%, para a casa dos R$ 3,38.

>Perda da libra é a maior em 31 anos

Segundo analistas, ainda não se sabe quais são as reais consequências do "Brexit", mas a avaliação inicial é que o impacto mais negativo ficará mesmo sobre a Europa. A leitura também é de que uma alta dos juros americanos, em meio à turbulência mundial, ficará mais distante, enquanto os bancos centrais se apressam em garantir liquidez aos mercados.

Outra percepção é que o desempenho do mercado brasileiro só não foi pior por causa das expectativas de melhora da economia doméstica.

"O comportamento do mercado local está sendo bastante maduro, já que a Bolsa devolveu o que subiu na véspera e o dólar não subiu tanto", comenta Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos.

"Claro que o mercado brasileiro se ressente com o 'Brexit', mas em menor escala. Isso porque, internamente, temos uma perspectiva positiva, que é a retomada da economia, com a provável saída definitiva da presidente Dilma Rousseff e a implementação de reformas necessárias", avalia.

Bovespa

O Ibovespa terminou o pregão desta sexta-feira (24) em queda de 2,82%, aos 50.105,26 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7 bilhões. Nesta semana, o índice ganhou 1,15%; enquanto que no acumulado deste ano, registrou alta de 15,58%.

As ações da Petrobras recuaram 4,34%, a R$ 9,25 (PN), e 5,14%, a R$ 11,43 (ON). Os papéis da Vale caíram 8,95%, a R$ 12,20 (PNA), e 8,31%, a R$ 15,21 (ON).

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN terminou a sessão em baixa de 3,50%; Bradesco PN, -2,47%; Bradesco ON, -1,71%; Banco do Brasil ON, -2,03%; Santander unit, -4,19%; e BM&FBovespa ON, -1,74%.

Câmbio e juros

Após ter atingido a máxima de R$ 3,4500 mais cedo, o dólar comercial fechou com valorização de 1,04%, a R$ 3,3800. Na semana, caiu 1,20%, e no ano, perde 14,4%. Já o dólar à vista terminou o pregão com ganho de 1,00%, a R$ 3,3889. Na semana, a moeda americana caiu 1,13% e no ano também acumula queda de 14,4%.

Para Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor, a desvalorização do real ante o dólar não foi mais forte porque o foco do problema está na Europa. "E, na cena interna, vemos otimismo dos investidores com as conquistas que o governo Temer tem obtido no Congresso", diz.

Ítalo Santos, especialista em câmbio da corretora Icap, destaca que a alta taxa de juros no Brasil continua sendo atrativa.

Outra questão, destaca Santos, é que o Banco Central continua sem fazer novas operações de swap cambial reverso, equivalente à compra futura de dólares pela autoridade monetária. "Isso só deve acontecer quando o novo diretor de Política Monetária, Reinaldo Le Grazie, assumir, após 5 de julho", comenta.

Em nota, o Banco Central afirmou que "a economia brasileira tem fundamentos robustos para enfrentar movimentos decorrentes desse processo, especialmente relevante montante de reservas internacionais, o regime de câmbio flutuante e um sistema financeiro sólido, com baixa exposição internacional".

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 caiu de 13,740% para 13,690%, mas o contrato de DI para janeiro de 2021 subiu de 12,410% para 12,440%.

O presidente interino, Michel Temer (PMDB-SP), defendeu nesta sexta-feira (24) a redução "responsável" da taxa básica de juros ainda neste ano para ajudar no processo de retomada da confiança e do crescimento econômico do País.

O CDS brasileiro, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, avançava 6,50%, aos 341,736 pontos.

Transição deve ser "suave"

Em uma tentativa de acalmar os mercados financeiros ao redor do mundo, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, divulgou na sexta-feira (24) comunicado em que defende "uma transição suave" para a saída do Reino Unido da União Europeia. Segundo Christine Lagarde, os bancos centrais do Reino Unido e da Europa vão atuar para evitar volatilidade financeira nos mercados.

Os mercados financeiros em todo o mundo amanheceram na sexta-feira agitados com o resultado do referendo. A libra esterlina começou com queda de 12% em relação ao dólar, e as ações de empresas britânicos despencaram.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou que deve deixá-lo em outubro. Antes do referendo, Cameron fez muitos apelos para que os britânicos votassem pela permanência na União Europeia.

No comunicado, Christine Lagarde afirma que o FMI está consciente da decisão da população do Reino Unido. "Solicitamos que as autoridades do Reino Unido e da Europa trabalhem em conjunto para garantir uma transição suave para uma nova relação econômica" entre as duas partes, acrescentou.

dsa

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.