Mercado vive momento de apreensão, dizem analistas

Conjunção de fatores gera um círculo vicioso que resulta na redução do consumo, da produção e do emprego

Escrito por Ângela Cavalcante - Repórter ,

Data em que se costuma comemorar os direitos trabalhistas conquistados ao longo de décadas, o Dia do Trabalho neste ano de 2016, para muitos especialistas em mercado do trabalho, será caracterizado historicamente no Brasil como um momento de "apreensão" para a força produtiva. Um ano em que fundamentos que consolidam a segurança do trabalhador voltaram ao cerne das discussões e sobre o qual pairam ameaças de perdas.

De acordo com o analista de mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) e coordenador no âmbito do mesmo órgão da Pesquisa do Emprego e Desemprego (PED) na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), Erle Mesquita, "estamos vivendo um quadro adverso de inflação elevada, embora dando sinais de diminuição; de desemprego alto; de redução da capacidade de investimento público e privado; de endividamento das famílias; de contingenciamento dos gastos ou seja as pessoas tem medo de consumir".

"Então essa conjunção de fatores gera um círculo vicioso que resulta na redução do consumo, da produção e do emprego, sucessivamente", avalia.

Para Mesquita, as tendências para o mercado de trabalho não são animadoras. "Esse 1º de maio é mais um momento de apreensão. Com o desemprego mais elevado e a ameaça de flexibilização dos direitos do trabalhador, todos os fundamentos que dão base ao mercado do trabalho e que dão segurança ao trabalhador estão em risco. Só voltar a discussão sobre os direitos trabalhistas conquistados já é um retrocesso", frisa o especialista sobre o atual cenário.

Orientação é se qualificar

Gilvan Mendes, presidente do IDT, pactua da mesma preocupação expressada por Erle. "O cenário atual é de dificuldades. Apesar de termos conseguido atingir as metas estabelecidas para a intermediação de vagas de emprego nos três primeiros meses deste ano, as perspectivas não são animadoras", lamenta.

Em meio ao quadro de incertezas, o presidente do IDT diz que o órgão está orientando os trabalhadores a se qualificarem mais e melhor para terem condições de concorrer às oportunidades que surgirem.

"Diante da competição acirrada, qualquer detalhe, seja um curso ou um conhecimento a mais, faz a diferença. Existe hoje uma tendência de precarização do mercado de trabalho e a perda de poder aquisitivo do trabalhador. As pessoas enfrentam uma concorrência maior para ganhar menos. A situação é muito difícil", reforça.

Ciclo da história

Para o economista Ediran Teixeira, coordenador da PED no Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a história se repete.

"Tivemos na década de 1970 um crescimento econômico impulsionado pela industrialização, que em um segundo momento impulsionou também os serviços e a construção civil. Os trabalhadores ganharam direitos, aumentaram os empregos, melhoraram os salários. Então vieram os anos de 1980, a chamada década perdida, com inflação alta, que retirou do trabalhador os ganhos da década anterior", recorda, comparando com a conjuntura atual, na qual o mercado se depara com taxas recordes de desemprego, redução no volume das ocupações em diversos setores produtivos e diminuição no valor dos salários, sinalizando uma séria e preocupante precarização do mercado, tanto no Ceará quanto no Brasil.

Expectativa

"Do lado do trabalhador, vemos o aumento do desemprego e a queda da ocupação. Do outro lado, os donos de negócios estão esperando um melhor momento para voltar a investir. Enquanto persiste a crise, o trabalhador vai pagando a conta", afirma. Segundo Ediran, a tendência é que a crise demore até dois anos.

"Vai levar, no mínimo, mais três anos para se recuperar o poder de compra e recompor os salários dos trabalhadores", avalia Ediran.

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