Mercado imobiliário do Ceará sentirá menos a alta dos juros

Segundo empresários do setor, o aumento das taxas da Caixa para crédito imobiliário terá menor impacto devido a fatores como o elevado déficit habitacional

Escrito por Redação ,

Na última semana, os brasileiros que estavam se organizando para adquirir um imóvel receberam uma verdadeira ducha de água fria. É que a Caixa Econômica Federal (CEF), detentora de aproximadamente 70% do crédito imobiliário do Brasil, decidiu aumentar, pela segunda vez no ano, os juros dos empréstimos para a compra da casa própria.

Apesar de a medida ter repercutido negativamente em todo o País, onde o mercado imobiliário atravessa período de forte retração, a situação é um pouco diferente no Ceará, considerando que os principais líderes do setor não acreditam numa drástica redução nas vendas de 2015.

Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, o mercado cearense será menos impactado com a nova medida da Caixa por dois motivos principais: o fato de o Estado ainda possuir um elevado déficit habitacional, e porque as construtoras já pisaram no freio desde o início deste ano no que diz respeito à quantidade de lançamentos.

"As empresas lançaram muito em 2013 e 2014 e, neste ano, estão querendo focar em construir o que venderam e acabar com os estoques. Somos mais conscientes do que o resto do País", afirma.

FGTS ainda atrativo

O novo reajuste da Caixa é válido somente nos contratos dentro do Sistema Financeiro Habitacional (SFH), voltados para imóveis de até R$ 750 mil. A taxa de balcão passou de 9,15% para 9,45% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR), enquanto que os juros para quem já tem relacionamento com o banco subiram de 9% para 9,30% mais TR.

O fato de a instituição não ter alterado as condições para financiamentos com recursos do Minha Casa, Minha Vida e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) também foi lembrado por Montenegro como forma de explicar o menor impacto da medida no Ceará.

"Aumento de juros sempre preocupa, pois tem impacto diretamente no consumidor, mas os bons financiamentos ainda estão aí. O FGTS segue muito atrativo", comenta o presidente do Sinduscon-CE. "Notamos uma certa queda nos financiamentos durante os primeiros meses de 2015, mas nem tanto quando comparamos com outros estados. Acredito que teremos um segundo semestre de mais negócios no setor", opina André.

O que realmente preocupa

Ainda conforme o presidente do Sinduscon, uma outra medida tomada pela Caixa neste mês preocupa mais o mercado imobiliário do que a elevação dos juros propriamente dita: a redução do percentual máximo de financiamento de 90% para 80% nas operações do SFH. Dessa forma, a entrada que os consumidores terão que dar para as construtoras será dobrada.

"Considero essa mudança o maior problema promovido pela Caixa. Agora, as pessoas que pretendem adquirir um imóvel precisarão ter bem mais dinheiro guardado para anteciparem às construtoras", diz Montenegro. Ele também opina que o elevado pessimismo do mercado, puxado por diversos reajustes, dentre os quais se destacam aqueles praticados nos preços dos combustíveis e energia elétrica, também são grandes vilões para o setor em todo o País.

Justificativa

A Caixa atribuiu o novo reajuste dos juros ao aumento da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 12,75% ao ano. A justificativa não foi bem recebida pelo mercado cearense. "O fundo do financiamento imobiliário não tem nada a ver com a Selic, mas com a poupança, que atualmente está rendendo metade do fundo", critica o presidente da Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Coopercon-CE), Marcos Novaes.

Outros representantes do setor também criticaram a medida, apontando consequências que a mesma terá ou já está tendo no mercado cearense e brasileiro. Migração para bancos privados, problemas que afetam mais as classes C e B, redução no preço total dos imóveis e maior "pechincha" por parte dos consumidores são apenas alguns exemplos citados por eles.

Áquila Leite
Repórter

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