Mão-de-obra emperra setor têxtil no Ceará

Escrito por Redação ,
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Uma ocupação que já não seduz mais as jovens é fundamental para o desenvolvimento da confecção cearense

Sexto maior polo produtor de têxtil e de confecção do Brasil, o Ceará enfrenta o desafio de conseguir mão-de-obra qualificada para atuar numa das profissões mais tradicionais do ramo: a de costureira industrial. De acordo com o engenheiro Sylvio Tobias Napoli Júnior, gerente de tecnologia da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), este problema atinge não só o Estado, mas se faz sentir de forma mais intensa em território alencarino, onde o setor tem peso preponderante de 16% no Produto Interno Bruto (PIB) da indústria de transformação.

Segundo Napoli, na era digital, são poucas as mulheres que se interessam em seguir o ofício de suas mães e avós. "A costureira é considerada uma profissão hoje tão desvalorizada quando a doméstica", diz. Além do que, admite ele, é um setor que não oferece tantos atrativos salariais e de estrutura de trabalho, em relação às expectativas da população jovem que atualmente ingressa no mercado. Há cerca de dois anos, completa Napoli, o Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Ceará (Sinditêxtil-CE), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-CE) e o Governo do Estado, ofereceu um curso rápido de capacitação para 500 mulheres. Elas receberam treinamento básico de 120 horas/aula em costura industrial, com garantia de contratação imediata, com carteira assinada, pelas indústrias têxteis locais.

Para espanto geral, nenhuma das alunas aceitou. "Muitas alegaram que perderiam o benefício do Bolsa Família, se fossem contratadas formalmente", revela Napoli. Outras, por sua vez, disseram que, trabalhando informalmente em facções, poderiam adequar horários e fazer renda, sem perder a ajuda monetária do Governo Federal. "Já existe um movimento no IBGE, liderado pelo Senai para mudar o termo da função costureira, para que a mulher não se sinta desprestigiada. Seria uma nomenclatura tipo operadora de máquina", adianta Napoli.

Conforme Antenor Tenório, coordenador da Intermediação de Profissionais do Sistema Nacional de Empregos (Sine/IDT), é natural que exista uma demanda por costureiras no setor têxtil cearense, haja vista a rotatividade de mão-de-obra no segmento. "Nos cursos de qualificação, que são gratuitos, com direito ao transporte e ao lanche, além da possibilidade de contratação imediata, a gente não consegue preencher todas as turmas".

Tenório reforça o argumento de Napoli, dizendo que as mulheres mais jovens não se sentem atraídas pelo ofício tradicional. "As estudantes querem uma outra profissão. Isso acontece muito em Fortaleza e na Região Metropolitana. No interior, o problema é menor. Por conta da amplitude do mercado, as mulheres jovens acabam partindo para o comércio e serviços ligados ao turismo", relata.

A cadeia têxtil no Ceará é responsável por cerca de 60 mil empregos diretos e indiretos, incluindo na estatística as vagas geradas na fiação, tecelagem, confecção e até criação de moda. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE), no primeiro bimestre do ano, o pessoal ocupado assalariado no setor têxtil cearense cresceu 6,4%, ao passo em que, na indústria de vestuário, recuou 5,06%.

SAMIRA DE CASTRO
REPÓRTER

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