Indústria do CE cai 4,9%

Queda, no entanto, foi menor do que as que foram notadas na Bahia, na média do Nordeste, e em Pernambuco

Escrito por Redação ,

A paralisação dos caminhoneiros, que resultou em bloqueios de estradas por todo o Brasil por 11 dias ao fim de maio, provocou uma queda generalizada na indústria por todo o País. No Ceará, a produção industrial caiu 4,9% na passagem de abril para maio, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física Regional, divulgados ontem (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda, entretanto, foi menor do que as percebidas pelas indústrias da Bahia (-15%), da média da região Nordeste (-10,0%) e pelo estado do Pernambuco (-8,1%).

De acordo com o economista Antonio Martins, do Núcleo de Economia e Estratégia da Federação das indústrias do Estado do Ceará (Fiec), a produção industrial cearense vinha mostrando uma lenta recuperação. "Em maio, houve uma forte reversão, o que está muito atrelado à greve, principalmente porque os setores mais afetados, de produção de alimentos e bebidas, foram os que tiveram maiores problemas de abastecimento durante a greve", disse.

A expectativa, segundo Martins, é que esse efeito ainda se reverbere nos meses seguintes à crise, ainda que de maneira reduzida. "Muitas empresas estavam com dificuldade de retomar a produção mesmo após o período de paralisação, o que se devia muito pela dificuldade na aquisição de insumos e matérias primas. Isso retardou a retomada da produção inclusive durante o mês de junho", explica o economista da Fiec.

Ele explica que o impacto será prolongado por também ter efeito sobre as expectativas e investimento da iniciativa privada. "A soma desse efeito da greve e do tabelamento do frete acarreta um período maior de incerteza, de menor crescimento. Todo esse cenário vai levando esse efeito da greve, que poderia ser pontual, mas acaba se estendendo ao restante do ano", aponta Antônio Martins.

Apesar das fortes perdas no período analisado, a produção industrial cearense acumula alta de 1,1% no período de janeiro a maio deste ano e de 3% nos últimos 12 meses.

dados

Queda generalizada

Segundo o IBGE, a produção recuou em 14 das 15 capitais pesquisadas. O Estado de São Paulo, maior parque industrial do País, registrou um tombo de 11,4%. Os recuos mais acentuados ocorreram em Mato Grosso (-24,1%), Paraná (-18,4%), Bahia (-15,0%) e Santa Catarina (-15,0%). Assim como São Paulo, o Rio Grande do Sul (-11,0%) também teve perda mais intensa do que a média global da indústria, de -10,9%.

As demais quedas ocorreram em Goiás (-10,9%), Minas Gerais (-10 2%), Região Nordeste (-10,0%), Pernambuco (-8,1%), Rio de Janeiro (-7,0%), Ceará (-4,9%), Amazonas (-4,1%) e Espírito Santo (-2,3%). O Pará foi o único local com avanço no mês, uma alta de 9,2%, eliminando assim a queda de 8,5% que havia sido observada em abril.

Comparação anual

A paralisação dos caminhoneiros afetou os resultados da indústria também em relação a maio do ano passado, com perdas na produção em 12 dos 15 locais pesquisados. Na comparação com igual mês de 2017, a indústria encolheu 6,6% em maio de 2018. O IBGE pondera, entretanto, que houve contribuição também do efeito-calendário, uma vez que maio deste ano teve um dia útil a menos do que maio do ano passado.

Flutuação

As quedas mais intensas ocorreram em Goiás (-15,7%), Mato Grosso (-14,7%), Bahia (-13,7%), Paraná (-12,0%), Rio Grande do Sul (-10,8%), Região Nordeste (-10,3%), Ceará (-9,7%), Santa Catarina (-8,2%) e Minas Gerais (-7,3%). Os demais recuos foram no Espírito Santo (-5,4%), São Paulo (-4 8%) e Pernambuco (-3,5%). Houve expansão somente no Pará (6,0%), Amazonas (4,5%) e Rio de Janeiro (0,9%).

Apesar das fortes perdas no período, a produção industrial brasileira acumula alta de 2% no período de janeiro a maio deste ano. Sete estados, porém, tem saldo negativo, com destaque para o Espírito Santo, que teve queda de 5,1% na produção nos cinco meses.

Transtornos

Os efeitos negativos da paralisação dos caminhoneiros se deram tanto pela falta de abastecimento de matérias-primas como pelo não escoamento da produção, apontou Bernardo Almeida, analista da Coordenação de Indústria do IBGE.

"Foi um impacto negativo disseminado. Um evento não previsto para a indústria nacional, por isso ele causou esse espalhamento de resultados negativos", disse o pesquisador.

De acordo com o IBGE, a paralisação de caminhoneiros, que durou 11 dias desarticulou a produção nacional. Diversas indústrias sofreram o impacto da mobilização, seja porque ficaram sem insumos para a produção, seja porque seus funcionários não conseguiram chegar às linhas de produção.

Durante a paralisação, houve falta de alimentos importantes na cesta básica do brasileiro, já que diversos caminhões de legumes, verduras e frutas não chegaram aos seus destinos finais. Centros de distribuição de alimentos de várias capitais brasileiras registraram faltas de produtos como cebola e batata inglesa, cujos preços dispararam.

Combustíveis

Também houve falta de combustíveis nos postos, já que com motoristas de braços cruzados os caminhões que faziam a entrega de gasolina e diesel da refinaria para os postos deixaram de circular. Houve ainda registro de piquetes nas portas das principais refinarias da Petrobras pelo país. O resultado foi o desabastecimento de combustíveis, que demorou alguns dias para se recuperar apesar do fim da paralisação. Ao término da mobilização, houve uma corrida de consumidores a postos de combustíveis e supermercados atrás dos produtos que faltaram no período, estendendo o desabastecimento.

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