Incertezas devem afetar aportes externos no País

Esses investimentos, segundo economistas, são importantes para a recuperação econômica do Brasil

Escrito por Yohanna Pinheiro - Repórter ,
Legenda: Para os economistas Carlos Manso e Célio Fernando, decisão do Reino Unido pode gerar fuga de recursos e efeito dominó na UE
Foto: FOTOS: Francisco Viana/ Tuno Vieira

O mercado financeiro foi abalado por uma avalanche, na sexta-feira (24), com a decisão da maioria da população do Reino Unido de deixar a União Europeia. Ainda que a medida não tenha impactos diretos sobre o mercado brasileiro, especialistas temem a ocorrência de um "efeito dominó" em que outros países saiam do bloco - com a instabilidade, investimentos externos devem ser impactados, o que pode afetar a recuperação da economia nacional e, na mesma tendência, a do Ceará.

Para o economista Carlos Manso, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), a mudança acontece em um mau momento para o País, que vive uma situação difícil e tenta se equilibrar financeiramente. Ele aponta que o melhor cenário para a economia brasileira se recuperar seria ter uma receita externa positiva, mas isso pode ser afetado pelo aumento de incertezas no mercado provocada pela decisão do Reino Unido, provocando a fuga de riscos por investidores do exterior. "Pode ser mais complicado ainda para retomar o crescimento do País, que precisa dos investimentos externos", pontua o especialista.

Impacto

Outra preocupação, segundo Manso, diz respeito ao impacto que essa mudança terá sobre o mercado da China, que tem uma relação forte com o Reino Unido. "A maneira que esse fato vai refletir nos negócios entre os dois países nos interessa de perto, porque a China é uma parceira fundamental do Brasil e está passando por um processo de desaceleração", alerta.

Também fica para segundo plano um possível acordo econômico entre o Mercosul e a União Europeia, que estava sendo encaminhado, mas ainda sem quaisquer definições entre os dois blocos a respeito de como esse acordo se daria. "Agora, vai demorar mais ainda, porque isso não será mais priorizado. O bloco europeu vai privilegiar questões internas e esse acordo, que já se arrastava, vai ficar ainda mais distante", destaca o economista. No entanto, a mudança pode ter pelo menos um efeito positivo, segundo Manso, a partir da possibilidade de estabelecimento de relações bilaterais entre o Brasil e o país britânico.

"A União Europeia tem alguns impedimentos hoje que, agora, poderiam ser rediscutidas diretamente com o Reino Unido", pondera Carlos Manso.

Preocupação imediata

Já o economista Célio Fernando aponta que a preocupação imediata é que outros países sigam os passos do Reino Unido e deixem a União Europeia, o que provocaria o enfraquecimento do bloco e a necessidade de refazer alianças econômicas. "Há o prenúncio de uma crise", aponta. "O grande problema agora é o efeito dominó".

Discursos favoráveis à saída do bloco já foram ouvidos em países como França e Holanda, entre outros, por grupos que também procuram emplacar um referendo para decidir a questão. "Os principais pilares da União Europeia são Alemanha, França e Reino Unido. Se sair a França, como vai ficar? Só a Alemanha? Isso cria expectativas negativas", aponta.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Ceará exportou US$ 347 milhões para o bloco europeu no ano passado. No País,17,7% do total de exportações em 2015 foram destinados a países do bloco, totalizando US$ 33,9 bilhões.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

No longo prazo, Ceará pode ser prejudicado

A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia é economicamente muito ruim para eles, posto que seus principais parceiros comerciais estão na Europa, a exemplo da Alemanha. Desta forma, com suas mercadorias perdendo competitividade e o próprio clima interno de instabilidade, já que a Escócia e Irlanda do Norte discordaram completamente da decisão final do plebiscito, eles terão muita dificuldade para manter um crescimento elevado nos próximos anos. Isso, no longo prazo, afeta todas as relações que possui, inclusive com o Brasil. No Ceará, por exemplo, o Reino Unido já vem perdendo importância na pauta de exportações. Chegamos a exportar US$ 90 milhões por ano para lá, mas, em 2015, quando eles ainda eram o 5º parceiro mais importante do Estado, fechamos com US$ 50 milhões. Atualmente, eles já caíram para a 6ª posição em importância e, com a tendência de diminuição do ritmo econômico, prevejo que eles importarão cada vez menos mercadorias cearenses, como melão, melancia, mel, banana, castanha e até itens da nossa indústria calçadista. Isso só será revertido se o Brasil fechar um acordo de livre comércio com o Reino Unido, algo que o País tem priorizado ao longo dos últimos meses.

Guilherme Muchale
Economista da Fiec

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