Inadimplência em condomínios chega a bater 25%

O reajuste de mão de obra é mais um item que deverá impactar os custos dos condomínios, favorecendo atrasos

Escrito por Bruno Cabral - Repórter ,
Legenda: Conforme o Secovi-CE, caso os pleitos dos sindicatos laborais sejam atendidos, a inadimplência nos condomínios pode ter aumento de 50%
Foto: Foto: Kid Júnior

Assim como tem ocorrido com setores relacionados ao consumo, a inadimplência nos condomínios residenciais de Fortaleza vem crescendo nos últimos dois anos, em consequência da crise econômica. Dentre os principais fatores para o não pagamento das mensalidades estão a alta do desemprego, a inflação e a queda da renda familiar. Em média, a inadimplência nos condomínios na Capital era de 10%, antes da crise, mas no último trimestre há casos em que o índice chega a 25%.

"Estamos passando por um momento delicado na conjuntura nacional, com a baixa da atividade econômica. Se um ente do casal perde o emprego ou mesmo se é um profissional liberal, isso impacta na renda e também na inadimplência do condomínio", diz Sérgio Porto, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Locação do Ceará (Secovi-CE). De acordo com Raphael Mota, diretor do Grupo Gestart, responsável pela gestão de mais de 130 condomínios em Fortaleza e Região Metropolitana, de dezembro de 2014 até maio deste ano, a inadimplência saltou mais de 25% entre seus clientes.

"O que a gente vê é que as taxas de condomínio vêm registrando aumento acima da inflação. As contas de água e luz, que representam a segunda maior despesa do condomínio, subiram muito acima da inflação no período. Então isso dificulta o pagamento da taxa", diz Mota. "Do fim do ano passado para cá, muitas pessoas perderam o emprego e nas suas listas de prioridade estão os gastos com alimentos, energia e cartão de crédito. Em geral, o condomínio fica de fora dessa lista".

Pleitos laborais

Enquanto enfrenta os altos índices de inadimplência, o Secovi-CE negocia com os sindicatos de empregados de condomínios e de empresas de administração de imóveis os reajustes da categoria. Segundo Sérgio Porto, caso os pleitos dos sindicatos laborais forem acolhidos, a tendência é de que a inadimplência aumente ainda mais. "Hoje você iria agravar a inadimplência e poderia chegar ao cenário de atrasar o salário de funcionários, o que não ocorre", diz Porto. "Acredito que este não é o momento de se contemplar ganhos salariais ou vantagens adicionais. Para nós o momento é de garantir o emprego. Pois na grande maioria dos condomínios não temos atrasos. Eles têm sido corretos com suas obrigações e querem continuar assim". Entre os pleitos, os trabalhadores reivindicam 30% de reajuste salarial com antecipação da data base em oito meses, aumento em 48% no reajuste de porteiro, de 55% do vale alimentação, e 30% de periculosidade devido aos assaltos em Fortaleza. Porto diz que a proposta é manter os benefícios dos empregados e repor "boa parte" da inflação até o próximo ano. "Nos últimos 10 anos, sempre houve um crescimento da massa salarial dos empregados e esse seria o primeiro ano que nós estamos pedindo para segurar um pouco".

A vice-presidente de Condomínios do Secovi-CE, Lílian Alves Gonçalves, diz que, no momento atual, os percentuais são inviáveis. Ela diz que, no caso de atendimento das reivindicações, a inadimplência pode ter aumento de 50%. Para o condômino que está com o condomínio atrasado, Raphael Mota recomenda que primeiro busque negociar a dívida com a administradora ou com o síndico, para evitar que os encargos dificultem ainda mais a quitação.

"Normalmente o condomínio pede um percentual de entrada e flexibiliza os parcelamentos", ele diz. No entanto, Mota ressalta que os condomínios com menos de 20 unidades têm menor margem para os parcelamentos. Entre os condôminos com pagamento atrasado, cerca de dois terços devem até três mensalidades. E, segundo Mota, cerca de 35% dos casos de inadimplência acabam na justiça.

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