Foster sai; Petrobras sob novo comando amanhã

Comunicado oficial de que a presidente sairia veio ontem, quando a CVM cobrou explicações da estatal

Escrito por Redação ,
Legenda: Renúncia foi acertada após reunião com a presidente Dilma
Foto: Foto:Agência O Globo

Brasília/São Paulo. A presidente da Petrobras, Graça Foster, e outros cinco diretores renunciaram ao cargo, informou a estatal ontem. Em comunicado ao mercado emitido na manhã desta quarta, a empresa afirma que "o Conselho de Administração se reunirá na próxima sexta-feira, dia 06.02.2015, para eleger nova Diretoria face à renúncia da Presidente e de cinco Diretores". A nota da Petrobras atende a pedido da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a xerife do mercado financeiro.

> Mudança é tardia e não resolve problemas

A permanência de Foster no cargo ficou insustentável em meio às denúncias de corrupção na Petrobras, levantadas na Operação Lava Jato, e ineficiência na execução de projetos. Na sexta (30), Graça reclamou com a presidente sobre a pressão que vem sofrendo e colocou, novamente, seu cargo à disposição.

Perdas nos ativos

Ao contrário das negativas anteriores, desta vez Dilma concordou com a saída da auxiliar, de quem é amiga. A posição de Dilma só mudou depois que o Conselho de Administração da empresa divulgou, na semana passada, uma baixa em seus ativos da ordem de R$ 88 bilhões, fruto de desvios e ineficiência na execução de projetos.

O número acabou fora do balanço não auditado referente ao terceiro trimestre de 2014, mas enfureceu Dilma, que considerou a conta descabida e superestimada. Para ela, conforme definiram assessores, a sua mera divulgação foi um "tiro no pé".

O episódio acabou deteriorando ainda mais a situação financeira da Petrobras, que perdeu quase 3/4 de seu valor de mercado nos últimos anos devido à política de investimentos.

Possíveis nomes

A troca na presidência da estatal só não ocorreu ainda por falta de um sucessor imediato a Graça Foster. Alguns dos cotados mostraram resistência em assumir o cargo antes da atual diretoria resolver os problemas do balanço financeiro da empresa.

O Palácio do Planalto procura um nome de fora da companhia, de preferência do mercado, que dê um choque de credibilidade à empresa. Dilma deflagrou no fim da semana passada o processo de escolha de possíveis substitutos para o comando da Petrobras. A operação ficou a cargo do ministro Joaquim Levy (Fazenda). Na próxima sexta (6), o ex-presidente Lula deve sugerir Henrique Meirelles para a vaga. Outro que está no radar é Murilo Ferreira, da Vale. O mercado espera uma opção menos identificada com Dilma, assim como foi feito na Fazenda.

Alguns executivos foram sondados para ocupar o Conselho de Administração da Petrobras, mas a não divulgação do prejuízo com a corrupção adiou a definição do chamado "grupo de notáveis".

Mercado vê como positiva saída de CEO da estatal

Rio .O economista Roberto Teixeira da Costa, que foi o primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e que atualmente preside a Câmara de Arbitragem do Mercado da BM&FBovespa, considerou positiva, do ponto de vista do mercado, a saída da presidenta da Petrobras, Graça Foster.

Com base em sua experiência em mais de 25 conselhos empresariais, Teixeira da Costa disse que todo negócio é baseado no fator confiança. "Quando esse fator desaparece, não adianta ficar buscando se houve responsabilidades, participação ou interação com o processo que aconteceu. A perda da confiança é fatal para uma empresa, para um país e para uma pessoa".

Para ele, a saída de Foster e da diretoria da Petrobras era, de certa maneira, uma coisa previsível devido ao desgaste pelo qual a companhia vem passando. O anúncio da saída fez as ações da empresa voltarem a subir no mercado. Na terça-feira (3), as ações preferenciais da Petrobras fecharam em alta de 15,47%.

Segundo Teixeira, após o desgaste pela perda de confiança, a fase que se avizinha é a da escolha dos novos dirigentes da estatal, dos processos de gestão e das medidas que serão tomadas. A experiência e o 'background' (conhecimento) são fatores importantes para o novo gestor da empresa, disse o economista. "É preciso saber quais são os seus planos e como ele pretende operar, ou seja, quais são as políticas que ele irá adotar na empresa".

Novo gestor

"Preferivelmente", o novo dirigente da Petrobras deve ser uma pessoa mais jovem, que traga uma visão mais contemporânea à empresa, disse Teixeira da Costa, que considera excelentes os nomes lembrados para substituir Graça Foster. Entre eles, citou os ex-presidentes da Vale, Roger Agnelli, do Banco Central, Henrique Meirelles, da BR Distribuidora, Rodolfo Landim. Teixeira da Costa disse, porém, preferir "qualquer nome que não fosse um dos três". "Alguma novidade, alguém que pudesse me surpreender", enfatizou. Entre os três nomes apontados, o melhor, para ele, "seria Landim porque tem o 'background' da casa".

Fique por dentro

De estagiária a presidente da companhia

Maria das Graças Silva Foster nasceu em Caratinga, um município no interior de Minas Gerais. Sua infância foi vivida no Morro do Adeus, no Rio de Janeiro, que hoje integra o Complexo do Alemão. Até os 12 anos, ela catou papel e lata na rua para custear os estudos. Formou-se em engenharia química pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1978, ano em que entrou na Petrobras como estagiária, aos 24 anos. Ao longo de sua carreira na estatal, Foster também fez mestrado em engenharia de fluidos, pós-graduação em engenharia nuclear e MBA em economia. Assumiu a presidência da petroleira em 13 de fevereiro de 2012, tornando-se a primeira mulher do mundo a comandar uma empresa de petróleo de grande porte. Ela foi a escolhida para substituir José Sergio Gabrielli.

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