Fortaleza tem 6º maior déficit do País

O alto preço do aluguel dos imóveis na Capital cearense é um dos principais fatores que reforçam a situação

Escrito por Redação ,
Legenda: Para Elton e Lene, moradores do Centro, sonho da casa própria ainda está distante
Foto: Foto: Waleska Santiago

Ocupar áreas de risco, em moradias improvisadas e sem acesso à infraestrutura básica como saneamento e água encanada, apesar de serem fatores característicos da situação de déficit habitacional, não são os únicos componentes do problema da habitação em Fortaleza. Afastando-se um pouco do perfil das zonas mais pobres da cidade, bairros como Parquelândia, Monte Castelo, Benfica, Parangaba, Montese e outros a oeste do Centro da cidade são os que concentram um dos tipos mais comuns do déficit da Capital: o alto preço do aluguel dos imóveis. Associada a outros fatores, como o compartilhamento de uma casa por mais de uma família, essa situação coloca Fortaleza como a sexta cidade com maior déficit habitacional dentre as capitais brasileiras, com carência de 95.166 unidades habitacionais, de acordo com os dados de 2010 do Ministério das Cidades.

Levantamentos mais recentes, realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) trazem a Região Metropolitana de Fortaleza com um déficit de mais de 120 mil habitações em 2012, resultado de um crescimento de 10,84% em cinco anos. "Cerca de 75% da população da região metropolitana vive em Fortaleza, então, boa parte do déficit está aqui", analisa o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará e pesquisador do Observatório das Metrópoles, Renato Pequeno.

O contexto de pobreza e desigualdade percebido em Fortaleza é o principal motivo para esse cenário de deficiência habitacional que se desenha na cidade, na visão do professor. A abundância de áreas de favela, que hoje abrigam cerca de 40% da população do município, segundo ele, reflete bem essa situação.

"Uma das causas desse déficit são as condições de salários das pessoas, que têm renda muito baixa. Elas não têm acesso à moradia e vão alugar casas, e hoje, elas preferem morar de aluguel num bairro mais próximo do centro do que morar em um bairro mais distante. Com isso, vai pagar um aluguel mais caro do que podia e acabar comprometendo a qualidade de vida", explica o professor, salientando que os casos em que o valor do aluguel ultrapassa 30% da renda da família também são considerados déficit habitacional.

Coabitação

A busca por uma moradia bem localizada leva também a outro processo: a coabitação, quando mais de um núcleo familiar habita uma mesma casa. "No Campo do América, por exemplo, as casas são bem pequenas mas, pela localização, mais de uma família mora nesses espaços", exemplifica o professor.

A situação de coabitação também é bastante percebida, segundo Pequeno, em bairros como Barra do Ceará, Pirambu, Jardim Iracema e Jacarecanga.

Aquisição ainda distante

Residindo em apartamento no Centro, o fotógrafo Elton Gomes, 32, e a vendedora Lene Silva Duarte, 31, não se encaixam no perfil de déficit causado pelo alto valor do aluguel, mas admitem que a parcela mensal pesa um pouco no orçamento. Moradores do bairro há cinco anos, eles reconhecem que os planos para a aquisição do próprio imóvel ainda estão distantes por conta da dificuldade em aliar o valor que eles podem pagar a uma boa localização da casa.

"Aqui eu posso morar e trabalhar, é melhor porque fico mais perto dos meus clientes. Antes, meu escritório era no Henrique Jorge, e ficava muito complicado", explica Elton.

Os investimentos imobiliários almejados pelo casal projetam um objetivo diferente, segundo ele. "Uma das formas que eu penso é comprar um terreno em Maranguape ou Maracanaú, que tem custo baixo mas são áreas que vão se valorizar em cinco ou dez anos, construir casas lá para alugar e, com esse dinheiro, bancar minha casa aqui", explica o fotógrafo.

Os planos de Elton revelam um novo perfil de habitação que vem se consolidando, segundo o professor Renato Pequeno, voltado para pessoas que querem morar em núcleos urbanos mas, devido à incompatibilidade da renda, acabam migrando para a região metropolitana.

"Não são moradias de alta renda e nem as moradias de interesse social, construídas pelo governo. É um novo segmento que o mercado imobiliário está atendendo, as habitações econômicas", acrescenta Pequeno. Esse tipo de moradia também vem crescendo em bairros da Capital como Passaré, Maraponga e Mondubim, ainda de acordo com o professor.

(JC)

 

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