EUA têm interesse nas áreas de energia e têxtil

O Estado também pode aprofundar as relações comerciais com os Estados Unidos na infraestrutura

Escrito por Carol Kossling - Repórter ,
Legenda: O cônsul geral dos EUA para o Nordeste, Richard Reiter, esteve na Fiec e disse que "o momento é oportuno para aprofundar os laços diretos"
Foto: Foto: Giovanni Santos

Com a chegada do presidente Donald Trump à Casa Branca, as relações comerciais com os países estrangeiros ainda estão incertas. Isso vale para o Brasil e, consequentemente, para o Ceará, que aumentou a balança comercial com o país americano no último ano em mais de 300%. Especialistas acreditam que os acordos bilaterais sejam uma alternativa para este momento e manteriam uma relação estável entre Brasil e Estados Unidos. Entre os setores que o Brasil pode exportar, e o Ceará se destaca, estão energias renováveis, infraestrutura e indústria têxtil.

No acumulado dos meses de janeiro e fevereiro deste ano, segundo dados do Centro Internacional de Negócios (CIN), o Ceará exportou US$ 60,8 milhões e importou US$ 39,9 milhões com um resultado positivo de US$ 23,9 milhões, o que significa 348,61% a mais que em 2016, quando o balanço comercial registrado foi de US$ 5,3 milhões. Entre os produtos cearenses mais exportados para terras americanas no ano passado estão calçados e polainas, com US$ 77,6 milhões; frutas, cascas de frutos cítricos e de melões (US$ 60,7 milhões); e sucos e demais preparações de produtos hortícolas (US$ 52,4 milhões).

Para o cônsul geral dos Estados Unidos para o Nordeste, Richard Reiter, uma relação bilateral entre os EUA e o Brasil ainda deve ser analisada. "Vamos ver. O Brasil é membro do Mercosul e os Estados Unidos têm relações. Acho que o momento é oportuno para aprofundar os laços diretos, bilaterais. Ainda é cedo para dizer", declarou, durante o Fórum de Comércio Exterior, realizado pela American Chamber of Commerce for Brazil (Amcham) na Federação das Indústrias do Ceará (Fiec).

Barreiras

Um desafio a ser vencido para Reiter ainda é o custo do Brasil. "O americano olha o Brasil como um mercado rico. Um país enorme e estável, mas que tem várias barreiras para enfrentar. A primeira é o custo de fazer negócios que é alto, tem tributação, mão de obra, formação de funcionários, tudo é caro", ressalta. Para o Ceará, o primeiro passo é se mostrar para os americanos. "É preciso se vender melhor. O empresário americano pensa em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Bahia e Recife", disse.

Para o professor e mestre em economia, Gustavo Zech Sylvestre, que também palestrou no fórum, hoje, no âmbito da economia acadêmica, percebe-se uma mudança de visão no mundo no sentido de acordos mais bilaterais do que por blocos. "Pois eles (blocos) não pegam todas as variáveis de um determinado país ou determinada situação econômica daquele país. Quando você trabalha no bloco fica mais difícil você conseguir trazer uma relação de benefícios mútuos. Um exemplo é Estados Unidos e Mercosul", explica.

Sylvestre informa que os economistas estão analisando uma mudança de pensamento de acordos bilaterais. "Seria uma saída híbrida, levando em consideração um não nacionalismo exacerbado como a gente tem observado alguns de extrema direita e nem também um liberalismo insensato que vai depredar a economia. Os acordos bilaterais levam em consideração o que há de melhor e as situações mais delicadas de cada país. Teria um benefício maior", diz.

O mestre em economia ainda reforça que o Ceará faz parte de menos de 1% do comércio exterior brasileiro. "Tem muito espaço para o Brasil crescer no cenário internacional e o Ceará é muito significativo na economia brasileira, e vem se destacando ao longo das últimas duas décadas", destacou. Hoje, a representatividade brasileira no comércio exterior ainda é bem pequena, menos que 2%.

Diálogos abertos

O cônsul americano destacou que, desde a época da ex-presidente Dilma Rousseff, existem 20 diálogos para acordos com o Brasil nos setores de aviação, construção, investimentos e energia. "Estamos olhando para este prato cheio para ver onde faremos os avanços". Segundo o cônsul, Trump está em contato com o governo federal e aguardo uma visita do presidente Michel Temer.

Atualmente, os EUA são o 2º maior parceiro comercial do Brasil. Em 2016, a corrente de comércio bilateral chegou a quase US$ 47 bilhões, com exportações e importações equilibradas na casa dos US$ 23 bilhões.

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