Estado elimina 33,4 mil vagas; 1ª queda em 13 anos

A retração anual de 2,71% foi puxada por dois setores: indústria de transformação e construção civil

Escrito por Fernanda Cavalli - Especial para Negócios ,
Legenda: A construção civil foi um dos setores que mais demitiu, com o fechamento de 11.892 postos de trabalho no ano passado
Foto: Foto: José Leomar

Depois de consecutivos saldos positivos em relação à geração de empregos no Ceará, os trabalhadores estão sentindo o peso do ano de 2015, período em que foram fechadas 33.411 vagas formais. Foi a primeira vez, desde 2003, que o Estado encerrou o ano com saldo negativo. A queda anual de 2,71% foi puxada principalmente pela indústria de transformação e pela construção civil, com o fechamento de 17.328 e 11.892 postos, respectivamente. É o que mostram os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem.

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Em 2014, o Estado teve um aumento de 47.372 vagas de empregos, mas o saldo já era menor que o registrado em 2013, quando o acréscimo foi de 50.206 postos. Do total de vagas perdidas em 2015, a Região Metropolitana de Fortaleza registrou redução de 29.682 postos.

O coordenador de Estudos e Análise de Mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita, explica que o resultado negativo já era esperado pela instituição, entretanto o número alto de cortes surpreendeu. "O segundo semestre, que é um período que tradicionalmente tem melhora no mercado de trabalho, teve um comportamento contrário, registrando queda. Em 2015, nós conseguimos perder o equivalente a três anos de crescimento em apenas um ano".

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O comércio cearense encerrou o ano passado com um decréscimo de 3.147 postos de trabalhos formais, enquanto que o setor de serviços ficou com um saldo negativo de 3.094 vagas.

Cenário preocupante

Mesquita explica que vários fatores influenciaram na queda dos vagas de trabalho. "Você vê um cenário econômico que já é preocupante. Os indicadores macroeconômicos mostravam declínio, além da instabilidade política que contribuiu para esse resultado que já vinha desde 2011 se deteriorando". A instabilidade no mercado internacional, o preço das commodities, a taxa de inflação elevada e o aumento de juros são outros fatores que influenciam o aumento do desemprego, de acordo com especialista.

Para 2016 a tendência é continuar na elevação de desemprego e na queda de oferta de trabalho, lamenta Mesquita. "A gente tem que puxar um debate, porque realmente a tendência é de piora, para reverter este cenário deve haver um aumento do emprego com carteira e proteção social e um aumento do padrão de remuneração", defende.

Municípios

Somente em Fortaleza, 16.323 pessoas foram contratadas em 2015, enquanto que 19.559 foram demitidas, gerando um saldo negativo de 3.236 postos de trabalho. No interior do Estado, o município que registrou o maior número de desligamentos foi Juazeiro do Norte, com o fechamento de 318 vagas.

Indústria

O setor da indústria de transformação foi o que mais fechou empregos em 2015. O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Beto Studart, enfatiza que o fechamento de vagas não é um problema local, e sim, nacional. "Nós fechamos o ano com 1,5 milhão de desempregados. Isso (saldo negativo do Ceará) representa parte desse 1,5 milhão. Em 2016, podemos ir pra mais de 2 milhões no desemprego".

Ele lamenta a depressão econômica que o País vive, definindo o cenário como "crítico". "A nossa intenção é que a gente tenha fôlego pra superar isso a partir de 2018, porque não pode continuar dessa forma".

Construção

A construção civil foi o segundo setor que mais fechou vagas no ano passado. No acumulado dos 12 meses foi registrado decréscimo de 11.892 postos, enquanto que apenas no mês de dezembro, a queda foi de 4.810 vagas formais. Na comparação mensal, o setor liderou as demissões.

O presidente do Sindicato das Construtoras (Sinduscon), André Montenegro, comenta que normalmente o setor é um dos primeiros que sofrem com o desemprego. Em 2015, vários fatores prejudicaram a construção, como o aumento do preço dos insumos e a queda na desoneração da folha. "Ainda bloquearam o crédito e dificultaram o acesso das pessoas ao crédito", diz, explicando que antes, 90% do valor de um novo empreendimento era financiado, hoje, o número caiu para 80%.

Em relação às obras públicas, o presidente do Sinduscon lamenta o atraso do governo no pagamento às construtoras, resultando na paralisação de diversas operações. "A nossa atividade está sendo muito prejudicada, como ainda não apareceu a luz no fim do túnel, está sendo evitado o lançamento de novos empreendimentos".

Brasil

O mercado de trabalho brasileiro registrou forte retração em 2015, com o fechamento de 1,5 milhão de empregos com carteira assinada. O resultado é o pior dos últimos 24 anos. O mês de dezembro foi responsável por mais de um terço do dado negativo de 2015, com - 596 mil vagas.

O saldo registrado no ano passado foi inferior ao de 2014, quando o País gerou 420 mil empregos formais, pela série com ajuste. Com o dado negativo de 2015, o estoque de empregos no País - que vinha em crescimento contínuo até 2014 - caiu 3,7%, retrocedendo ao patamar observado em 2012.

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