Escassez de chuvas compromete Festa Anual das Árvores no Ceará

Escrito por Redação ,
Em virtude do período de estiagem, o Conpam não promoverá a distribuição de mudas como parte dos festejos

Na última semana de março, comemora-se no Norte e Nordeste a Festa Anual das Árvores. A data ganha em importância para os cearenses após o lançamento da campanha "Plante uma árvore. Semeie esta ideia!", do Grupo Edson Queiroz, que completou um ano no mês passado.


O Movimento Pró-Árvore defende também a preservação de árvores antigas Foto: Viviane Pinheiro

Para a arquiteta, urbanista, pesquisadora e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fernanda Rocha, "o fato de termos um grupo empresarial desse porte com a preocupação de arborizar a cidade é algo muito positivo no sentido de uma possível abrangência e repercussão social, e demonstra o quanto antes estas ações são, nesse momento, imprescindíveis, seja no campo individual, empresarial ou de grupos não governamentais, para que se possa obter respostas mais efetivas do poder público, através de resultados práticos e integrados de seus desdobramentos".

A especialista lembra que cada um de nós é responsável pelas melhorias que desejamos, e, assim, "é necessário plantar árvores que sejam adequadas ao nosso contexto ambiental e espacial, cuidar do seu desenvolvimento e, principalmente, manter sempre presente esta ideia como compromisso, inclusive no que se refere à manutenção do pouco que possuímos consolidado, para que não estejamos sempre correndo para recuperar o prejuízo".

No rastro da campanha "Plante uma árvore. Semeie esta ideia!", Fernanda Rocha aponta que é fundamental reforçar ações educativas em vários níveis, conjuntamente com a cobrança de iniciativas planejadas e efetivas dos poderes constituídos na implementação de melhorias significativas do ambiente em que vivemos".

Pró-Arvore

Outra iniciativa de grande relevância para tornar Fortaleza uma cidade mais arborizada é o Movimento Pró-Árvore, um coletivo multidisciplinar surgido em setembro de 2011.

Um dos seus idealizadores, o engenheiro agrônomo e botânico Antônio Sérgio Castro, conta que a entidade mantém a ideia compartilhada "por cidadãos conscientes da importância das árvores e áreas verdes para a qualidade de vida de todos que vivem em cidades ou fora delas, pois tratam-se de seres que possuem inúmeros benefícios, desde a sombra, filtro de poluentes e barulho, maior infiltração de água, reduzindo os efeitos de grandes chuvas, bem-estar psicológico e sequestro de carbono, dentre outros".

Para ele, Fortaleza historicamente vem desprezando sua natureza, "jamais tratando as árvores como prioridade e sim como um problema a ser contornado quando as mesmas entram em conflito com alguma edificação ou fiação elétrica".

Antônio Sérgio faz um alerta sobre os cuidados que se devem ter. "Primeiramente, quanto à escolha das espécies adequadas, priorizando as nativas. Depois, a escolha do local, espaço, largura da calçada. Daí, a feitura do berço, que é o buraco onde será plantada a muda, com 40cm x 40cm e mesma profundidade, regas periódicas, tutoramento e o acompanhamento e manutenção por, no mínimo, dois anos, limpando o mato, aprumando a muda, tratando as pragas e doenças que ocorram, colocando adubo", explica.

Se esses passos não forem seguidos, esclarece Antônio Sérgio, as mudas serão plantadas, mas morrerão em pouco tempo. "É preciso ter consciência que plantar é apenas o primeiro passo", enfatiza.

Outro alerta importante feito pelo botânico diz respeito às árvores que devem ser evitadas. "É preciso ter cuidado com as exóticas invasoras como o nim (Azadirachta indica), a azeitona (Syzygium cumini), o mata-fome (Pithecellobium dulce), a esponjinha (Albizia lebbeck) e a leucena (Leucaena leucocephala). Elas se propagam com muito vigor e ocupam áreas naturais, impedindo a regeneração na vegetação nativa. Nossos baixios estão tomados por essas plantas".

Por outro lado, são recomendadas a peroba (Tabebuia roseoalba), carnaúba (Tabebuia aurea), oiti (Licania tomentosa), ipês roxo e amarelo (Handroanthus spp), pau-branco (Cordia oncocalyx), jatobá (Hymenaea courbaril), bordão-de-velho (Samanea tubulosa), oiticica (Licania rigida), sabonete (Sapindus saponaria) e trapiá (Crateva tapia).

Antônio Sérgio defende que, "para que se alcance um espaço urbano habitável, acolhedor e realmente agradável para os seres humanos, é urgente e absolutamente necessário que ele passe a ser pensado e planejado conjuntamente por urbanistas e por aqueles profissionais especializados na parte viva da paisagem, como botânicos, agrônomos, geógrafos, ecólogos etc."

Estiagem

A programação oficial para comemorar a festa anual das árvores está comprometida por causa do período de estiagem prolongado pelo qual passa o Ceará. "Não pretendemos distribuir mudas por considerarmos a estação chuvosa por demais irregular. Dessa forma, só iremos promover arborização em locais onde se constatar que as mudas serão realmente bem cuidadas", revela a coordenadora de Educação Ambiental e Articulação do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), Maria José Holanda.

Apesar disso, Maria José destaca que o órgão está apoiando a Semana da Água e da Árvore no município do Crato. Nas 23 Unidades de Conservação (UCs) existentes no Estado e gerenciadas pelo Conpam, também haverá programação que constará de plantio, palestras, visitas guiadas e acompanhamento de trilhas ecológicas, dentre outras atividades. A abertura da festa está programada para o próximo dia 22 de março, às 9 horas, na sede da Unidade de Conservação do Pecém.

FIQUE POR DENTRO
Comemorações ocorrem em datas diferentes

A Festa Anual das Árvores é comemorada em períodos diferentes. No Nordeste e Norte, na última semana de março; no restante do Brasil, em setembro. O principal motivo para essa distinção é que aqui, tão perto do Equador, as quatro estações não são tão definidas e o período mais propício para o plantio é o chuvoso, no caso do Ceará, de fevereiro a maio. A mais tradicional forma de comemorar a data é plantando árvores. Para tal, a irrigação é fundamental. Por todas essas questões é que o governo federal criou o decreto federal de número 55.795, de 24 de fevereiro de 1965, que estabelece, no seu artigo terceiro, "em razão das diferentes características fisiográfico-climáticas do Brasil, comemorar a data em 21 de setembro nas demais regiões e na última semana de março nas regiões do Norte e do Nordeste".

FERNANDO MAIA
REPÓRTER

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