Eólica: Ceará precisa de bons ventos para retomar liderança

Depois de cair para a terceira posição em capacidade instalada, o Estado se vê cada vez mais ameaçado pelos vizinhos, que possuem mais projetos em execução

Escrito por Bruno Cabral - Repórter ,

Pioneiro na geração de energia eólica no País e com forte vocação para o setor, devido aos bons ventos durante praticamente o ano inteiro, o Ceará perdeu espaço nos últimos anos. Hoje, o Estado está atrás de Rio Grande do Norte (2,3 mil kW) e Rio Grande do Sul (1,53 mil kW) em potência instalada, e em breve deverá ser superado pela Bahia (1,21 mil kW), que possui 165 novos parques contratados, enquanto o Ceará tem apenas 60 empreendimentos, conforme indica dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

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No entanto, o ano de 2015 foi visto por muitos dos que atuam no setor, como um ponto de virada para a indústria eólica cearense, em particular, pelo apoio por parte do governo estadual aos empreendedores.

Espera-se que os resultados comecem a aparecer já nos próximos dois ou três anos. Até então líder nacional em energia eólica, em outubro de 2014 o Ceará foi ultrapassado pela primeira vez em capacidade instalada, pelo Rio Grande do Norte.

Atualmente, o Estado ocupa a terceira posição em potência instalada, com 1.233 mW, atrás do Rio Grande do Norte (2.390 mW) e do Rio Grande do Sul (1.531 mW). E, quando os empreendimentos de energia eólica já contratados forem concluídos, o Estado será ultrapassado também pela Bahia.

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Perspectivas positivas

As perspectivas, no entanto, são positivas. "Nós percebemos uma boa vontade política em receber esses investimentos, recebemos uma sinalização muito boa do governo", diz a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum. "O Estado é muito atrativo tanto para o investimento de fábricas, pela localização geográfica e do porto, como de parques, pelos bons ventos", afirma.

Elbia ressalta, porém, que não basta disposição política para que o Ceará volte à liderança. Afinal, observa, os estados concorrentes também contam com forte apoio de seus respectivos governos.

"O Ceará está se recuperando desde o ano passado. Foi assim que a Bahia e o Rio Grande do Norte se desenvolveram. Não se trata de incentivos fiscais, é a vontade de facilitar questões de licenças ambientais, de receber o investidor e tratá-lo bem. A perspectiva para o Estado é muito boa para 2016, mas as ações de 2015 irão aparecer em 2018", ela diz em alusão aos leilões de três anos (A-3).

Plano Estadual

Uma das metas do governo, prevista no Plano Estadual de Energia, é ocupar a liderança nacional em energias renováveis (que inclui além das eólicas as usinas solares, de biomassa, dentre outras), nos próximos 20 anos. Em 2015, o Governo do Estado criou a Secretaria Adjunta de Energia, Mineração e Telecomunicações, vinculada à Secretaria da Infraestrutura do Estado (Seinfra), com foco em energias renováveis.

De acordo com a Seinfra, ainda no primeiro trimestre de 2016, o Plano, que busca resolver gargalos do setor e estipula metas para o setor, deverá ser concluído.

A titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômica (SDE) do Ceará, Nicolle Barbosa, também destaca que o fato de o Estado ter aderido ao Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) 52/2015, que isenta o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para a microgeração, foi mais um incentivo para os investidores.

Empreendimentos

Hoje, são 44 empreendimentos eólicos em operação no Ceará, 29 em construção e 31 com construção não iniciada. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as eólicas são responsáveis por 38,57% da capacidade de geração do Estado, enquanto as termelétricas respondem por 61,11%.

Mas, para os próximos anos, após a conclusão dos empreendimentos contratados, a capacidade das eólicas irá superar a das térmicas, que serão responsáveis por 49,81% e 48,82%, respectivamente.

Para o empresário Fernando Ximenes, no entanto, apesar do empenho do governo estadual, o ano de 2015 poderia ter sido melhor se o setor tivesse se unido.

"Foi quebrada uma sequência de trabalho e desenvolvimento na Câmara Setorial Eólica", ele opina. Para Ximenes, o setor eólico perdeu o foco após a criação da Câmara Setorial de Energias Renováveis que, mais ampla, irá contemplar, além da área eólica, o segmento de geração de energia solar.

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