Economia Criativa ganha força

Mais de 5 mil empreendedores cearenses encontraram neste ramo, especialmente os ligados à moda, uma forma de desenvolver suas marcas próprias

Escrito por Jéssica Colaço - Repórter ,

Estampas chamativas, cortes ousados, tecidos exclusivos e modelos limitados. Nas etiquetas das roupas ou acessórios que vêm sendo produzidos seguindo uma lógica diferente na Capital, termos como "Feito à mão", "Produzido com amor" e "Pensado para você" evidenciam não apenas a exclusividade dessas peças, mas revelam uma intenção do produtor em se aproximar do cliente e desenvolver algo que se encaixe no gosto de quem compra, e não às tendências impostas pelo mercado.

Além do fator que valoriza uma identidade própria, essas marcas fazem parte de um importante nicho que tem se expandido cada vez mais no mercado cearense: a economia criativa, que contempla 5.639 produtores no Estado, entre microempreendedores, empreendedores individuais e empresas de pequeno porte, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

No País, a representatividade desse eixo é significativa: 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, ou R$ 126,1 milhões em produção, foi de responsabilidade do setor, segundo o Mapeamento das Indústrias Criativas no Brasil, realizado em 2014 pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). O mesmo levantamento apontou, ainda, que o total produzido pela economia criativa cresceu 69,8% entre 2004 e 2013.

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Expressão pelo trabalho

Surgida a partir de iniciativas em países como Nova Zelândia e Grã Bretanha, a economia criativa se consolidou no Brasil durante a gestão de Gilberto Gil à frente do Ministério da Cultura (MinC), entre 2003 e 2008, representando uma dimensão econômica da cultura.

O setor, ou a reunião de setores, como prefere chamar a pesquisadora e consultora em Políticas Públicas de Cultura e Economia Criativa Luciana Guilherme, contempla domínios como arquitetura, publicidade, games, tecnologia e design - este último, abrigando a moda.

"Quando a gente fala de Economia Criativa, fala principalmente do valor agregado na criação. É uma economia baseada no simbólico", descreve a pesquisadora. Do ponto de vista de quem empreende iniciativas nesse ramo, Luciana destaca a realização pessoal como um dos maiores incentivos para a criação dos negócios.

"A maioria aposta numa escolha de vida. Eles querem ganhar dinheiro, sim, mas, muito mais do que isso, eles querem se expressar através do seu trabalho", explica a pesquisadora.

Descentralizar crescimento

A construção desses símbolos sob o formato de negócio começa, na maioria das vezes, de forma despretensiosa, mas costuma crescer e tomar proporções que impactam, principalmente, na economia local, uma vez que toda a cadeia de produção - ou pelo menos a maior parte dela - envolve agentes da cidade.

"Esses micro e pequenos empreendimentos contribuem não só para a geração de emprego e renda, mas também são importantes para o desenvolvimento local descentralizado", expõe o coordenador-geral da Secretaria de Políticas Culturais do MinC, Gustavo Vidigal.

Ao traduzir com mais facilidade os valores da cultura local em seus negócios do que as grandes empresas de atuação nacional, essas empreitadas, complementa Vidigal, conseguem trazer o desenvolvimento "de baixo para cima". "O que importa são os repertórios simbólicos e como isso pode ser gestado de maneira a retornar para a própria comunidade", salienta.

Sem crise

E mesmo a crise econômica, que tem interferido nos mais diversos setores produtivos e rotinas de consumo, se apresenta de forma diferente nesse setor. "Relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) traz dados de que essas economias continuam avançando em tempos de crise, enquanto outros setores decrescem", afirma Vidigal.

Na capital cearense, esse crescimento "apesar da crise" e passando por cima de dificuldades se reflete em diversas marcas de moda autoral, que buscam criar uma identidade, no vestuário, difícil de encontrar nas peças produzidas pelos grandes conglomerados do sul do País. Seja na leveza dos tecidos, que se adequam melhor ao clima de Fortaleza, ou nas estampas e modelos, essas criações transparecem melhor o estilo de quem mora por aqui - e quer vestir o que é produzido em terras cearenses.

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