É hora de adotar medidas de economia de energia e água

Depois de 2001, os brasileiros passaram a poupar energia, mas relaxaram na economia nos últimos anos

Escrito por Redação ,

O baixo nível dos reservatórios, o crescimento contínuo do consumo de energia e o aumento dos custos das distribuidoras têm preocupado não apenas representantes do setor, mas também a população em geral, que teme um novo racionamento ainda neste ano. Todavia, mais do que simples espectadores desse cenário, os consumidores possuem participação significativa na situação alarmante enfrentada pelo setor elétrico, o qual ainda tem o desperdício como um dos principais obstáculos para sair da crise.

Para o especialista em eficiência energética e professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Tomaz Nunes, o racionamento adotado em 2001 "criou uma cultura de melhor utilização da energia", que persistiu logo após o fim da medida.

"Mas essa cultura, ao longo dos anos, foi sendo perdida. Hoje, o consumo de energia per capita (quanto cada brasileiro consome, em média) está muito semelhante ao de antes de 2001", aponta.

O professor cita um levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia (Abesco) segundo o qual a energia desperdiçada durante um ano, em todo o Brasil, seria suficiente para abastecer os estados do Ceará e do Rio de Janeiro por igual período. "E isso representa uma potência que equivale à metade da potência da Itaipu, que é a segunda maior usina hidrelétrica do mundo".

Campanha

Para Nunes, o governo deveria investir, o quanto antes, em uma campanha de conscientização sobre o desperdício de energia. "O equilíbrio entre oferta e demanda da energia elétrica tem que passar pelo consumidor também. Da mesma forma como houve campanha contra o tabagismo ou para usar o cinto de segurança, poderia ser feita uma nova ação alertando para a energia", ilustra. Conforme o especialista, a situação já delicada do setor energético deverá ser agravada caso a economia brasileira volte a crescer a um ritmo mais vertiginoso. O professor ressalta que a recomposição das águas dos reservatórios ocorre principalmente com a quadra chuvosa entre os meses de novembro e março, o que contribui para a expectativa de mais gastos elevados com as termelétricas e de um novo racionamento neste ano.

Ele salienta que o uso das térmicas - ainda que o governo pretenda impedir um reajuste expressivo na tarifa neste ano - deverá gerar aumento da conta de luz, sobretudo em 2015, caso a situação dos reservatórios continue a mesma. Na última quinta-feira, o nível dos reservatórios do País era de 35.84%.

Segundo o consultor em energia João Mamede, o desperdício de energia não se restringe ao uso doméstico, mas também existe de forma significativa na indústria, onde o uso de equipamentos antigos - sobretudo motores - provoca perdas que poderiam ser evitadas com novos investimentos.

Perdas na indústria

"São motores com baixo rendimento, que geram altas perdas. E essas indústrias não têm procurado fazer uma melhor gestão da energia", comenta, acrescentando que a compra de máquinas mais modernas geraria economia às empresas.

Mamede destaca que o governo já desempenha um trabalho de incentivo à aquisição de equipamentos e eletrodomésticos mais modernos, tanto no setor produtivo quanto no uso doméstico. Entretanto, diz, essas ações deveriam ser fortalecidas, sobretudo através de mais orientações à população sobre o tema.

Segundo o consultor, há "uma grande probabilidade" de haver racionamento de energia em 2014 ou 2015 - o que dependerá diretamente das chuvas nos próximos meses.

Novo pacote usará bancos públicos e até a Petrobras

Brasília. O novo pacote de salvamento das distribuidoras de energia vai usar os bancos públicos e até a Petrobras para resolver o rombo nas empresas do setor. E, para evitar que as contas de luz sofram reajuste significativo em 2015, o Tesouro poderá abrir mão do ressarcimento do dinheiro público já liberado para a redução das tarifas.

Um dia após o anúncio das medidas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, autoridades do setor ainda buscavam saídas regulatórias para possibilitar as operações previstas na nova engenharia financeira para salvar o caixa das distribuidoras.

Na quinta-feira (13), o governo anunciou novo aporte de R$ 4 bilhões, os quais o Tesouro já anunciou que não vai cobrar de volta. A maior parte do pacote de ajuda às distribuidoras - e a parcela que será repassada aos consumidores - está estimada em R$ 8 bilhões, que virão por meio de empréstimos obtidos pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. O presidente da instituição, Luiz Eduardo Barata, disse que deve procurar nas próximas semanas um pool de bancos públicos e privados para contratar os financiamentos.

Segundo Barata, os empréstimos serão tomados mês a mês, de acordo com as necessidades das distribuidoras. A terceira perna do pacote de ajuda é o leilão de 25 de abril, com início da entrega da eletricidade já em maio. Ontem, a Aneel revelou que a Petrobras terá papel importante, concorrendo com usinas térmicas a gás que estão apenas no mercado de curto prazo.

Bandeiras tarifárias não devem ser antecipadas

Brasília O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, disse ontem, que a antecipação do regime de bandeiras tarifárias não fez parte do pacote de medidas para o setor elétrico anunciadas na quinta-feira pelo governo porque ainda há imperfeições no modelo que deve entrar em vigor em janeiro de 2015.

No fim do ano passado, o órgão regulador postergou a entrada em funcionamento do novo modelo para o próximo ano. "Não achamos oportuno rever decisão de adiamento das bandeiras tarifárias. O assunto não estava maduro e com a compreensão suficiente para colocar em prática este ano", afirmou.

No regime de bandeiras tarifárias, os consumidores pagam um adicional nas contas de luz sempre que há crise energética e as distribuidoras precisam utilizar eletricidade mais cara das usinas térmicas. Por isso, caso as bandeiras já estivessem em vigor, os consumidores poderiam estar economizando energia, diminuindo a necessidade das distribuidoras em adquirem eletricidade mais cara no mercado de curto prazo. Segundo ele, a proposta já aprovada passará por ajustes até o fim deste ano.

"Do jeito que está, a bandeira vermelha é cobrada de todos os consumidores, inclusive os de distribuidoras que não estão expostas a essa energia mais cara", afirmou Rufino.

João Moura
Repórter

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