Dólar mantém escalada e quase bate R$ 2,90

Moeda norte-americana avançou 1,33%, a R$ 2,8742, maior nível de fechamento desde 19 de outubro de 2004

Escrito por Redação ,

São Paulo. O dólar deu continuidade à escalada das últimas sessões e subiu mais de 1% ontem, aproximando-se de R$ 2,90, pressionado por preocupações com a possibilidade de a deterioração dos fundamentos macroeconômicos do Brasil provocar um rebaixamento da dívida soberana do País. Por isso, o real mostrou desempenho pior do que grande parte de seus pares, que sofreram diante das incertezas sobre o futuro da Grécia na zona do euro.

A moeda norte-americana subiu 1,33%, a R$ 2,8742, maior nível de fechamento desde 19 de outubro de 2004. Na máxima da sessão, a divisa alcançou R$ 2,8834. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de US$ 1,9 bilhão. "O dólar está sem defesa", afirma o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho. "Aqui dentro está uma confusão e lá fora não ajuda, então o mercado puxa", complementa.

A forte queda das vendas no varejo brasileiro apurada em dezembro ante novembro foi o mais recente item adicionado à lista de notícias negativas sobre a perspectiva econômica doméstica. Investidores temem que a atividade econômica fraca possa levar o governo a voltar atrás em seus passos em direção a uma política econômica mais ortodoxa, defendida pela equipe econômica encabeçada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

A escalada do dólar desencadeou uma série de operações de compra automática de divisa, montadas por investidores vendidos para limitar suas perdas ("stop-loss"), o que acelerava o ritmo da apreciação. "Não bastasse todos os fundamentos, o fator técnico também está desfavorável (ao real)", disse o operador de câmbio da corretora Intercam, Glauber Romano.

Ibovespa recua 0,56%

A Bovespa não está conseguindo entusiasmar os investidores. O principal índice à vista ensaiou um dia de ganhos, mas ele não se sustentou, sucumbindo à aversão a risco que predominou nos mercados ontem. Petrobras e Vale, no entanto, subiram e ajudaram a conter um pouco o ímpeto de queda, mas ações relevantes como Bradesco, Itaú e Ambev pressionaram para baixo.

O Ibovespa terminou a sessão em queda de 0,56%, aos 48.239,67 pontos, menor nível desde o dia 2 de fevereiro (47.650,73 pontos). Na mínima, registrou 47.841 pontos (-1,38%) e, na máxima, 48.762 pontos (+0,52%). No mês, sobe 2,84% e, no ano, cai 3,53%. O giro financeiro totalizou R$ 6,972 bilhões.

Os papéis da Petrobras perderam participação na composição do Ibovespa, mas ganharam maior relevância no noticiário nos últimos tempos, com as denúncias de irregularidades da Operação Lava Jato pressionando. A primeira voltou a dizer que a estatal pode ser novamente rebaixada em mais de uma nota caso não consiga divulgar seus resultados financeiros dentro do prazo estabelecido. No começo do mês, a Fitch já reduziu o rating da estatal e colocou-os em observação negativa.

A ação ON subiu 0,23% e a PN, 1,23%. Vale terminou em alta de 3,43% na ON e de 2,88% na PNA. Bradesco PN recuou 2,70%, Itaú Unibanco PN, 2,70%, e Ambev ON, 0,78%.

Opinião do especialista

Sempre próximo dos R$ 3,00

A pressão sobre a moeda americana vem ocorrendo há cerca de dois anos. Em 2014, por exemplo, o dólar comercial subiu 13% e, em 2013, 15%. Se somarmos isso aos dois primeiros meses deste ano, observamos um avanço de mais de 30%, o que é bastante significativo. Tal pressão tem causas externas e afeta os países emergentes de um modo geral, como Brasil e Chile. A verdade é que desde que os Estados Unidos anunciou que mudaria sua política monetária, encerrando as injeções de dólar no mercado e subindo os juros, a moeda americana tem se valorizado. Fora isso, no caso do Brasil, há alguns fatores que deixam o real ainda mais desvalorizado ante o dólar. Ano passado, por exemplo, nossa balança comercial fechou com déficit, algo que não ocorria desde 2000. Isso sem falar que as agências de risco reduziram a nota de empresas brasileiras importantes e certos indicadores macroeconômicos, como inflação e PIB, têm apresentado resultados ruins. Acredito que, neste ano, a pressão sobre o dólar deve continuar, com a moeda americana sempre próxima dos R$ 3, embora a pesquisa Focus projete um fechamento a R$ 2,80 em 2015 e R$ 2,90 no fim de 2016. Vai depender muito de como o Banco Central vai lidar com tudo isso.

Ricardo Eleutério
Economista

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