Dólar agrava efeitos da crise

Enquanto os empresários reveem os investimentos, os consumidores revisam os gastos para diversos itens

Escrito por Redação ,

A escalada do preço da moeda americana - iniciada em novembro do ano passado e cujo ápice foi atingido em abril deste ano, com a cotação de R$ 3,29 - desencadeou consequências, de certa forma, já previstas pelo mercado: encarecimento dos produtos, instabilidade no cenário financeiro internacional e vantagens para a exportação. No Brasil, essa variação teve ainda outro efeito negativo, ou melhor, evidenciou a fragilidade de alguns nichos de consumo decorrentes do delicado momento econômico enfrentado pelo País.

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Essa sacudida no mercado afetou especialmente os importadores, que lançaram mão de diversas estratégias para manter a fidelidade do cliente e garantir que pelo menos uma pequena fatia do mercado consumidor alcance estabilidade em época de tantas incertezas econômicas.

"A gente nota que existe uma retração tanto pela alta do dólar como pela instabilidade da economia brasileira. Como as pessoas estão sem saber que rumos o País vai tomar, estão mudando as formas de negociar e comprar", demonstra a coordenadora do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Beatriz Dias Bezerra.

Dentre os importadores acompanhados pelo CIN, acrescenta a coordenadora, há reduções de compras internacionais que já chegam a 60%. Associada a essa queda nas compras, e consequentemente na variedade de estoque, o setor tem ainda que buscar maneiras de amenizar a elevação de preço dos produtos, manter a competitividade e não ser afetado pela redução do orçamento que os consumidores vêm destinando às compras.

Alternativas

Negociações com os fornecedores, substituição dos produtos, redução dos investimentos e até corte de pessoal entram na lista de medidas para segurar os negócios que dependem de itens internacionais dentro de uma curva ascendente do dólar.

"As empresas que devem em moeda estrangeira têm uma elevação do passivo, porque vão ter que vender em real e pagar em dólar", salienta o coordenador do Núcleo de Economia e Estratégia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Fernando Castelo Branco.

Ele destaca, ainda, o impacto desse aumento nas produções locais, mas que dependem de itens importados. "Os custos dos insumos importados vão impactar nos preços internos", explica, citando o trigo como um dos exemplos de insumos importados que mais interfere no mercado cearense, influenciando no preço do pão e de outras massas.

Vantagens existem

Nesse cenário de oscilação é possível também encontrar vantagens, garante o economista. A exportação é um dos setores mais beneficiados, ajudando a deixar mais equilibrada a balança comercial do Estado.

"Outro efeito positivo para a economia é que essa taxa elevada favorece o fluxo de capital estrangeiro para o País, direcionado para investimentos e aquisições de outras empresas", complementa Castelo Branco.

Empresas e pessoas físicas nacionais com reservas financeiras no exterior, diz ele, também procuram internacionalizar mais esses recursos, enquanto setores locais que sofriam com a competição dos produtos internacionais têm a chance de se ganhar um pouco mais de vantagem. Nessa balança, cada empresário vai buscando a sua maneira de se beneficiar ou escapar da onda incerta do dólar.

Jéssica Colaço
Repórter

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