Desemprego na RMF cresce mais entre negros

Segundo estudo do IDT, o nível de desemprego da população negra subiu de 8,7% a 13,4% entre 2015 e 2016

Escrito por Redação ,

Em queda até 2014, as desigualdades de condições de trabalho na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) voltaram a crescer em 2016 pelo segundo ano consecutivo. A população negra, que inclui pretos e pardos, foi atingida mais fortemente pelo aumento do desemprego e pela redução dos rendimentos que a não-negra, conforme resultados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada ontem pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT).

Segundo o levantamento, o nível de desemprego para os não-negros passou 8,1%, em 2015, a 11,6%, no ano passado, enquanto o da população negra avançou de 8,7% a 13,4% no mesmo período. Essa movimentação fez com que a diferença do patamar de desemprego entre os dois segmentos da população triplicasse em apenas um ano, aumentando de 0,6 ponto percentual (p.P.) a 1,8 p.P.

Ainda nesse contexto, os dados mostram que as mulheres possuem taxas de desemprego mais elevadas do que os homens, independentemente da cor. As mais prejudicadas são as mulheres negras, que possuem taxas de desemprego total (14,3%) bem mais elevadas se comparadas às trabalhadoras não-negras (13,1%) e principalmente aos homens, sejam eles negros (12,7%) ou não (10,2%).

De acordo com Erle Mesquita, coordenador de Estudos e Análises de Mercado do IDT, segmentos da população que historicamente enfrentam mais dificuldades no mercado de trabalho, como negros, mulheres e jovens, costumam sofrer mais em períodos de crise. "Por mais que os empregadores não admitam, ainda existe uma conduta discriminatória no processo seletivo que se intensifica na crise, quando há um acirramento pelas vagas", explica.

Setores

As maiores baixas no nível de ocupação ocorreram nos setores em que a população negra está relativamente mais presente, como a construção civil, que registrou uma queda de 11,7% no ano passado, no segundo ano consecutivo de eliminação de postos de trabalho.

Também registraram redução do nível de ocupados a indústria de transformação (-8,7%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-6,5%) e serviços (-2,3%).

Além disso, segundo a pesquisa, pretos e pardos também foram mais prejudicados pelo encerramento de 82 mil vagas no ano passado (das quais 70 mil formais). A queda do nível de emprego, sobretudo com carteira assinada, atingiu a população negra mais fortemente (-4,3%) que a não-negra (-1,9%), o que também acabou revigorando as relações de trabalho mais precarizadas na RMF.

Remuneração

Com o avanço do desemprego, também cresceu a desigualdade do rendimento entre a força de trabalho negra e não-negra pelo segundo ano consecutivo. Os rendimentos reais da hora trabalhada de negros e pardos tiveram uma queda mais acentuada (-3,9%) do que o de não-negros (-1,1%), em 2016, o que fez aumentar a disparidade de remuneração entre os dois grupos.

No ano passado, enquanto a força de trabalho negra recebia R$ 7,01, em média, por hora trabalhada, a não-negra recebia remuneração de R$ 9,51, uma diferença de 26,3%, percentual bem superior ao do que fora registrado nos anos de 2015 (24,1%) e 2014 (22,5%).

Esses efeitos, segundo a pesquisa, fazem com que a população não-negra continue com um padrão de remuneração superior ao de negros e pardos, independentemente do setor ou forma de inserção.

Monitoramento

Mesquita destaca a importância do monitoramento do mercado de trabalho local para mostrar os efeitos sobre diferentes segmentos da sociedade, instrumento indispensável para a elaboração de políticas públicas para reduzir as desigualdades.

"A crise penalizou os segmentos mais vulneráveis. Há necessidade de políticas de crescimento econômico, que não só façam economia voltar a crescer, mas que reduzam situações discriminatórias", avalia.

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