Desempenho pode ser maior com fim da seca
Sustentado na irrigação e na exportação, setor espera por chuva para aumentar indicadores positivos deste ano
Mesmo ostentando números que resultam em uma contabilidade positiva neste ano, principalmente devido ao bom desempenho nas exportações - destaque como sempre do melão -, a fruticultura cearense dependerá essencialmente da incidência de chuvas para manter os indicadores de crescimento no próximo ano. Caso a seca persista, o cenário pode mudar drasticamente.
"Passamos dos US$ 110 mil em exportações este ano. Tivemos um câmbio favorável, como também uma boa demanda para a nossa produção. Só não conseguimos aumentar a oferta devido à insegurança hídrica em nosso estado", afirma o empresário Luiz Roberto Barcelos, sócio e diretor da Agrícola Famosa.
Tirar plantio do Estado
De acordo com ele, é exatamente a insegurança hídrica, que põe em dúvida os rumos da fruticultura cearense no próximo ano. "Se não chover, vamos ter de reduzir as áreas de plantio e até procurar outros estados para plantar. A solução será produzir próximo aos rios Parnaíba e São Francisco, caso continue sem chuvas", afirma, levantando a possibilidade de descolar as plantações para fora do Ceará como única alternativa para manter-se no mercado.
Exportações animam
Barcelos garante, contudo, que as perspectivas são animadoras em relação às exportações do setor para o próximo ano.
"A gente exporta muito para a Europa, onde já está passando a crise e ampliando a demanda. Temos que correr muito para atender o aumento da demanda que estar por vir. A tendência é de aumento nas exportações de frutas no ano que vem", estima.
Preocupação
O otimismo com as exportações, contudo, não diminui a preocupação do setor produtivo em relação a falta de recursos hídricos no Ceará. Segundo alguns produtores cearenses, já está prevista a suspensão de novos plantios ao longo do Canal da Integração e, principalmente, na região próxima ao Tabuleiro de Russas, devido a limitações de suprimento de água nessas localidades.
Os impactos da escassez hídrica na economia cearense tendem a extrapolar os limites da produção frutífera do Estado.
Além dos plantios existentes correrem o risco de cessar, o Estado pode deixar também de atrair novos investimentos, correndo o risco de perdas por falta de suprimento hídrico em vários setores e não só na fruticultura.
Pecuária também espera inverno
Apesar de 2014 ter sido o terceiro ano consecutivo de seca na região Nordeste, os setores agrícolas e pecuário do Ceará registraram crescimento. De janeiro a outubro deste ano, por exemplo, a produção de leite no Estado cresceu 35% em relação a igual período de 2013.
No terceiro trimestre do ano, o Produto Interno Bruto (PIB) cearense apresentou expansão de 5,60%. A agropecuária foi a atividade que apresentou o maior crescimento do trimestre (51,2%), com participação de 4,7% da economia cearense.
Mudança na consciência
"2014 foi um ano de mudanças para o setor rural. Criou-se, entre os produtores, a consciência de que é preciso saber conviver com a seca. A falta de chuva obriga nossos produtores a fazer reservas estratégicas alimentares para a pecuária", afirma Flávio Saboya, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec).
Embora previsão da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Fuceme) aponte para chuva abaixo da média entre dezembro deste ano e fevereiro de 2015 (período que corresponde à pré-estação chuvosa no Estado e ao primeiro mês da quadra chuvosa), Saboya acredita que o prognóstico não se confirme e que haja incidência de chuvas no Ceará.
Ponto crítico
"Nossas reservas hídricas estão chegando a um ponto extremamente crítico, abaixo de 30% da capacidade total. Essa situação nos deixa preocupados e ainda mais atentos. No entanto, acreditamos em um 2015 melhor", acrescenta, evidenciando preocupação com a falta de água para manter a criação de animais, sejam eles para o abate sejam para a produção de leite.