Descontrole deu lugar a planejamento e prioridades

Ao organizar as contas de casa, família pôde reformar o banheiro e já enumera as compras essenciais para eles

Escrito por Redação ,
Legenda: No último mês, as despesas dos Lino da Silva foram totalmente quitadas
Foto: Foto: Tuno Vieira

O cheiro de cimento fresco na entrada da casa denuncia que um dos planos da família Lino da Silva para 2015 já está se concretizando - literalmente: a reforma dos dois banheiros. "A casa está uma bagunça", adverte a comerciante Eliane Lino, de 42 anos, mas com um sorriso de ponta a ponta, mostrando o material comprado para a obra. Este mês, o descontrole financeiro da família deu lugar ao planejamento e escolha das prioridades, fazendo com que alguns itens necessários pudessem ser comprados sem onerar demais o orçamento deles.

"A gente não comprou nada desnecessário no cartão", orgulha-se Eliane, apontando o fator que mais pesou na organização das finanças de março. Além dessa decisão, eles estabeleceram ó valor de R$ 550 como o máximo que fatura do cartão pode atingir, sem que prejudique as contas da família.

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"Já aconteceu de a gente chegar no fim do mês e não conseguir pagar o cartão porque estava muito alto", lembra a comerciante. O acompanhamento do Vida&Finanças foi o que despertou no casal, segundo conta a matriarca, a consciência para o consumo.

O empréstimo contraído no mês passado para a compra do material da reforma acabou sendo reservado para o pagamento do pedreiro e dos ajudantes, enquanto os itens da obra foram comprados no cartão de crédito, em cinco parcelas.

Além dessa despesa, as parcelas do cartão incluem o restante das compras natalinas de dezembro e um guarda-roupa, adquirido para presentear o filho, o universitário José Erberson Lino, 18, que deve se mudar para uma casa com a namorada grávida, Gabriely Monique Silva, 19. É sobre o casal, aliás, que a família tomou outra decisão importante para toda a família.

"Decidimos alugar uma casa aqui perto para eles. O Erberson foi contratado em um estágio melhor, então, é ele que vai pagar o aluguel e, quando se aperrearem, a gente ajuda", explica Eliane. Até o mês passado, a solução encontrada para a moradia do jovem casal à espera do bebê era transformar a área da casa de Eliane e Ferreira em um lar mais modesto - e que era claramente contestada pelo pai.

O enxoval do novo integrante da família já está garantido, com a ajuda dos pais de Gabriely. "A preocupação agora é com um fogão um 'bujão' de gás", completa Eliane.

Novas compras

Mostrando-se mais aliviados com a situação do filho, que vai ter um pouco mais de condições de assumir a nova família, e com a promessa de seguirem disciplinados financeiramente nos próximos meses, Eliane e Ferreira elegeram as prioridades a serem compradas e já fazem planos.

"Tem duas coisas que são necessárias de comprar: os óculos dela (Eliane) e dois colchões", enumera.

Os óculos são imprescindíveis para os bons resultados de Eliane, que voltou a estudar recentemente, justifica Ferreira, enquanto os colchões novos vão para duas camas antigas da casa reformadas por ele, ainda durante no Carnaval.

"Se fosse por ele, a gente já tinha comprado, mas eu segurei e disse que só podia comprar depois que pagasse a fatura do cartão de abril", impõe-se Eliane, assumindo, agora, uma postura mais rígida nas finanças.

Ainda este mês, sobrou dinheiro para comprar um toldo, estendido na frente da mercearia. "A gente estava perdendo venda porque passava a tarde com a porta abaixada, devido ao sol", argumenta Eliane. Para a compra da estrutura feita toda de lona, eles deram uma entrada de R$ 300 e parcelaram o restante do valor em duas vezes, exercendo sempre a habilidade de negociar descontos.

Contas

As despesas fixas foram todas quitadas com o orçamento base da família, e esse mês foi possível, inclusive, repôr os R$ 800, na mercearia, referentes à alimentação da família. Eles também se preveniram contra os aumentos que vêm pesando na conta de luz e desligaram, durante 15 dias, uma das geladeiras da mercearia.

"Economizamos quase R$ 20", contabiliza Ferreira. E para o próximo mês, é a geladeira da cozinha de casa que também deve sair da tomada por alguns dias, adianta o eletricista. (JC)

Entenda a série Vida e Finanças

No dia 25 de janeiro, o caderno de Negócios do Diário do Nordeste deu início à série de reportagens “Vida e Finanças”, que acompanhará mensalmente, até dezembro deste ano, publicando na última semana de cada mês, a rotina e o orçamento doméstico de três famílias cearenses das classes A, C e D. O propósito da série é saber como cada uma das famílias se comportará diante das mudanças econômicas previstas para 2015, cujas perspectivas são de um ano difícil, com arrocho fiscal, aumento nos preços dos combustíveis, alta das tarifas públicas e redução do nível de emprego.

O critério para definição da faixa de renda das três famílias protagonistas desta série tem por base a classificação do Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), segundo o qual são consideradas de classe A famílias com renda acima de R$ 9.754; C aquelas que possuem renda familiar entre R$ 1.734 e R$7.475; e D para a faixa de R$ 1.085 a R$ 1.734 de ganho mensal. 

Ainda segundo a divisão estabelecida pelo CPS/FGV, famílias das classe B e E possuem, respectivamente, rendimentos entre R$ 7.475 e R$ 9.745 e de R$ 0 a R$ 1.085.

Na terceira publicação da série, a equipe do Vida e Finanças registrou o empenho em economizar e a realização das metas como recompensa da nova atitude; a mudança de planos decorrente de análises mais cuidadosas, visando qualidade de vida e custo-benefício; e, ainda, os desafios assumidos por quem decide encarar uma nova rotina de trabalho.

A reportagem também entrevistou especialistas, que traçaram análises, emitiram opiniões e contribuíram com dicas sobre finanças pessoais para ajudar não somente nossos protagonistas, mas todos os leitores que se identificam com essas situações e também têm metas a alcançar neste ano.

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