Déficit nas contas externas é o maior desde 1947

No mês passado, o saldo negativo foi de US$ 8,1 bilhões. Com isso, o déficit deve superar US$ 80 bilhões neste ano

Escrito por Redação ,
Legenda: A balança comercial é uma das maiores influências para o setor externo do País. Até agora, ela está deficitária em US$ 2,3 bi em novembro
Foto: FOTO: KID JÚNIOR

Brasília. O rombo nas contas externas bateu novo recorde para meses de outubro, atingindo US$ 8,1 bilhões. Este é o pior resultado para o mês desde o início da série histórica do Banco Central, em 1947.

Com isso, o déficit nas relações com o exterior pode frustrar a projeção atual do Banco Central e superar os US$ 80 bilhões neste ano. Para evitar essa marca, o BC teria de registrar, pela primeira vez em oito anos, um superávit em dezembro, pois em dezembro a projeção da própria autoridade monetária é de novo déficit de US$ 8 bilhões.

Para piorar esse cenário negativo, a estimativa de US$ 63 bilhões do BC para o Investimento Estrangeiro Direto (IED), forma de financiamento mais saudável desse buraco, também não deve ser atingida este ano, já que até outubro estava em US$ 51,2 bilhões e a expectativa para novembro é de ingressos de mais US$ 4 bilhões - em outubro foi de US$ 4,98 bilhões.

Apesar da quase comprovação de que as previsões não serão atingidas este ano, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, disse que a instituição só irá apresentar novas estimativas no mês que vem, quando serão divulgados os dados de novembro. Ele chegou a salientar que dezembro costuma ser um mês favorável às contas externas. Ocorre que tanto em 2012 quanto em 2013, o déficit do último mês do ano ultrapassou US$ 8 bilhões. A última vez que o saldo ficou no azul em dezembro foi em 2006, quando chegou a US$ 440 milhões.

O técnico avaliou ainda que o IED, que é voltado para o setor produtivo, segue fluindo em "níveis significativos" para o Brasil e deixando o País em situação confortável para tapar o déficit. Segundo ele, outras fontes de financiamento também têm apresentado bom fluxo, a exemplo das taxas de rolagem, que em outubro ficaram em 282%.

Balança

A balança comercial tem sido o principal calcanhar de Aquiles do resultado do setor externo brasileiro. Com saldos vermelhos em setembro e em outubro, as contas de serviços e rendas não conseguem compensar o desempenho ruim do comércio exterior. Ao que tudo indica, o saldo comercial também fechará negativo este mês, já que até a 3ª semana de novembro está deficitária em US$ 2,3 bilhões. Daí a projeção pior feita pelo economista do BC para este mês.

Uma outra forma de ver esse resultado é o saldo acumulado em 12 meses até outubro. De acordo com os dados do BC, já chega a US$ 84,4 bilhões, o equivalente a 3,73% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa marca foi a maior vista nesse tipo de comparação desde fevereiro de 2002, quando ficou em 3,94%.

Remessas

Outro destaque negativo da economia, e que pode soar positivo em princípio, foi o aumento de 7,3% do envio de lucros e dividendos de empresas que estão instaladas no Brasil para suas matrizes no exterior. No ano até outubro, a remessa foi de US$ 19,7 bilhões ante US$ 18,4 bilhões de igual período de 2013.

Com dólar alto, gasto de brasileiros lá fora cai 7%

Brasília. O dólar em alta contribuiu para a redução dos gastos dos brasileiros com viagens internacionais, conforme informou ontem (24) o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel. Em outubro, os desembolsos dos turistas brasileiros lá fora recuaram de US$ 2,294 bilhões para US$ 2,124 bilhões, o equivalente a uma queda de 7,4%.

Também houve recuo no valor deixado por estrangeiros no Brasil. Os valores caíram de US$ 533 milhões, em outubro de 2013, para US$ 488 milhões no mesmo período deste ano. Isto significa que, em outubro, os gastos líquidos com viagens internacionais ficaram negativos em US$ 1,6 bilhão, com decréscimo de 7%, ante outubro de 2013.

Maciel ressaltou que, nos últimos três meses, o dólar teve apreciação de cerca de 15%. Por isso, o reflexo nos gastos com viagens internacionais. O cenário deve se repetir nos dados de novembro, que serão divulgados pelo Banco Central em dezembro.

"Certamente, a variação do dólar nos últimos três meses, em agosto, setembro e outubro, quando subiu cerca de 15%, tende a influenciar essa conta de viagens", avaliou. Segundo Tulio Maciel, até o dia 20 deste mês os dados indicavam saldo de viagens negativo em US$ 840 milhões. No período, os brasileiros gastaram US$ 1,162 bilhão, enquanto os estrangeiros deixaram US$ 323 milhões no Brasil.

Em outubro, o dólar registrou valorização de 1,25% ante o real, encerrando o mês passado na cotação média de R$ 2,47 para venda, contra R$ 2,44 no fim de setembro. Ontem, por volta das 10h40, o dólar já estava ainda mais alto ainda, cotado em R$ 2,53. No fim do ano passado, a moeda americana estava sendo negociada ao redor de R$ 2,34. Em janeiro e fevereiro deste ano, oscilou por volta de R$ 2,40. Em agosto deste ano, o dólar teve queda de 1,36% em relação ao fim de julho, fechando aquele mês em R$ 2,23.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.