Cresce diferença salarial entre homem e mulher

Enquanto o rendimento dos homens por hora trabalhada cresceu 3,3% entre 2013 e 2014, o das mulheres caiu 1,4%

Escrito por Redação ,
Legenda: O estudo mostrou que o crescimento no nível de ocupação na RMF pelas mulheres foi de 3,5%. Pela primeira vez, a taxa se manteve superior à masculina, de 2,7%

As mulheres conseguiram ganhar mais espaço no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) entre 2013 e 2014. No entanto, a disparidade entre os salários delas e o dos homens voltou a crescer, após quedas nos anos anteriores. O rendimento médio real por hora trabalhada relativo ao sexo masculino teve crescimento de 3,3% no período, passando de R$ 7,01 para R$ 7,24, ao passo que para as mulheres houve leve declínio, de R$ 5,66 para R$ 5,58 (-1,4%).

Os dados são da Pesquisa Sobre Emprego e Desemprego (PED), divulgada ontem, que trata da inserção da mulher no mercado de trabalho. O levantamento também mostra que o rendimento médio real de trabalhadores do sexo masculino teve acréscimo de 3,2% entre os dois anos, enquanto que para as mulheres a ampliação foi de apenas 1%.

A média salarial de 2014 foi de R$ 1.363 para os homens e R$ 979 para as mulheres, 28,2% menor em comparação com o valor projetado para eles. A disparidade de renda afeta todas as atividades e é mais acentuada no trabalho autônomo, situação em que as mulheres ganharam no ano passado, em média, 41% a menos que os homens. O analista de mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Mardônio Costa, ressalta que a mudança na realidade de salários desfavoráveis para o sexo feminino em comparação com o masculino depende da expansão de oportunidades para que as trabalhadoras possam ter um leque de ocupações mais amplo. Ele também afirma que é essencial mudar a cultura que ainda menospreza as mulheres no mercado de trabalho.

Discriminação

"Existe a discriminação salarial, que é a mulher trabalhar no mesmo perfil de emprego do homem e ganhar salários menores, e a discriminação funcional, que é o próprio mercado já deixar reservado a concentração de mulheres em determinados tipos de ocupação com maiores níveis de informalidade, sem carteiras assinadas e dificuldades para as mulheres terem ocupações mais relevantes dentro das empresas. Isso está mudando, mas vem se dando de uma forma muito lenta, apesar de elas terem mais escolaridade", destaca Mardônio Costa.

O secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará, Josbertini Clementino, promete mais esforço da gestão pública estadual para reduzir as disparidades salariais entre homens e mulheres.

"Eu estou com a equipe da OIT (Organização Internacional do Trabalho) no Estado do Ceará para que nós possamos elevar o ganho real do trabalhador cearense e, claro, nós temos que sempre olhar para aqueles segmentos do mercado de trabalho que precisam ter uma inclusão mais forte, e as mulheres estão entre esses públicos de nossa preocupação", afirma.

Participação

A proporção de mulheres de 10 anos ou mais inseridas no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Fortaleza cresceu de 48,5% para 49,1% entre os anos de 2013 e 2014, interrompendo uma trajetória de queda que ocorria desde 2010.

O resultado representa a incorporação de 19 mil mulheres à força de trabalho da RMF no período e também demonstra um crescimento maior que o registrado entre os homens, cuja taxa de participação no mercado de trabalho cresceu de 66,4%, em 2013, para 66,8%, em 2014.

Ocupação

A pesquisa também concluiu que o crescimento no nível de ocupação na RMF pelas mulheres foi de 3,5% em 2014. Pela primeira vez desde o início da série história da pesquisa, em 2009, a taxa se manteve superior à masculina, de 2,7%. Dos 51 mil novos postos de trabalho gerados na Região Metropolitana de Fortaleza no ano passado, 26 mil destinaram-se à força de trabalho feminina (51%) e 25 mil aos homens (49%).

Informalidade predomina entre o público feminino

As mulheres continuam mais expostas à informalidade do que os homens na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Do total de novos postos de trabalho com carteira assinada gerados em 2014 (41 mil), 28 mil foram ocupados pela força de trabalho masculina e somente 13 mil, pela feminina, de acordo com dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED).

Assim, para cada emprego com registro em carteira criado para as mulheres, dois postos de trabalho desse tipo foram gerados para os homens.

No ano passado, houve um total de 26 mil postos de trabalho gerados para as mulheres em serviços, o que confirma a força da presença feminina no setor. Também tiveram acréscimos expressivos da força de trabalho das mulheres setores como administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, que tiveram ganho de cerca de 11 mil novos postos; e alojamento, alimentação, artes, cultura, esportes e natação, cujos novos empregos giraram em torno de 7 mil.

Indústria

Além disso, também merecem destaque o setor de comércio e reparação de veículos, onde a maioria das novas ocupações foi absorvida pelas mulheres, que conseguiram 6 mil empregos, enquanto os homens obtiveram 4 mil. No entanto, e indústria de transformação foi o único setor que eliminou postos de trabalho em 2014 na RMF. As demissões foram mais intensas para as mulheres (5 mil) do que para os homens (2 mil). (MV)

Mais de 60% dizem organizar finanças

Mesmo possuindo hábitos de consumo bem diferentes daqueles cultivados pelos homens, a forma como as mulheres lidam com o dinheiro costuma ser bem semelhante. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal de educação financeira Mel Bolso Feliz. Conforme o estudo, a maioria das mulheres (62%) afirma ter uma vida financeira organizada. Entre os homens, este percentual é muito similar: de 64%.

"Aquele clichê da mulher impulsiva diante das vitrines cai por terra diante desta pesquisa. A ponderação antes das compras é tão presente nas mulheres quanto nos homens", diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

O controle de gastos é uma prática comum a ambos os gêneros: no caso das mulheres, apenas 13% não fazem nenhum tipo de anotação das despesas (entre os homens, essa proporção é ligeiramente menor, de 9%).

Além de se considerarem organizadas financeiramente, em alguns casos, as mulheres também comandam sozinhas as finanças da casa. Entre as mulheres que dizem ter apenas um tomador de decisão em casa, em 40% dos casos, é a própria entrevistada (no caso dos homens, o percentual é de 62%).

Murilo Viana
Repórter

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