Consignado a perder de vista em até 96 meses

Escrito por Redação ,
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Prazo muito elástico é considerado preocupante devido ao grande período de comprometimento da renda

Depois de alongarem novamente os prazos para o financiamento de veículos, o alvo das instituições financeiras agora é o crédito consignado. Quem deseja contrair algum tipo de empréstimo com desconto em folha, dependendo do convênio estabelecido entre o banco e a empresa ou órgão público que trabalha, já encontra a possibilidade de quitar a dívida em até 84 meses.

Em casos mais específicos, como o dos funcionários do Poder Judiciário que contratam esse tipo de financiamento, por exemplo, com a Caixa, o prazo é estendido ainda mais para até 96 meses. Antes, a média praticada pelos bancos era de até 60 parcelas mensais.

No Banco do Brasil (BB), o produto consignado é oferecido para o mercado com prazos que variam de 2 a 84 meses, com juros a partir de 0,95% ao mês, definidos de acordo com o convênio firmado entre a instituição e as empresas e órgãos do governo, que mantêm a sua folha de pagamento no BB.

A operação é válida ainda para aposentados e pensionistas do INSS, no entanto, o prazo máximo permitido é de 60 meses. Já na Caixa, as condições para concessão deste tipo de empréstimo variam de 6 a 72 meses, com juros mensais que vão de 0,88% a 2,29%, também dependendo do órgão que o cliente é empregado.

Porém, no caso do Poder Judiciário, as taxas praticadas são a partir de 1,37% ao mês para qualquer prazo, sendo que neste caso, o período do financiamento é alongado para até 96 meses. Vale ressaltar que se o cliente possuir conta e produtos financeiros neste banco, a taxa poderá ser reduzida. Quem também está concedendo prazos mais elásticos para o crédito consignado é o Grupo Santander do Brasil, que reúne os bancos Santander e Real.

A instituição financeira ampliou o prazo máximo para pagamento do empréstimo com desconto em folha de 60 para até 72 meses, com taxas a partir de 1,50% ao mês.

Quem pode contratar

O empréstimo consignado pode ser contraído por funcionários de instituições públicas e privadas conveniadas com o banco, bem como por aposentados do INSS. Já o Bradesco trabalha como prazos que vão de 6 a 48 meses e taxas oscilando entre 1,75% e 2,90% mensais, para os funcionários de empresas privadas conveniadas com o banco; e de 12 a 60 meses, com taxas de 2,5% ao mês, para aposentados e pensionistas do INSS.

Na avaliação do coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público do Estado do Ceará (Mova-se), José Airton Lucena Filho, prazos mais elásticos para o crédito consignado podem não ser benéficos para quem contrai essa modalidade de empréstimo. Isto porque, explica, o que poderia ser uma facilidade, ou seja, prazos maiores, implica também em juros mais altos, além do que isto significa que o trabalhador vai passar mais tempo com sua renda comprometida para poder quitar a dívida. ´O Mova-se discorda com prazos maiores que 24 ou 36 meses. Quanto mais parcelas, maiores serão as taxas de juros praticadas. Taxas essas que já são bem elevadas diante do fato de os bancos não terem o menor prejuízo com este tipo de empréstimo, porque os descontos das parcelas já são feitos diretamente na folha. As instituições financeiras não têm a menor preocupação com o trabalhador. Continuam a cobrar juros absurdos para uma operação que não traz o menor risco para elas´, afirma.

Despesas comprometidas

Além disso, diz Lucena, não se pode esquecer que o trabalhador tem outras despesas correntes com alimentação, medicamentos entre outros gastos, que podem ficar inviabilizados pelo comprometimento da renda futura por um período tão extenso.

Anchieta Dantas Jr.
Repórter

OPINIÃO
Maioria acaba em dificuldade financeira

José Milson de Oliveira Lima
Presidente da União dos Aposentados

Crédito é bom para quem está precisando, mas quando é muito fácil, o aposentado contratar sem precisar realmente, e fica apertado. O aposentado é carente. Se o neto pede uma motocicleta ele entra no consignado para comprar o presente. Quem não é acostumado a ter crédito não sabe usar. Se for por uma necessidade verdadeira, eu recomendo que faça uma operação nos bancos oficiais ou bem conhecidos porque há casos com as instituições financeiras de longe que começam a descontar o crédito e o dinheiro não chega. Depois que começou a popularizar o consignado, até a Unapeb teve prejuízo porque os aposentados atrasam a mensalidade dizendo que estão endividados. Cerca de 70% dos associados da Unaped têm empréstimo e vivem na maior dificuldade de pagar o financiamento. Mas o presidente Lula quer que o povo consuma por conta da crise financeira.

A OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Efeito devastador

HÉRCULES DO AMARAL
Presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-CE

O Banco Central deveria fiscalizar mais os prazos oferecidos pelas instituições financeiras para o empréstimo consignado, que representam o tempo de comprometimento da renda do trabalhador para o pagamento da dívida.

Isto porque o que acontece é que no Brasil esta modalidade de crédito funciona muito mais como uma complementação da renda familiar, pela defasagem salarial que o trabalhador vivencia, que o seu uso, por exemplo, para adquirir um bem ou para a reforma na casa.

Por se configurar, dessa forma, como uma necessidade do trabalhador é que deveria haver esse maior controle por parte da autoridade monetária, o BC.

Além disso, quem contrai este tipo de empréstimo precisa estar atento ao que interessa mais: se é um prazo menor para amortização da dívida, desde que a taxa de juros permita, ou um período maior, comprometendo a sua renda por mais tempo. Porque, na verdade, essa ampliação do prazo significa a postergação de um efeito devastador sobre a renda do trabalhador, diluído no tempo por meio dos juros e o seu usuário deve estar bem ciente disso.

Na verdade, a principal questão sobre o crédito consigando para aposentados, pensionistas e trabalhadores em geral ainda é a taxa de juros praticada no mercado e não somente o prazo negociado para saldar a dívida.

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