Concentração de renda cai no CE; Brasil, estável

Índice de Gini recuou 2,9% no Estado e chegou a 0,487. Quanto mais perto de zero, menor a desigualdade

Escrito por Redação ,

Fortaleza/Rio A concentração de renda no Ceará apresentou queda no ano passado, pelo menos é o que aponta a Pnad. Conforme o levantamento, o Índice de Gini do Estado atingiu 0,487 em 2013 (quanto mais perto de zero, menor a desigualdade), recuo de 2,9% ante o valor registrado em 2012, de 0,502. O dado é referente à distribuição do rendimento mensal das pessoas de 15 anos ou mais de idade e ficou abaixo do índice nacional, que atingiu 0,498, um pouco acima dos 0,496 do ano anterior. Considerando o rendimento do trabalho, deve ser entendida como estabilidade na concentração da renda nacional.

Conforme o pesquisador do Laboratório de Estudos da Pobreza do (LEP) Caen da Universidade Federal do Ceará (UFC), Carlos Eduardo Marino, desde do início dos anos 2000 a desigualdade vem caindo no Ceará e no Brasil. Para ele, contudo, o modelo econômico que fez isso acontecer está esgotado e, se outras medidas não forem tomadas, a tendência é de estabilidade.

"Quando a desigualdade é muito grande, algumas políticas sociais de transferência de renda, como as adotadas pelo governo nos últimos anos, equilibra um pouco a situação, pois o dinheiro passa para a base da pirâmide social. No entanto, como a extrema pobreza cai bastante, com o tempo essas medidas vão perdendo o fôlego", explica Marino. "No longo do prazo, o que precisamos é de um grande investimento em educação. O que nos falta pra continuar o desenvolvimento mento do País é capital humano", complementa.

País tem índice elevado

Segundo a presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Wasmália Bivar, mesmo estável, o Índice de Gini do Brasil ainda é elevado.

O índice voltou ao patamar de 2011, quando estava em 0,499. "Esse nível de concentração ainda é elevado, mas se fez um movimento no índice que é historicamente importante. Acho que nenhum país fez essa transição tão rapidamente", disse Wasmália.

Assim como Marino, a presidente do IBGE também acredita que os ganhos das políticas sociais podem ter chegado ao limite. "Encontrar agora uma estabilidade quer dizer que obtivemos bastante ganhos com as políticas que foram adotadas, especialmente nos programas sociais, mas chega uma hora que você realmente precisa diversificar as suas políticas, pensar em outras políticas focadas na distribuição de renda", afirmou Wasmália.

Governo nega estagnação

Ainda ontem, o governo minimizou o resultado da Pnad, que indica estagnação da desigualdade no Brasil. "A parada na queda não veio para ficar. Ela teve uma parada, mas temos indicações de que voltou a cair", disse o ministro Marcelo Neri (Assuntos Estratégicos). A ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) argumentou ainda que "a questão da desigualdade não pode ser medida só por renda".

Estado tem o pior salário médio do País: R$ 1.019

Fortaleza/Rio. Apesar do rendimento médio mensal do trabalhador cearense ter crescido um pouco em 2013, atingindo R$ 1.019, ante R$ 1.008 em 2012, tal valor ficou na última posição entre todas as unidades federativas do Brasil, de acordo com a Pnad. Para se ter uma ideia, no Distrito Federal, onde foi registrada a maior média salarial do País, os trabalhadores chegam a somar uma média de R$ 3.114 mensalmente, mais que o triplo do valor do Ceará.

As três menores médias do País, aliás, foram registradas em estados nordestinos. Além do Ceará, Piauí (R$ 1.037) e Alagoas (R$ 1.052) também sinalizaram fracos rendimentos mensais. Por outro lado, Distrito Federal, São Paulo (R$ 2.083) e Rio de Janeiro (R$ 1.949) obtiveram as maiores médias. O custo de vida de cada estado, porém, não foi levado em consideração.

Um bom exemplo de cearense que sente na pele os baixos salários pagos no Estado é Elaine Vitor Teixeira, de 25 anos. Como fonte de renda ela trabalha dois dias da semana como cuidadora folguista de uma idosa, recebendo em torno de R$ 600 por mês. Com esse dinheiro ela paga o colégio do filho e toda a alimentação para a sua família. O seu marido paga as outras despesas da casa, mas mesmo com o salários dos dois, em média R$ 1,8 mil, não dá para investir em sua carreira. "Se eu ganhasse mais eu pagaria uma faculdade de Serviços Sociais para mim. Eu gosto de cuidar das pessoas", diz.

Alta no País

Mesmo não sendo muito animadores para o Ceará, os dados da Pnad trouxeram uma boa notícia para o País. Trata-se do fato de que o rendimento do trabalhador brasileiro segue em expansão, com alta de 5,7% em 2013.

"É um aumento robusto, sem dúvida, mas o problema é que os maiores rendimentos subiram mais", diz Fernando Holanda, economista da FGV.

No geral, o rendimento médio mensal real de todos os trabalhadores em 2013 foi estimado em R$1.681. A renda dos homens era de R$ 1.890,00 e a das mulheres ficou em R$ 1.392,00. As mulheres recebiam, em média, 73,7% do rendimento de trabalho dos homens. Em 2012, essa proporção era de 72,8%.

Todas as categorias tiveram aumento da renda, com destaque para servidores públicos estatutários (5,9%). Os demais tiveram alta abaixo da média: trabalhadores com carteira (4,4%) e sem carteira (5%).

Histórico

Desde 2005, a renda média mensal tem aumento real todos os anos, mesmo naqueles de baixo crescimento, como 2009 e 2012. Nesse processo, o rendimento dos que ganham menos avançou mais rapidamente, mas o quadro mudou em 2012 e 2013.

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