Cenário é propício para renegociar o aluguel

Cientes da atual realidade financeira dos locatários, as administradoras estão mais flexíveis

Escrito por Yohanna Pinheiro - Repórter ,
Legenda: Diferentemente de outras capitais, não há excesso de oferta de imóveis para aluguel em Fortaleza. Pelo contrário, o volume de locação teria superado em torno de 15% o de devoluções no ano, segundo informou a Aadic

Com a deterioração da economia brasileira e redução cada vez maior do poder de compra da população, quem tem ou quer alugar um imóvel tem ganhado mais poder de barganha na hora de negociar o preço da locação ou da renovação do contrato. Ainda que não haja tanta oferta em Fortaleza, as administradoras estão mais conscientes quanto à realidade financeira de seus locatários.

> Busca por locação supera a de compra

A informação é de Germano Belchior, presidente da Associação das Administradoras de Imóveis do Ceará (Aadic) e superintendente da Alessandro Belchior Imóveis. Segundo ele, as administradoras tem se preocupado em avaliar caso a caso, levando em conta a variação do valor do imóvel no período - seja para mais ou para menos. "O mercado tem feito os ajustes quando se mostram necessários", apontou.

O presidente destacou ainda que, diferente de outras capitais, não há excesso de oferta de imóveis para aluguel em Fortaleza. Pelo contrário, o volume de alugueis teria superado em torno de 15% o de devoluções no ano, segundo informou. "O mercado se manteve estável em 2015, sem grandes flutuações, para os dois tipos de locação (residencial ou comercial)", pontuou.

Ainda assim, com aumento do desemprego e dinheiro mais curto por conta da inflação, muitas pessoas estão fazendo as malas e se mudando para endereços de menor custo. "Isso tem acontecido muito.

Chega a época do reajuste e, às vezes, o proprietário não quer negociar o valor porque quer manter seu lucro, e acaba perdendo o inquilino", apontou Valter Júnior, gerente de locação da A Predial.

Negociação

Os valores negociados em novas locações têm subido bem menos que os cobrados nos contratos em andamento, corrigidos, na maioria das vezes, pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). Nesse ano, o IGP-M chegou ao maior nível desde 2010, atingindo 10,54%. Mesmo assim, nem sempre compensa sair de um imóvel em que o inquilino e sua família já estão adaptados, seja pelas instalações ou pela localização.

Dessa maneira, se decidir negociar o valor do aluguel, o morador precisará considerar se aceita o reajuste em troca da permanência no imóvel. Há espaço inclusive para a redução do valor pago no caso de inquilinos que pagam suas contas em dia. A própria situação econômica do País, que proporciona dificuldades para praticamente todos os lados, pode abrir caminho para um entendimento entre locatário e locador.

Nesse ponto, Valter Júnior ressalta a importância da imobiliária na mediação dos interesses das partes. "Em 2015, a questão da negociação ficou um pouco difícil por conta do acréscimo sofrido pelos alugueis durante a Copa do Mundo e, hoje, temos que nos readaptar a esse novo valor de mercado. O proprietário quer manter seu lucro e o inquilino quer reduzir o custo. É nesse momento em que entra a imobiliária", explicou.

Inadimplência

Segundo Belchior, a recorrência do não pagamento das mensalidades pelos inquilinos subiu a cerca de 2,5% neste ano, consequência da redução do poder de compra da população e do reajuste do aluguel. "É preciso ter uma renda mínima de três vezes o valor do aluguel, mas a maioria das pessoas alugam com uma margem de folga muito mais larga. Não é pelo fato de não ter tido um aumento (na renda), que a pessoa não possa pagar", ponderou.

Tempo

O impacto da recessão econômica também foi sentido no tempo para fechamento de um novo contrato de aluguel. Segundo o presidente da Aadic, hoje se leva em média seis meses para o aluguel de imóvel comercial e cerca de quatro meses para um com fins residenciais. O cenário foi reforçado por Valter Júnior. "Inegavelmente, houve um freio muito grande, principalmente para imóveis comerciais", disse.

Segundo o gerente, esses são elementos que formam uma "carta na manga" dos clientes na hora da negociação. "Para decidir o imóvel que quer alugar, é preciso considerar tamanho, valor e localização, entre outros fatores. O cliente tem mais força agora para dizer que encontrou um imóvel por tal valor e chegar para negociar com outro proprietário", admitiu.

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