CE negocia captação de 4 indústrias de autopeças
Estratégia do governo e do setor é montar uma cadeia no Estado para atrair também uma montadora de veículos
Em cerca de dois anos, o Ceará poderá contar com pelo menos quatro novas indústrias do segmento de autopeças. É o que estima o presidente do Sistema Sincopeças Assopeças Assomotos, Ranieri Leitão. Responsável por entrar em contato com empresários industriais de todo o Brasil, prospectando futuros investidores para os novos negócios, Leitão acredita que atrair o setor de autopeças é "o caminho mais rápido para trazer para cá uma montadora de veículos".
Isso porque, com a disponibilidade de peças para abastecimento direto das montadoras no Estado, a operação se tornaria mais econômica e logisticamente viável. Desde 2016, o Governo do Estado se articula para instalar uma montadora de veículos na Zona de Processamento de Exportação do Ceará (ZPE), mas as negociações ainda não foram à frente.
Titular da Secretaria do Desenvolvimento do Estado (SDE), César Ribeiro reforça que a parceria do Governo com associações e iniciativa privada no sentido de viabilizar a implantação de indústrias é sempre "muito bem vinda". Sobretudo quando se trata de setores importantes como o de autopeças.
"O fortalecimento da indústria passa por um processo de integração das partes. E temos um polo metalmecânico muito forte sendo constituído no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, com a Companhia Siderúrgica lá instalada", diz o secretário, acrescentando que o Governo fará tudo o que for necessário para atrair grandes empresas, inclusive as de base.
"Está no radar do Cipp (Complexo Industrial e Portuário do Pecém) e do Interior do Estado buscar sempre grandes investimentos. Obviamente, uma montadora também seria muito bem vinda e agregaria muito valor ao complexo", ressalta.
Alto investimento
De acordo com Ranieri Leitão, estão sendo realizadas tratativas com diversas indústrias de autopeças. No entanto, ele não antecipa detalhes para "não atrapalhar as negociações". Ele pondera ainda que todo o processo requer um prazo médio a longo para se concretizar.
Sem esquecer que muitas fábricas instaladas no Brasil dependem de comandos vindos do exterior. "Queremos ter o maior número possível de autopeças, pelo menos umas 10 indústrias, mas isso não é uma coisa que acontece da noite para o dia. Trazer um parque fabril ao Ceará requer um investimento muito alto", pondera.
Área de interesse
Para Leitão, as indústrias cujas exportações forem maiores deveriam se instalar na ZPE, a única em operação no País. Entretanto, em sobrevoos feitos junto a empresários interessados, a preferência é pelo município de Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza.
O próximo passo é marcar, em agosto, um encontro para reunir representantes do Governo do Estado e industriais dispostos a efetivar investimentos. "Temos uma das melhores indústrias de tambores de freio do mundo, que é a Durametal, e uma das melhores indústrias de juntas automotivas, que é a Bastos Juntas. Agora, queremos trazer especialistas em bomba d'água, em material de suspensão, de motores, etc.", conta.
O presidente da ZPE-CE, Mário Lima Júnior, informa que, após a conclusão das obras, o Setor II (expansão) da ZPE-Ceará, cuja área é de 150 hectares, terá capacidade para receber até 50 indústrias.
"Indústrias de autopeças com características voltadas para exportação são muito bem vindas aqui. O presidente do sindicato (Sincopeças) tem entrado em contato e estamos acompanhando com muito interesse essa expectativa e preparados", observa Lima Júnior. Com o lançamento da licitação da área de despacho aduaneiro da ZPE, em agosto, as indústrias podem vir a começar a operar dentro de um ano, calcula Mário Lima.
Leve crescimento
No primeiro semestre de 2018, o setor de autopeças no Ceará registrou um crescimento de 3,59%, ante o segundo semestre de 2017. Já em relação aos primeiros seis meses de 2017, o crescimento foi menor: de 2,49%. Embora o incremento no volume de peças comercializadas em 2018 seja pequeno, em detrimento de eventos como a Copa do Mundo e a greve dos caminhoneiros, Leitão estima fechar dezembro com um crescimento de 6% sobre 2017.
A melhora nos resultado, estima, está diretamente ligada à falta de credibilidade do cidadão com o futuro do País, ainda suscetível às incertezas políticas e econômicas.
"Quem tem um carro mais velho segura e faz um mini reparo", justificou durante a 22ª Reunião Ordinária da Câmara Setorial da Cadeia Automotiva (CS Automotiva), no auditório da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).
Bons resultados
Também presentes na reunião, o presidente do Sindicato dos Revendedores de Veículos Automotores do Ceará (Sindivel), Everton Fernandes; e o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores do Ceará (Fenabrave-CE), Fernando Pontes, comemoraram os bons resultados de vendas de automóveis zero quilômetro no Ceará. No primeiro semestre de 2018, ante igual período de 2017, o volume de vendas cresceu 12,37%.
"O setor automotivo vem crescendo no Ceará, apesar da crise. Esse dado remonta há quatro, cinco anos, quando o mercado estava em efervescência", endossou Pontes. Como a venda de novos garantem posteriormente o abastecimento de semi-novos e usados no mercado, a expectativa é que, a partir desse mês, o desempenho do segmento seja mais expressivo.
"Teremos esse ano um crescimento de 5% a 6% em relação a 2017 no segmento de novos e usados. Até porque o segundo semestre apresenta mais sazonalidade", projeta Fernandes. No acumulado de janeiro a junho de 2018, a variação do segmento ficou em -0,6%, se comparado a igual período de 2017.