Brasil pode ser pioneiro em matriz 100% limpa

Escrito por Redação ,
Os incentivos dados à energia eólica, como o Proinfa e os leilões, ainda não foram aplicados à solar

O Brasil tem potencial para se tornar a primeira grande economia a ter toda a sua matriz energética proveniente exclusivamente de fontes renováveis e limpas. Pelo menos, tem as condições naturais para tal. Somente a energia solar seria capaz de atender cerca de dez vezes toda a demanda do País. Já a eólica tria condições de suprir o triplo da demanda atual de eletricidade. Essa constatação faz parte da segunda edição do relatório "O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade", divulgado no dia 12 de novembro passado, por um grupo de organizações não governamentais (ONGs) integrado pelo Instituto Socioambiental (ISA), Amigos da Terra - Amazônia Brasileira; Greenpeace Brasil; Rios Internacionais - Brasil; e Amazon Watch.


Torres de aerogeradores podem ser vistas em parte do litoral cearense Foto: Alcides Freire

Conforme Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace Brasil e doutor em planejamento energético, "dentre os principais benefícios ambientais da geração de eólica, está a baixa emissão de gases de efeito estufa atrelada à cadeia energética do setor. A operação dos parques não apresenta emissão de gases e a produção e transporte de pás e torres implica em emissão de apenas 9 g de CO2 - equivalente para cada kWh gerado, ou cerca de cem vezes menos do que as emissões médias de uma térmica a carvão".

Já em relação à energia solar, Baitelo, um dos responsáveis pelo relatório, destaca que, "em relação à questão ambiental, ela se destaca pela baixa emissão de gases de efeito estufa em sua cadeia energética - inferior a 30 g de CO2 eq/kWh produzido - e na possibilidade de minimização dessas emissões no caso de uma produção nacional baseada em insumos energéticos renováveis". Baitelo conta que a falta de incentivos e políticas públicas que consolidem a indústria e o mercado são os maiores entraves à expansão da energia solar no Brasil.

"Os incentivos dados à energia eólica, como o Proinfa e os leilões, ainda não foram aplicados à solar. O incentivo ao emprego de painéis solares deve vir acompanhado de um plano para a consolidação de um parque produtivo nacional, aproveitando o enorme potencial de silício e a possibilidade de produção de silício em grau fotovoltaico para os painéis", aponta Baitelo.

O representante do Greenpeace Brasil frisa que, "no caso do estabelecimento de fábricas de montagem de painéis importados no País, haveria um ganho substancial de empregos nas áreas de instalação, manutenção, mas perderia-se a possibilidade de gerar empregos na fabricação desses painéis, favorecendo a mão de obra dos países de origem, notadamente a China. São bastante evidentes as vantagens no investimento em tecnologia nacional para o desenvolvimento dos painéis solares no Brasil".

Perdas

Uma outra questão do relatório que causou grande repercussão, foi o do desperdício do sistema energético. O Brasil perde mais de 20% da energia no sistema de transmissão elétrica, ou seja, no processo de transferência das usinas até os polos consumidores. O prejuízo fica com a população que tem pago contas mais altas e sofrido com apagões constantes.

De acordo com o estudo, as perdas no sistema de transmissão de energia elétrica não chegam a 6% no Chile e, na Europa, está em 7%. O cálculo apresentado no documento é resultado de uma auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em 2007.

Desperdício

20% é o percentual de perda, no Brasil, de energia do sistema de transmissão de eletricidade, desde as usinas até os polos consumidores

Cenário desolador
Diferença abismal entre os subsídios

Dados utilizados na segunda edição do relatório "O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade" apresentam um cenário sombrio em relação à política de subsídios que prevalece no mundo em relação aos combustíveis fósseis e renováveis.

Os números, da World Energy Outlook, foram divulgados no ano passado e dizem respeito aos incentivos financeiros direcionados à produção e consumo de energia no Planeta, no período de 2007 a 2010, em bilhões de dólares. A tabela mostra claramente que, ao contrário do que normalmente apregoam os governos, e em detrimento do Planeta, não houve quase nenhum aumento em relação ao incentivo de consumo de energia de fontes renováveis.

Pelo contrário, comparando os últimos dois períodos, a discrepância foi maior. Em 2007, primeiro ano do levantamento, a proporção foi de US$ 342 bilhões para os combustíveis fósseis e apenas US$ 39 bilhões para os renováveis; em 2008, 554, contra 44; em 2009, 300 contra 60 e, em 2010, 409 contra 66.

Como se pode notar, a diferença pulou de 240 bilhões de dólares (300-60) no ano de 2009, para 343 bi da moeda norte-americana (409-66), em 2010, ou seja, aumentou em mais de cem bilhões de dólares ( precisamente, U$103 bilhões).

FERNANDO MAIA
REPÓRTER
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