BC lança medidas para estimular o crédito

O anúncio da autoridade monetária é um complemento ao que foi anunciado em julho deste ano

Escrito por Redação ,
Legenda: Recursos podem ser usados para operações de crédito ou para empréstimos ao consumidor em negócios com veículos e motos
Foto: FOTO: TUNO VIEIRA

Brasília. Em meio ao cenário de atividade econômica fraca, o Banco Central (BC) anunciou novas medidas para estimular o crédito, complementares às que foram anunciadas em julho, e que têm potencial para injetar R$ 25 bilhões no mercado. No mês passado, a autoridade monetária retirou restrições e criou incentivos com potencial de incrementar em R$ 45 bilhões o mercado de crédito. Uma das medidas anunciadas ontem foi a liberação de outra parcela do depósito que os bancos são obrigados a deixar parados no BC - os chamados depósitos compulsórios-, ampliando em R$ 10 bilhões a oferta de empréstimos.

Em outra frente, o BC restabeleceu em 75% o fator de ponderação de risco (FPR) - espécie de seguro contra calotes-, diminuindo o requerimento de capital para risco nas operações de crédito. Esse índice será usado em todas as operações de crédito de varejo, independentemente do prazo, e tem potencial para colocar outros R$ 15 bilhões na economia. Segundo o BC, essas medidas são um "complemento e aprimoramento" das anunciadas em julho. "Os ajustes consideram a fase atual do ciclo de crédito no Brasil e se inserem nos processos de revisão das medidas macroprudenciais adotadas a partir de 2010", informou.

Compulsório

No caso do compulsório, o BC ampliou, de 50% a 60%, a parcela desses depósitos que não é remunerada, desencorajando os bancos a deixar esse dinheiro parado e induzindo essas instituições a emprestar mais.

Os R$ 10 bilhões previstos com essa medida somam-se aos R$ 30 bilhões estimados com as mudanças de julho, totalizando R$ 40 bilhões o dinheiro disponível. Esses recursos poderão ser usados para compra de operações de crédito de instituições menores ou para empréstimos ao consumidor em negócios com veículos e motos.

O depósito compulsório é um dos instrumentos que o BC usa para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. O mecanismo influencia o crédito disponível e as taxas de juros cobradas. Os bancos depositam de forma obrigatória 20% de seus recursos a prazo. Por meio destes, eles são obrigados a depositar em uma conta no próprio BC parte dos recursos captados dos seus clientes nos depósitos à vista, a prazo ou poupança.

Quando reduz o compulsório, o BC dá aos bancos mais dinheiro para emprestar aos seus clientes. Isso pode ajudar a reduzir os juros bancários ou, em momentos de mais escassez de dinheiro, impedir que sequem as fontes de crédito para o consumidor e para empresas.

Veículos

Para incentivar o crédito para compra de automóveis, o BC dará um bônus para quem ampliar seus financiamentos em mais de 20% nessa modalidade, deduzindo esse valor do compulsório. Por outro lado, o banco que não aumentar em pelo menos 20% seu saldo nessas operações - na comparação com a média do primeiro semestre do ano - será apenado. Nesse caso, o BC não vai deduzir esse valor do recolhimento do compulsório.

Capital

Sobre o FPR, Caio Ferreira, chefe do Departamento de Regulação Prudencial e Cambial do BC, disse que a redução do requerimento de capital tem potencial de injetar R$ 15 bilhões na economia, dinheiro que, alavancado, pode representar oferta adicional de até R$ 140 bilhões de crédito. Ele explica que a medida deve "fortalecer algumas operações que poderiam estar injustificadamente prejudicadas pelas regras atuais", mais conservadoras. Trata-se, basicamente, do desmonte de medidas adotadas no fim de 2010 para frear o superaquecimento da economia. O BC ressalta que a liberação do dinheiro depende da vontade dos bancos de emprestar e da demanda dos consumidores em um momento de alta dos juros.

CNDL considera 'efeito limitado'

São Paulo. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) avaliam como uma "medida válida" as novas regras para depósitos compulsórios a prazo, anunciadas nesta quarta-feira, 20, pelo Banco Central, mas com "efeitos limitados". Os ajustes feitos pelo BC nas normas do compulsório representam uma liberação de R$ 10 bilhões em recursos para a economia.

Por meio de nota, a CNDL e o SPC Brasil afirmam que para o setor do varejo, os recursos vão permitir uma maior oferta de crédito e, consequentemente, uma redução das taxas de juros cobradas pelos bancos. O presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, no entanto, avalia que os efeitos são limitados, porque o orçamento das famílias já está comprometido com financiamentos passados e afetado pelo efeito da alta dos preços.

Renda comprometida

"A medida é boa, mas não é milagrosa. Dificilmente haverá um retorno desse dinheiro para a economia brasileira, porque o nível de comprometimento do salário dos trabalhadores já está muito alto. Além disso, o aumento real dos salários está muito pequeno em função da alta da inflação. Tudo isso contribui para que o consumidor tenha o poder de compra reduzido e não recorra ao crédito como quer o governo", disse Pellizzaro.

CNI

Já o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, que esteve reunido ontem com o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli, avaliou na saída do encontro as medidas anunciadas pelo BC.

"O que a indústria demanda hoje é aumento de crédito. Falta crédito e capital de giro. Com essas medidas do BC, achamos que isso pode reativar o mercado financeiro", disse.

Sobre o encontro com Caffarelli, Andrade não deu detalhes da pauta e apenas afirmou que foram apresentadas questões do setor sucroalcooleiro.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Bancos precisam emprestar, e clientes contrair

DE modo geral, as novas medidas do Banco Central são positivas, mas restam dúvidas ainda se, de fato, elas vão induzir os bancos a ofertar mais crédito e se os consumidores estarão propensos a contrair. O que se observa é que do ano passado para cá, as instituições financeiras ficaram mais seletivas na concessão de crédito. Com mais restrições, o volume de recursos emprestado desacelerou. O consumidor está também mais endividado. Temos também o aumento da inadimplência, então tudo isso também contribui. Ao mesmo tempo, estamos vivendo momentos de incerteza na economia, abalando tanto a confiança dos empresários como do consumidor. Estamos também em ano eleitoral. Isso tudo deixa as pessoas temerosas a investir e a se endividar mais. Resta aguardar como o mercado vai se comportar.

Ricardo Eleutério Rocha
Economista

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