BC elevará intervenção no mercado de câmbio

A ação começará hoje com a oferta de US$ 750 milhões no mercado futuro. Dólar chegou a quase R$ 3,78 na sexta

Escrito por Redação ,
Legenda: Escalada do dólar é resultado da perspectiva de aumento do juro nos Estados Unidos, que desvaloriza as demais moedas, especialmente de países emergentes

São Paulo. Após o real perder valor pelo sexto dia seguido e o dólar fechar em alta de 1,01% na última sexta-feira (18), a R$ 3,7369 (chegou a quase R$ 3,78 durante o dia), o Banco Central (BC) anunciou que reforçará a intervenção no mercado cambial. A ação começará hoje (21) com a oferta de US$ 750 milhões no mercado futuro. A instituição ressalta que atuações são "discricionárias" e ocorrerão caso seja necessário.

Com a estratégia, há a expectativa de que a tendência de desvalorização do real seja amenizada, ou pelo menos haja menos volatilidade nos negócios. A escalada do dólar não é exclusividade do Brasil e é resultado da perspectiva de aumento do juro nos Estados Unidos, o que atrai para o mercado americano capitais de todo o mundo e desvaloriza as demais moedas, especialmente de países emergentes.

Em reação a esse movimento, a intervenção do BC ocorrerá com a oferta de novos contratos de swap cambial - operação no mercado futuro que equivale à venda de dólares. No leilão programado para a manhã de hoje, serão oferecidos 15 mil novos contratos. O volume é três vezes maior que o visto nas ofertas diárias que vinham sendo realizadas pelo BC para renovar contratos que vencerão em junho.

Com isso, o valor ofertado pelo BC passará de US$ 250 milhões diários para US$ 750 milhões. "O BC ressalta que os montantes das ofertas adicionais de swap poderão ser revistos e se reserva o direito de realizar atuações discricionárias, caso seja necessário", afirmou a instituição.

Em nota, o banco ressalta que a atuação no câmbio é separada da política monetária, ou seja, da calibragem da Selic para controlar a inflação. O texto cita que eventuais impactos de choques externos sobre a inflação tendem a ser minimizados no Brasil pelo ainda elevado grau de ociosidade na economia e pelas expectativas de inflação ancoradas. Ou seja, dólar alto não deve gerar inflação no País, diz o BC.

O anúncio da nova ação no mercado ocorreu após uma sessão volátil e tensa. Além do cenário externo pautado pelos EUA também pesaram discussões e incertezas sobre o cenário eleitoral no Brasil. Pressionados pelas cotações que se aproximavam de R$ 3,78, muitos operadores e analistas cobraram intervenção mais assertiva do BC.

Para economistas, a desvalorização do real segue a tendência mundial, mas que o cenário doméstico tende a ganhar mais relevância. "Nos próximos meses, teremos o ingrediente das eleições, que pode influenciar o risco Brasil e o câmbio", diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra. "A depender de quem estiver na frente quando a campanha começar, não é impossível pensar em dólar a R$ 4."

Impasse fiscal

A crise no dólar ainda poderá ser ampliada pelo problema fiscal no Brasil, segundo o coordenador do recém-criado Observatório de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), o economista Manoel Pires. Ele avalia que, se o cenário externo de incertezas aumentar, a questão fiscal será vista como urgente para o Brasil reduzir a sua vulnerabilidade.

"O problema fiscal amplifica o efeito da crise externa. E a depender da incerteza eleitoral, os efeitos da alta do dólar podem ser potencializados pelo impasse fiscal", adverte Pires, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Para ele, quem ganhar a eleição, seja de esquerda ou direita, e não fizer reforma do Orçamento, perde a capacidade de governar.

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