BC eleva taxa básica de juros para 12,75% ao ano

Com o aumento de 0,50 ponto percentual, a taxa Selic passa a ter seu maior valor desde janeiro de 2009

Escrito por Redação ,

São Paulo. O Banco Central confirmou as apostas e elevou ontem (4) a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual, para 12,75% ao ano. Foi a quarta alta seguida da taxa. Com a elevação, a Selic passa a ter seu maior valor desde janeiro de 2009. A inflação resistente, que deve ganhar força após a recente paralisação de caminhoneiros e depois de reajustes em energia, transporte e combustíveis aprovados no início deste ano, é citada por analistas como o principal balizador para a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - índice oficial de inflação - acumula avanço de 7,14% até janeiro, acima do teto da meta do governo, que é de 6,5%.

O último boletim Focus, do Banco Central, mostrou que a perspectiva de alta do IPCA neste ano subiu novamente, para 7,47% em 2015, acima da faixa superior da meta do governo, de 4,5% com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos. Para 2016, a projeção é de 5,50%. Após a reunião desta quarta, Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, acredita em aumento de 0,25 ponto percentual em abril. "O BC deve deixar a porta aberta para nova alta por causa da questão fiscal. Joaquim Levy (ministro da Fazenda) tem anunciado medidas importantes na tentativa de colocar as contas públicas em uma trajetória sustentável para evitar perda de grau de investimento do Brasil (selo de bom mercado para se investir)", diz.

A corretora Concórdia também não descarta mais um aumento de juros em abril, embora acredite que BC possa manter a taxa inalterada até dezembro após o aumento desta quarta.

"Em seu comunicado, o BC deve chamar a atenção para o fato que de a política fiscal será um fator importante de controle da inflação no futuro, já sinalizando, dessa forma, o encerramento do atual ciclo de altas de juros", avalia.

Combate à inflação

Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), a decisão do Copom "é um sinal de que o Banco Central mantém uma postura mais agressiva no combate à inflação, principalmente neste momento em que o realinhamento de muitos preços (luz, transportes, combustíveis, IPTU, matrículas etc.) continua a colocar a inflação mensal (de janeiro e fevereiro) acima de 1%". Em nota, a Fecomércio-SP diz que, "mesmo com essa elevada taxa, os juros reais no início deste ano estão negativos, pois a inflação do 1º bimestre atinge quase 20%. Na avaliação da Entidade, é um número elevado em qualquer circunstância, mas é mais preocupante na atual conjuntura de desaquecimento econômico".

Já na avaliação da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), "a taxa Selic é mais um ingrediente a alimentar a ameaça de recessão no Brasil. Sem demora, precisamos de uma política de juros e de uma carga tributária compatíveis com as vigentes nos países com os quais competimos".

O presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Levi Ceregato, por sua vez, diz, em nota enviada à imprensa, que "recebeu com desagrado a nova alta na taxa Selic". Para Ceregato, "é preocupante a rapidez com que o cenário econômico e político está se deteriorando".

PIB

A atividade econômica enfraquecida é o que limita novas altas da Selic neste ano. No terceiro trimestre de 2014, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 0,1%, abaixo das expectativas. Neste ano, o País deve ter retração de 0,58% do PIB, ainda de acordo com o Focus. A indústria continua sendo um peso sobre a atividade em geral, com contração de 0,72% no ano, segundo o boletim. A expectativa é de que a economia melhore em 2016, com crescimento de 1,50%, de acordo com o Focus.

CDB e Fundos ampliam vantagem sobre poupança

São Paulo. Com a decisão do Banco Central de elevar nesta quarta-feira (4) o juro básico (taxa Selic) em 0,50 ponto percentual, para 12,75% ao ano, os aplicadores devem ficar atentos quanto aos seus investimentos. A tradicional poupança perde atrativo em relação a outros investimentos. A estimativa é do professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Samy Dana.

"A poupança amargou e pode continuar amargando poder de compra negativo", explica o professor ao comentar que a inflação para este ano já está prevista em 7,5% e isso deve ser levado em consideração antes de definir em qual produto aplicar.

Mesmo com remuneração de 80% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), o CDB leva vantagem sobre a caderneta de poupança.

Enquanto o rendimento da poupança fica em 7,44%, o CDB aplicado por um período de até seis meses tem remuneração de 7,70%. Se o período for elevado para mais de 24 meses, o rendimento sobe para 8,45%, já que a alíquota do Imposto de Renda sobre os juros obedece a uma tabela progressiva.

Renda fixa

Com taxa média da TR (Taxa Referencial), que compõe a remuneração da poupança, em 0,10 ponto percentual em março, a caderneta perde também para os fundos de renda fixa. Considerando uma taxa de 1,5% ao ano de administração, para resgate em até seis meses o fundo terá rendimento de 8,46% e com resgate acima de 24 meses, o retorno será de 9,28%. A poupança, por sua vez, tem rendimento de 7,44% ao ano.

Letras de crédito

No caso da LCI/LCA (Letras de crédito imobiliário e do agronegócio), a taxa de retorno fica ainda mais atrativa. De acordo com o professor, se o investidor conseguir uma taxa de 65% do CDI, a remuneração será de 8%. Se a taxa for de 90% do CDI, o retorno sobe para 11,25%.

O Tesouro Direito (Letra Financeira do Tesouro), com custo de 0,3% de custódia e zero de corretagem, tem retorno em até seis meses de 9,65% e em 24 meses de 10,58%.

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