BC eleva a taxa básica de juros para 11,75%

O aumento da Selic obteve apoio de analistas do setor financeiro, mas foi criticado pela indústria

Escrito por Redação ,

São Paulo/Brasília. Diante de um cenário de inflação resistente, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar nesta quarta-feira (3), a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual (pp), de 11,25%, para 11,75% ,ao ano. O aumento já era esperado pelo mercado, apesar de alguns agentes preverem uma elevação ainda mais intensa, de 0,75 pp.

"A decisão de aumentar o ritmo de alta ocorre após o real ter se depreciado em 4%, contra o dólar, desde a última reunião do Copom, no fim de outubro", afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.

No fim de outubro, três dias após as eleições, o Copom promoveu uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica, surpreendendo o mercado. Na pesquisa Focus do BC, divulgada na segunda-feira (1º), as projeções apontavam manutenção do ritmo de alta, considerando os cerca de 100 analistas consultados. Entre os cinco que mais acertam as projeções, no entanto, a estimativa já era de um aumento de 0,50 ponto percentual.

Desde o mês passado, o BC adotou um discurso mais duro, ao afirmar que não será "complacente" com a inflação e que pode "recalibrar" a política monetária quando e se achar necessário. Assessores da presidente Dilma Roussef avaliam que o momento é de dar um "choque de credibilidade" na economia, mostrando que o governo não vai tolerar inflação alta e irá reequilibrar as contas públicas.

"A nova equipe econômica vai tentar fazer os ajustes logo, em vez de ir fazendo gradualmente, ao longo do próximo ano. Mas o aumento de juros desfavorece a atividade econômica, principalmente a de varejo", afirma Eduardo Velho, economista-chefe da gestora de recursos Invx Global.

"A dinâmica de juros e do varejo está sinalizando uma tendência ruim da atividade econômica no terceiro e quarto trimestre do próximo ano", complementa. No terceiro trimestre do ano, o PIB (Produto Interno Bruto) do País cresceu 0,1%, saindo, em tese, da recessão técnica em que se encontrava.

Avaliações

Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) defendeu a adoção de uma política fiscal mais rigorosa para que o combate à inflação tenha menor impacto sobre a atividade produtiva e o emprego. "Neste momento, a preocupação do Copom é necessária, porque a inflação continua próxima do limite máximo da meta e há pressões por novos aumentos de preços, vindas das perspectivas de desvalorização da taxa de câmbio, dos reajustes das tarifas públicas e da elevação dos serviços", cita a CNI.

Já a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) criticou a nova alta da taxa Selic. "Ao utilizar apenas a taxa de juros como instrumento de controle da inflação, o governo erra e derrubará ainda mais a atividade econômica, que já se encontra anêmica", afirma o presidente da entidade, Paulo Skaf.

As projeções atuais de inflação mostram que o IPCA em 12 meses pode fechar 2014 no teto da meta, de 6,5%.

Dentro e fora do governo, já há quem avalie que o índice pode ficar na casa de 7%, no início de 2015.

Opinião do especialista

Governo busca combater a inflação no País

O aumento da taxa básica de juros (Selic) em mais 0,5 ponto percentual, saltando de 11,25% para 11,75%, ao ano, é a reafirmação do governo de que está disposto, de fato, a combater a inflação e a manter o controle da economia do País. É um sinal claro do compromisso de controle do processo inflacionário a qualquer custo. E faz isso porque a economia está recuando muito rapidamente, os preços das commodities estão caindo e os preços (dos produtos e mercadorias) continuam subindo. O importante nesse momento é percebermos que fosse um aumento de 0,25 ponto ou 0,50 ponto, como foi, para ambos há explicações e justificativas mais técnicas, do que políticas. Quaisquer desses dois índices são justificáveis tecnicamente, apesar de sabermos que pressão políticas sempre há. Para mim, a alta dos preços está relacionada à pressão dos custos das empresas.

Ênio Viana Arêa leão
Vice-presidenteTécnico do IBEF/CE

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