BC considera acabar com parcelamento sem juros

A autoridade monetária não decidiu ainda sobre o tema, mas diz que é necessário repensar o modelo de cobrança

Escrito por Redação ,
Legenda: Os clientes que atrasarem a fatura por mais de um mês deixarão o rotativo e passarão para a modalidade de parcelamento
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

Davos. O Banco Central (BC) vai divulgar em breve uma norma para transformar o crédito rotativo. A informação é do presidente da autoridade monetária brasileira, Ilan Goldfajn, que discutiu o assunto em encontro com representantes de empresas do setor e banqueiros durante sua passagem por Davos, na Suíça. A ideia é mexer no crédito rotativo no segundo mês e no crédito parcelado.

A redução dos juros cobrados nos cartões é uma das medidas nas quais o governo aposta para reduzir o endividamento das famílias e estimular a economia. "A intenção da norma é elevar a queda dos juros", acrescentou em entrevista coletiva ao encerrar sua participação no Fórum Econômico Mundial, ontem (19). Questionado se o governo poderia mudar as regras para impedir o parcelamento de compras no cartão de crédito sem a incidência de juros, ele não afastou a ideia. "A gente não adianta medidas. A gente vai pensar. Não quero adiantar nada nesse sentido", afirmou o presidente do Banco Central.

Hoje, a principal forma de pagamento escolhida pelos consumidores é o crédito parcelado sem juros. Assim, para se proteger da inadimplência, as administradoras cobram juros muito elevados no crédito rotativo. Segundo dados do BC, eles chegam a quase 500% ao ano. Para tentar reduzir esse valor, a autoridade monetária quer fazer uma ampla discussão com bancos, administradoras de cartões e especialistas no mercado.

"Tem que repensar o modelo (de cobrança nos cartões). Ele funciona, mas tem muitos subsídios cruzados. Uma parte (dos consumidores) paga pela outra", disse Goldfajn.

A mudança, no entanto, tem que ser de forma "sustentável", de acordo com Goldfajn. "Não dá para mudar um pedaço sem mudar o outro, por isso temos que pensar em conjunto", considerou. "A gente gostaria que cada parcela tivesse o seu próprio (critério), sem que uma parte precisasse subsidiar a outra", continuou presidente do BC.

Medida

O governo já negociou um acordo pelo qual os clientes que atrasarem as faturas por mais de um mês deixarão de ser enquadrados no crédito rotativo para ingressar na modalidade de parcelamento. Isso significa que, com um mês de atraso, o cliente pagará as taxas do rotativo. No entanto, se não conseguir fazer o acerto a partir do segundo mês, ele passará a pagar as taxas de parcelamento, que também são altas, mas menores que as do rotativo.

A medida depende de regulamentação no Conselho Monetário Nacional (CMN). "O cartão tem uma medida já anunciada e tem uma discussão que vai continuar depois. A gente tem de repensar um pouco o nosso modelo. O modelo funciona, mas a gente acha que pode melhorar ao longo do tempo", disse Goldfajn. "A norma vai sair. Depois, a gente vai repensar junto com o sistema. Vamos repensar como a gente pode melhorar ele ao longo do tempo", disse.

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