Atividade econômica do Ceará recua 1,73% no 1º trimestre

Estado, entretanto, avançou 1,3% entre o trimestre encerrado em novembro e o iniciado em dezembro

Escrito por Yohanna Pinheiro - Repórter ,
Legenda: Dados foram divulgados pelo coordenador da Gerência de Estudos em Fortaleza, Afonso Jucá, e pelo chefe do Dep. Econômico do BC, Tulio Maciel
Foto: Foto: Fabiane de Paula

O Índice de Atividade Econômica Regional - Ceará (IBCR-CE) acumulou queda de 1,73% no primeiro trimestre deste ano frente a igual período do ano passado na série observada, isso é, sem ajustes. No comparativo entre os meses de março de 2016 e deste ano, o recuo foi de 2,02%, divulgou nessa sexta-feira (19) o Banco Central (BC). A autoridade monetária fez uma revisão da metodologia do indicador - considerado como uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) -, incorporando dados adicionais de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Dessa forma, os dados de fevereiro e janeiro, nessa mesma base de comparação anual, se tornaram negativos: -2,34% e -0,84%, respectivamente. Antes das mudanças, o mês de fevereiro havia demonstrado avanço de 1,4% e o de janeiro, 2,8%.

Na passagem de fevereiro para março deste ano, os dados do BC mostram que a economia cearense registrou recuo de 1,86%, considerando informações dessazonalizadas (ajustadas com base em fatores típicos de determinadas épocas do ano).

O Banco Central também mostrou que os indicadores cearenses foram piores que a média nordestina, esboçada pelo Índice de Atividade Econômica Regional - Região Nordeste (IBCR-NE). Entre março de 2016 e igual mês deste ano, houve avanço de 1,89% na região, segundo a série observada. Nos três primeiros meses deste ano, a taxa acumula -1,25%. Já entre fevereiro e março deste ano, o avanço foi de 1,67%, considerando a série dessazonalizada.

Boletim Regional

No comparativo entre o trimestre que vai de dezembro do ano passado a fevereiro deste ano e o trimestre encerrado em novembro de 2016, a economia cearense, entretanto, esboçou reação e cresceu 1,3%, de acordo com o Boletim Regional divulgado ontem pelo Banco Central, em Fortaleza. Esse resultado foi melhor que o da Bahia e de Pernambuco, os outros dois estados nordestinos que são analisados no levantamento. Cada um deles teve recuo de 1,1%.

O resultado do Estado contribuiu para que o indicador relativo ao Nordeste (IBCR-NE) ficasse estável nos três meses até fevereiro, depois de recuo de 0,2% no trimestre encerrado em novembro. Conforme o documento, os dados sugerem uma acomodação da atividade econômica no Estado durante o período. No trimestre anterior, o indicador havia retraído 1,1%, no mesmo tipo de comparação, considerados dados dessazonalizados.

O desempenho da atividade econômica cearense também foi superior ao da média nacional (IBC-BR), que cresceu 0,8% no mesmo período. Os resultados divulgados pelo Banco Central estão dentro da expectativa de estabilização e gradual retomada do crescimento ao longo de 2017, mas ignora os efeitos gerados sobre a bolsa de valores e o câmbio após a deflagração da crise política desencadeada pela delação de Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, e que envolvem diretamente o presidente Michel Temer na última quarta-feira (17).

De acordo com o coordenador da Gerência Técnica de Estudos Econômicos do Banco Central em Fortaleza, Afonso Eduardo Jucá, a perspectiva é que o desempenho da economia no Estado nos próximos trimestres seja favorecido pela expansão do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), onde o início de operação da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) já impacta as exportações do Estado e a também própria estrutura produtiva local.

"(A CSP) é um investimento muito grande no Pecém e várias empresas estão investindo ou com intenção de investir na região", destacou o coordenador. "Fica evidente que o Ceará, a partir da inauguração da CSP, mudou de patamar. Acho que os próprios indicadores de PIB (Produto Interno Bruto) regionais mais para frente vão vir mais promissores. O industrial com certeza vai aumentar, e a participação no PIB do Nordeste e do Brasil também deve crescer", considerou a respeito dos impactos positivos que o empreendimento deve gerar sobre a economia do Ceará.

Reação

Além do impacto da Companhia Siderúrgica do Pecém na atividade econômica local, o coordenador da Gerência Técnica de Estudos Econômicos do Banco Central aponta que o resultado positivo da produção do Estado também foi puxado pelo crescimento no setor de calçados e couros - devido principalmente à melhora do cenário de exportação no período investigado. Outro segmento que também impactou positivamente o resultado, segundo aponta Jucá, foi a indústria têxtil, com produção voltada ao mercado interno.

Conforme avalia o Banco Central, os investimentos concluídos e em maturação na geração de energia eólica e na expansão do Cipp, assim como a concessão do Aeroporto Internacional Pinto Martins à empresa alemã Fraport, constituem inversões consideráveis no arcabouço produtivo do Estado. Associados às perspectivas de continuidade da melhora da confiança e de consolidação gradual do crescimento da economia nacional, os fatores delineariam um cenário futuro positivo.

Jucá ponderou que há um lado negativo em relação às perspectivas econômicas no Ceará por conta da quadra chuvosa não ter sido suficiente para fazer a recarga dos açudes do Estado, o que pode comprometer a produção industrial futuramente. "Mas já se tem uma iniciativa para implantar uma usina de dessalinização, em perspectiva", pontuou, destacando que o projeto já é considerado pelo governo estadual como uma das soluções para a estiagem.

Opinião do especialista 

Crise política pode travar expansão

O problema maior hoje é se essa crise política vai ser solucionada rapidamente ou não. Se a popularidade do presidente Michel Temer, que já era frágil, se tornar mais ainda, fica insustentável. Não tenho dúvida que isso implica no não sucesso da retomada econômica e abala a confiança do mercado. Neste cenário, os investimentos em todo o País, e também no Ceará, tendem a ficar estacionados. O componente novo que surgiu esta semana é de se preocupar, pois estávamos experimentando um período de retomada das expectativas de mercado. Os investidores e empresários estavam melhorando a expectativa futura e se sentindo mais confiantes em investir. Não é interessante que o observado no outro impeachment (da ex-presidente Dilma Rousseff) se repita, pois se o presidente perder a legitimidade e querer se manter a todo custo no cargo, o Congresso e todo o País vão estacionar esperando uma resolução da questão.

Nicolino Trompieri - Economista do Ipece

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